domingo, 28 de janeiro de 2018

Onde nasceu Rondon, onde nasceu Rondônia


Memorial Rondon em Mimoso no Mato Grosso - Foto: José Calixto
Passa-se a entender mais o mito e sua obra, quando se conhece o lugar do seu berço, do seu nascimento, ou seja, seu lar. Rondon nasceu em um vilarejo chamado Mimoso no interior do estado do Mato Grosso. Um lugar simples, de pessoas humildes e cativantes. Um ambiente de paisagens cênicas , parte em pantanal, bioma do serrado e um pouco além de serras. 
Marechal Cândido Mariano da Silva Rondon.
Mimoso é um distrito do município brasileiro de Santo Antônio de Leverger, no estado de Mato Grosso. De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), sua população no ano de 2010 era de 2 763 habitantes, sendo 1 511 homens e 1 252 mulheres, possuindo um total de 1 258 domicílios particulares.Foi criado pela lei estadual nº 1.178, de 17 de dezembro de 1958.

Expedição Roosevelt-Rondon em 1914 - Rio da Dúvida - Rondônia.
Passamos a imaginar que ali Rondon teve sua inspiração para desbravar o mundo e fincar nos anais a sua história. Uma história que se confunde com a do Brasil e da Amazônia, com facetas corajosas de um verdadeiro mito.
O empenho e a atuação do Marechal Cândido Mariano da Silva Rondon, foi fundamental para revelar aos centros “políticos e desenvolvidos” do Brasil uma natureza fantástica, localizada no longínquo mundo amazônico do início do século XX, palco de outras inúmeras aventuras e personagens que desafiaram as adversidades que a floresta impõe aos invasores. Árvores gigantescas e retorcidas, rios, lagos, cachoeiras, animais, mitos e lendas que descortinaram uma realidade cultural profunda com temperos, aromas exóticos e sedutores quase completamente desconhecidos pelo povo brasileiro. Enganam-se os que associam à Comissão Rondon somente a construção de uma linha telegráfica entre Cuiabá, capital do Mato Grosso e Santo Antônio das Cachoeiras, localidade até então inconveniente para ocupação humana.

Obelisco no exato local onde nasceu Rondon 
Alguns, ainda seduzidos por pobres polêmicas, buscam diminuir a trajetória de Cândido Rondon focando sua atuação como “matador de índios ou protetor dos índios”. Afirmaria, com toda tranquilidade, que esse é o debate pobre e fútil sobre nosso maior personagem que serve somente para ridicularizar quem o promove. Rondon liderou uma expedição épica, inimaginável, composta por profissionais com grande experiência e várias especialidades que desenvolveram estudos na área da geologia, botânica, cartografia, hidrografia, topografia e geografia, além de estudos sobre as nossas fronteiras, produzindo farto material sobre essa região da Amazônia. A destemida expedição de Cândido Rondon deve, no mínimo, compor o cenário das grandes expedições filosóficas e científicas que percorreram o interior do Brasil e os rios amazônicos a partir do século XVIII. Condamine, Alexandre Rodrigues Ferreira, os austríacos Spix e Martius, o barão de Langsdorf, os ingleses Bates e Wallace, Dr. João Severiano da Fonseca e mais recentemente Claude Lévi Strauss compõem parte dessa galeria de grandes exploradores e pesquisadores.
Rondon foi muito além destes, pois carregava a missão de integrar um território e suas gentes ao restante do Brasil. Foi muito além das questões telegráficas e de fronteiras, dos estudos dos três reinos naturais: a fauna, a flora e o mineral. Rondon foi além das tentativas de integração dos povos que viviam em um mundo abandonado e esquecido na escuridão das florestas chuvosas, quentes e úmidas. Ele levou e representou os valores de uma pátria, carregou em si um Brasil inexistente na maior parte de seus gestos o que havia de melhor em nosso país naquele momento. É tarefa complicada para qualquer historiador encontrar um brasileiro com tamanha envergadura, espírito cívico, disposição e coragem. Cândido Rondon não se contentou em revelar ao mundo as “Terras de Rondônia” como afirmou Roquete Pinto ou acompanhar o ex-presidente americano Roosevelt em sua expedição a região do atual estado de Rondônia. Ele percorreu a maior parte do território nacional em missões que somente os “homens gigantes” enfrentavam. Por isso, o mesmo se destacou nacionalmente e internacionalmente por suas preocupações com os povos indígenas, que sofriam constantes massacres sem a mínima atuação do Estado em seu socorro. Como criador do Serviço de Proteção ao Índio – SPI em 1910, instituição que se transformou em FUNAI em 1967, Fundação Nacional do Índio, Rondon procurou atuar na proteção e defesa dos povos e culturas indígenas.
 
Memorial Rondon em Mimoso - MT - Foto: José Calixto


 Cândido Rondon é indiscutivelmente o maior sertanista brasileiro de toda nossa história, é esse o foco que deveríamos investigar, pois sua atuação ainda ecoa sobre todos nós que moramos na porção ocidental do Brasil. A maioria dos estudos feitos sobre nosso mais conhecido personagem histórico nos informa sobre sua preocupação em preservar a cultura e as tribos indígenas.  Se houve conflitos, precisamos lembrar que Rondon atuou em uma época onde a cultura existente pregava uma lógica desenvolvimentista que elegia os povos indígenas como inimigos ou empecilho ao desenvolvimento urbano e “civilizado” da época, um período onde era comum crer na máxima: “índio bom é índio morto”. Rondon foi um verdadeiro brasileiro, em suas veias o sangue índio era evidente, sua brasilidade era enraizada ao tempero e ritmo de sua gente, é contra a lógica de genocídio que ele atua e milita. Seu ideal é o de um militar das “grandes causas humanitárias”. Em função dessa realidade, Rondon é um dos poucos personagens “oficiais” da nossa história que realmente merece ser promovido ao panteão de grande herói nacional.

Cena típica de Mimoso - Cavalos no cerrado e pantanal. Foto: José Calixto
Cândido Mariano da Silva Rondon teve sua origem humilde. Filho de um tratador de animais, descendendo de espanhóis e índios terenas, de bandeirante, e bororos, agigantando-se em nossa história, destacando-se como militar, pacificador, cientista, construtor de estradas, de linhas telegráficas e inúmeros outros serviços prestados ao País. Rondon constituiu-se um símbolo da vontade humana, norteado pela religião que abraçou, baseada no amor à humanidade, tendo como seu lema: “morrer se preciso for, matar nunca”. Nasceu Cândido Mariano da Silva Rondon a 5 de maio de 1865 na Sesmaria de Morro Redondo, nos Campos de Dourados, Estado do Mato Grosso, filho de Cândido Mariano da Silva e de sua esposa Dona Claudina Evangelista. Anos depois de seu nascimento acrescentou ao seu nome o sobrenome de seu tio e padrinho, Manuel Rondon, com a devida autorização do Ministério da Guerra. Marechal Rondon - Comissão em 1909 - Mato Grosso.

Graças a seu esforço e à sua capacidade nos estudos, o jovem natural de Campos de Mimoso, aos sete anos foi conduzido pelo tio a Cuiabá, iniciando seus estudos no Liceu Cuiabano e, já aos dezesseis anos, conseguiu um lugar de Professor do Ensino Primário na mesma instituição de ensino. Porém, seu espírito inquieto desejava maior dinâmica, o moço tinha vontade de ingressar na carreira militar e eis que em 26 de novembro de 1881 integrou-se no 3° Regimento de Artilharia à Cavalo e logo a seguir passou a frequentar a Escola Superior de Guerra, na Capital Federal. Figurou desde logo nos quadros de honra da Escola e pelo seu valor, já como 2° Tenente foi convidado para ministrar, na própria Escola, as cadeiras de Astronomia e Mecânica Racional.  Rondon, a exemplo de uma lista imensa de outros sertanistas, demonstrou incrível coragem e determinação ao atuar em regiões tão inóspitas no interior do Brasil, deve ser citado ao lado de Antônio Rolim de Moura Tavares, primeiro governante da Capitania do Mato Grosso. Domingos Sambucet, Engenheiro que iniciou as obras do Real Forte Príncipe da Beira e faleceu de malária. Ricardo Franco de Almeida Serra, Engenheiro que trabalhou no Real Forte Príncipe da Beira após o falecimento de Sambucet. Francisco de Melo Palheta, bandeirante que introduziu as primeiras mudas de café no Brasil e percorreu o trajeto entre Belém do Pará e Vila Bela da Santíssima Trindade no Mato Grosso em meados do século XVII. Luis de Albuquerque Melo Pereira e Cáceres, quarto Governador da Capitania do Mato Grosso, foi na sua gestão que se construiu o Forte Príncipe da Beira. Trabalhadores dos seringais e da Estrada de Ferro Madeira-Mamoré. Francisco e Apoena Meireles, grandes sertanistas e indigenistas. Entre os vários títulos e homenagens, Marechal Rondon foi indicado ao Prêmio Nobel da Paz no ano de 1925. O propositor de tal homenagem foi nada mais e nada menos que o maior físico da história da humanidade, Albert Einstein. Mais tarde, na década de 50, foi indicado apontado. Nos anos de 1892 e 1898 ajudou a construir as linhas telegráficas de Mato Grosso a Goiás. Entre 1900 e 1906 dirigiu a construção de mais uma linha telegráfica, ligando Cuiabá e Corumbá, alcançando as fronteiras do Paraguai e Bolívia. No início do século XX encontrou as ruínas do Real Forte Príncipe da Beira, uma das maiores relíquias históricas de Rondônia. Em 1907, no posto de major do Corpo de Engenheiros Militares, foi nomeado chefe da comissão que deveria construir a linha telegráfica amazônica, e que foi denominada “Comissão das Linhas Estratégicas e Telegráficas de Mato Grosso ao Amazonas”, também conhecida como Comissão Rondon”. Seus trabalhos desenvolveram-se de 1907 a 1915. Em 1910 organizou e passou a dirigir o Serviço de Proteção aos Índios (SPI), criado em 7 de setembro de 1910. Em 12 de outubro de 1911 inaugurou a estação telegráfica de Vilhena, na fronteira do estado do Mato Grosso e Rondônia. Em 1914 participou da denominada Expedição Científica Roosevelt-Rondon, junto com o ex-presidente dos Estados Unidos da América, Theodore Roosevelt. Realizando novos estudos e descobertas na região. Durante o ano de 1914 a Comissão Rondon construiu em oito meses, 372 km de linhas e inauguraram outras cinco estações: Pimenta Bueno, Presidente Hermes, Presidente Pena, Jaru e Ariquemes. Em 15 de dezembro de 1914, foi feita a ligação dos fios da Seção do Sul com os da Seção do Norte, nas imediações da futura Estação Presidente Pena, atual município de Ji-Paraná e em sessão solene realizada na Câmara de Vereadores de Santo Antônio do Madeira, a 1° de janeiro de 1915, comemorava-se a inauguração da gigantesca missão que lhe fora conferida, na ligação dos fios de Cuiabá àquela localidade, bem como o ramal de Guajará Mirim.  Por tantos e inúmeros feitos, em 5 de maio de 1955, data de seu aniversário de 90 anos, recebeu o título de Marechal do Exército Brasileiro concedido pelo Congresso Nacional. Homenageando o velho Marechal, em 17 de fevereiro de 1956, o Território Federal do Guaporé teve seu nome alterado para Território Federal de Rondônia. O grande líder e “cacique branco” como era denominado por alguns índios, veio a falecer no Rio de Janeiro, aos 92 anos, em 19 de janeiro de 1958.
Se a chegada da expedição colombina às Antilhas, em 1492, contribuiu para ampliação do horizonte geográfico e cultural dos europeus no final do século XV, uma vez que as terras recém-descobertas tornaram-se uma gigantesca periferia do mundo, as várias expedições conquistadoras, que trilharam o Novo Mundo ao longo do século XVI, revelaram, por seu turno, que nesta imensa “margem do mundo”, havia outras margens. Foi assim que, a partir das Antilhas, as regiões de terra firme do continente americano foram sendo conquistadas. No primeiro momento, foi a região mesoamericana, tendo a derrota da Confederação Asteca como seu principal triunfo. No segundo, já a partir do que hoje é o Panamá, foi a vez dos Andes Centrais, e como prêmio, o Império Inca. Nesse processo de conquista colonial que a região amazônica tornou-se uma das margens do Novo Mundo, nada  um vasto desconhecido. Porém, um vasto desconhecido que, ao contrário do que ocorreu com o Vale Mexicano ou com os Andes Centrais – “margens” que se tornaram “centros” do mundo colonial -, continuou nessa condição, vindo até os dias de hoje. Sendo uma das “margens” – limites – do Novo Mundo, a Amazônia, como região ainda bastante desconhecida pelos europeus, tornou-se, ao lado de outras “margens americanas”, um alimento para imaginação coletiva. Em suma: à medida que a conquista europeia prosseguia, o empirismo do devassamento era acompanhado por expectativas e projeções oriundas de um universo mental carregado de componentes de longa duração e outros simbolismos. Desejos da conquista e colonização são escravos das canoas, e estas dos rios. Pelas estradas naturais da Amazônia seguiram bandeirantes, índios, missões, moções, entradas, sertanistas e quilombolas. Os sertões são transformados em paisagens movediças. Estão em todos os lugares. Ressurgem ou desaparecem. Tantos lugares de passagem das narrativas que enfatizam a dominação como portos seguros para quem procura proteção. Mapas e desenhos consolidam a dominação. Cenários ocultam e ao mesmo tempo desvelam os sertões. Diante de muitas incertezas e obscuridade sobre a região Amazônica em Rondônia, o presidente da República Afonso Pena, incumbiu um homem, que trazia consigo o espírito dos povos indígenas, o respeito pela floresta dos quilombolas, e a coragem e determinação bandeirantes e exploradores, estes personagens do passado, Mas, que se faziam presente em atitudes positivas no que tange ao percurso doloroso que Rondon travou em meio ao vasto desconhecido, trazendo após anos de trabalho, um pouco da floresta ao povo brasileiro, que ainda era povoado por lendas, mistérios e vazios científicos. Marechal Rondon, foi em seu tempo o homem certo, para uma missão incerta. O militar aguerrido, que evita a guerra contra índios. O positivista convicto em busca da Ordem e do Progresso.
Em 1907, o oficial do corpo de engenharia militar, Cândido Mariano da Silva Rondon foi encarregado pelo governo federal de implantar a linha telegráfica entre Mato Grosso e Amazonas (atualmente parte de Rondônia), tendo como extremos a cidade de Cuiabá e Santo Antônio do Rio Madeira, povoado que se localizava a 7 km acima da atual capital de Rondônia.
E por ele, que nosso ESTADO ganha o seu nome, é por sua história também, que seremos lembrados com a forja dos destemidos pioneiros. Que possamos perpetuar para todo o sempre para as gerações dos Rondonienses e Rondonianos parte de nossa identidade.

Aleks Palitot
Professor e Historiador
 


sábado, 27 de janeiro de 2018

31 anos da Morte do Teixeirão

O dia 4 de janeiro, é um dia importante para a história de Rondônia. Acredito que é a data mais marcante para todos os pioneiros que acreditaram e lutaram na década de 70 do século XX, quando da criação do nosso Estado de Rondônia.
No dia 4 de janeiro de 1982 foi realizada, no Palácio Presidente Vargas, em Porto Velho, a cerimônia de instalação do Estado e posse do Jorge Teixeira de Oliveira no cargo de governador do Estado de Rondônia.

Pode ser considerado como o período de criação do estado de Rondônia, aquele situado entre 22 de dezembro de 1981, dia que o presidente da República General Figueiredo sancionou a lei que cria o Estado até o dia da criação da Assembleia Legislativa de Rondônia em 6 de agosto de 1983.
Jorge Teixeira foi uma destas forças da Natureza que de tempos em tempos aparecem entre os homens e deixam sua marca indelével na História. Só que esse grande homem, personagem de nossa história, parece no momento, ter sua história esquecida, sua passagem por nossas terras ser apagada, e todo o seu legado deixado de lado, aliás para trás. A cerca de quatro anos, o Exército Brasileiro, a Maçonaria, a Fecomércio, Governo de Rondônia e Fundação Rede Amazônica, unidos se empenharam na revitalização do Memorial Jorge Teixeira na antiga Residência Oficial dos Governadores em Porto Velho. Por isso, mesmo diante de tanto descaso das autoridades, ainda tenho esperança na restauração e preservação de outros espaços históricos em Rondônia.


A minha nota triste, vai para os responsáveis pela infeliz escolha, da última gestão do executivo municipal de Porto Velho, de colocar um monumento de arte moderna de tamanho considerável, em frente a estátua do fundador do Estado de Rondônia. É tão notório que a obra de arte que inclusive considero bela, encobre um outro monumento, que é impossível ver a estátua de Jorge Teixeira do ângulo da principal avenida de Porto Velho a Sete de Setembro no cruzamento com a BR 319 (antiga avenida Jorge Teixeira), onde as vezes a população nem se quer percebem que ali por de trás da dita Obra de Arte, existe uma estátua de um homem que deixou legado, que contribuiu para o surgimento do nosso estado, Jorge Teixeira de Oliveira.
Geralmente quando pensamos em patrimônio histórico, temos a tendência natural de associá-lo somente a patrimônio material, ligado a riqueza, que são herdados ou que possuem algum valor afetivo. Porém, patrimônio não se limita apenas sentido de herança. Refere-se também, aos bens produzidos por nossos antepassados, que resultam em experiências e memórias, coletivas e individuais.


Tal herança histórica e cultural adquirida pode fornecer informações significativas acerca da história de uma região e do passado da sociedade. Por terem esse papel, acabam por contribuir na formação da identidade local, como também na formação de grupos, nas categorias sociais e no resgate da memória, desencadeando assim uma ligação entre o cidadão e suas raízes. Em vista disso, sua preservação torna-se fundamental no que diz respeito ao desenvolvimento cultural de um povo, uma vez que reflete na sua formação sociocultural.
  


O que a obra de arte moderna não conseguirá de forma nenhuma, é esconder a grande obra e história em Rondônia, desse Gaúcho de General Câmara, uma pequena cidade interiorana surgida em torno de um velho Arsenal de Guerra do Exército, sua carreira militar já nasceu ali, do profundo envolvimento com as atividades armeiras em torno das quais girava quase toda a vida da pequena população. Formou-se Aspirante de Artilharia, num tempo em que a arma ainda era hipomóvel. Daí seu espírito misto de cavalariano e artilheiro, arrojado e algo romântico, mas sem nunca perder de vista o cálculo e a precisão.
Contudo, este aspecto de sua personalidade é apenas um traço referencial. Já à paisana, reformado do Exército, em 1979 chega a Rondônia com a missão de preparar a elevação do Território Federal à condição de Estado. Precedia-se a fama de melhor prefeito de Manaus dos últimos tempos, a capital do Amazonas.

Apoiado em Brasília por seu colega de turma, o Coronel Mario Andreazza, que ocupava o cargo de Ministro do Interior, a quem estava dado o comando da administração dos Territórios Federais, Teixeira pode administrar à vontade: recursos não faltavam e, se faltassem para uma dada obra, eram facilmente recambiados, de um para outro programa, por artes de remanejamentos que só o Poder Federal poderia conseguir, muitas vezes após mesmo a inauguração das obras.
Diante da escassez e das limitações dos meios de transporte locais, e face da BR – 364 que era uma verdadeira calamidade pública, o Governador-Coronel adotou o helicóptero com o mesmo desembaraço com que havia adotado o “safari” como traje de trabalho, e o indefectível gorro vermelho de pala dura dos paraquedistas com seu logotipo pessoal.
Hoje ocupo a função de vereador de nossa cidade. Na manhã de segunda feira dia 29 de janeiro, irei protocolar na sede do executivo municipal, na Secretaria de Obras, na Semdestur e na FUNCULTURAL, a solicitação para a remoção para um outro espaço a obra de arte citada anteriormente, com o intuito de manter como de fato era, aquele espaço reservado a lembrança de um personagem importante para nosso estado, que faleceu no dia 28 de janeiro de 1987, e que jamais será esquecido por nossa história.


Mas talvez um dos traços que marque para sempre a história de sua passagem em Rondônia, fora o ânimo de progresso que trouxe à região e o indubitável serviço que prestou a esta terra no trabalho de torna-la apta a enfrentar o desafio da autonomia administrativa e financeira, foi sua canhestra participação na política local, ainda que seus atos, muitas vezes, beirassem o profético. 

Aleks Palitot
Historiador reconhecido pelo MEC pela portaria n° 387/87
Diploma n° 483/2007, Livro 001, Folha 098





terça-feira, 23 de janeiro de 2018

Porto de Lembranças





Diz a lenda, reza uma possível ou provável história, que na beira do Madeira, pelos braços de um velho lenhador, codinome Pimentel, surge um porto. Esse porto, do velho ou não, ponto militar ou porto militar, que no passado serviu para guerra, e para nós trouxe a paz. Nosso porto, porto seguro, porto de amor, porto velho, do velho fervor. Não sei se existiu, se existe prova cabal, daquele que sugere o nome de PORTO VELHO, o porto, que apesar de velho, se tornou para muitos, uma nova morada.  Na beira do Madeira, e nas margens da ferrovia, surge cidade moderna, cidade tardia, cidade dos tempos áureos, que não duram, nunca vão, jamais serão para nós duradouros. A não ser, na lembrança, uma boa lembrança dos tempos de criança, de cidade limpa, lugar onde todos se conheciam, Porto Velho ainda cidade provinciana. Cidade das gírias, era legal quisó, granfino, grande paporra, a cidade era um pizeiro. O Porto dos ciclos, explorado no tempo, de braços abertos, recebeu a todos que aqui vieram. Assim, de coração escancarado, o velho porto, vira nova morada, do mundo novo, de pessoas novas, que hão de construir suas vidas, histórias, vitórias no sol escaldante, da terra de povos nativos, caboclos e pioneiros.


Esta cidade amiga, que nunca talvez fora erguida, apenas em um tempo. Foi ao longo dos ciclos, economias formadas, das drogas dos sertões, da corrida do ouro, do sangrar da seringueira, da extração da borracha que pelos trilhos da Madeira Mamoré, que seguiam do centro da Floresta, passando pelo velho porto, e pelo rio para o centro mundo.  O mundo esteve aqui, na ocupação, na exploração, na construção do sonhar, e eita sonho difícil, Eldorado tão procurado, a que todos tentavam achar. Muitas vidas aqui ceifadas, muitas vidas injustiçadas, mas o porto, de muita gente, se torna o nosso símbolo, de vida nova, de uma nova história para todos os presentes.

Da infância lembro bem, da vida entre os limites do Areal e da Baixa União. Brincar de pira, peão, rouba bandeira, peteca, pipa ou papagaio, na antiga Norte e Sul, hoje Rogério Weber.  E o que fazer no final de semana naquele tempo? Têm o Cine Lacerda, ou Cine Brasil, a piscina do Clube Ferroviário. O que gostava mesmo, era brincar de betis na rua, correndo pra lá, corre pra cá, vamos se esconder? Ficava melhor quando faltava à luz. Era uma gritaria tremenda, na cidade pequena onde tudo se via e ouvia. E quando a luz voltava? Uma outra gritaria. Tempos ruins sem a luz? Que nada. O céu era visível, as estrelas nítidas, o sonho possível e a vida mais simples e animada.  Porto Velho 100 anos, muita história? Claro. Mas, cada um de nós têm a sua própria história. A parte preferida, o seu olhar sobre nós mesmos. O que lembrar? Do Porto Velho Hotel e sua varanda com a presença dos poetas? Ou da Praça das Caixas d’água? Difícil esquecer da saltenha do Jota Lima.  


Cidade antiga, que infelizmente não vive e nem preserva seu passado. Parece ter vergonha da sua história e identidade. Cidade machucada, esburacada, sem orgulho. Mas, ainda, é um porto, porto seguro, o porto da vida de todos, porto de simples esperança. Esperança de uma cidade mais limpa, limpa de tudo. Limpa da sujeira, limpa da corrupção e do abandono. Podemos começar do zero depois de 100 anos, e tentar acertar o que erramos.  Enaltecer e cuidar do que nós nos orgulhamos. Minha velha infância, do passado permanente no presente. Dos tempos de fugir de casa para roubar manga, de correr tranqüilo pela rua, de seguir sempre, pelos cantos da cidade sem nunca se perder, a não ser nas brincadeiras de rua. Saudades de não estar perdido e se sentir estranho, no canto que se escolheu para viver. Nasci aqui, e tenho orgulho do meu DNA. Porto Velho te amo muito. Mas parece que aqui, a maioria são os que não te amam mais.

Aleks Palitot

Professor e Historiador
Mestrado em História e em Desenvolvimento Regional
e Meio Ambiente.