História do Real Forte Príncipe da Beira
Corria o ano da graça de 1771. Sentado no seu gabinete em Lisboa, Sebastião José de Melo, mais conhecido como Marquês de Pombal, tomava a decisão de edificar a maior fortaleza portuguesa alguma vez construída no Brasil (o seu perímetro soma
O local, situado nos confins da Amazónia, nas margens do rio Guaporé - hoje, fronteira com a Bolívia -, distava mais de 3000 quilómetros do litoral. Os seus construtores foram obrigados a trazer por via fluvial, através dos rios Amazonas, Madeira, Paraguai e Jauru, grande parte do material necessário, nomeadamente, as pedras de cantaria. Desconhece-se quantos operários foram mobilizados e quantos pereceram durante a construção, em que foi necessário desbravar selva virgem. Ainda hoje, é um ponto de díficil acesso.
Coube ao Governador do Mato Grosso, D. Luiz de Albuquerque de Mello Pereira e Cáceres impulsionar a empreitada do Real Forte Príncipe da Beira, designação escolhida para homenagear o segundo herdeiro na linha de sucessão ao trono português: «A soberania e o respeito de Portugal impõem que neste lugar se erga um forte, e isso é obra e serviço dos homens de El-Rei, nosso Senhor e, como tal, por mais duro, por mais difícil e por mais trabalho que dê… é serviço de Portugal. E tem de se cumprir».
As obras foram iniciadas em 2 de Junho de 1776 e concluídas em 20 de Agosto de 1783, com um projecto da autoria do ajudante de Infantaria e engenheiro Domingos Sambucetti (falecido de malária durante a obra), inspirado na arquitectura militar francesa desenvolvida por Vauban. O Forte Príncipe da Beira apresenta um plano quadrangular, amuralhado em cantaria, com baluartes nos ângulos - consagrados à Nossa Senhora da Conceição, Santa Bárbara, Santo António de Pádua e São José Avelino - e rodeado de um fosso seco. A porta principal contava com uma ponte levadiça (hoje, inexistente), mas há relatos de que também existiria uma passagem secreta subterrânea para o exterior, com uma saída situada junto a rio.
No interior da praça forte, um total de 14 edifícios de alvenaria, argamassa e "pedra canga" (hoje, em ruína), abrigavam os quartéis da guarnição e a capela. Apenas, a porta de armas e as antigas masmorras, com janelas protegidas por grades, se conservam no seu estado original. No centro do terrapleno, existe um poço que fornecia água aos seus ocupantes. Cada um dos quatro baluartes era armado com 14 canhoneiras - num total de 56 peças de artilharia que viajaram, aproximadamente, durante três anos para chegar ao seu destino. Hoje, só existem três (uma nas muralhas e duas na entrada do quartel vizinho).
O inimigo que nunca chegou...
Afinal, a tão temida invasão espanhola nunca se verificou e o forte nunca entrou
Hoje, o Forte Príncipe da Beira é guardado por um destacamento do 6º Pelotão de Infantaria de Selva e 1º Pelotão de Fuzileiros de Seva na Fronteira da Companhia, com 69 homens. Já ninguém teme uma invasão do Brasil pelos exércitos dos países vizinhos, mas o aviso fica bem claro: «A selva nos une, a Amazónia nos pertence», pode ler-se numa parede do quartel. Na pequena sala-museu conservam-se algumas relíquias do forte, fotografias da expedição que resgatou as ruínas da selva, em 1911 e a reprodução de "graffitis" de antigos e infelizes prisioneiros:«Mato Groço me prendeo a Fortaleza me cativou...»«Nesta triste e horrorosa prisão vive o pobre e enfeliz Pacheco com grossa e comprida corrente no pescoço»«A Deus ingrata prizão De ti me despesso obriozo Tendo suportado gostozo Em Ti a mais dura aflição» .
Parabéns pelo texto. O Forte, além de ser um símbolo de Rondônia e do próprio Brasil, sempre esteve ali e sempre estará. Que o Exército Brasileiro continue a zelar por sua integridade! Pena que é tão pouco conhecido e visitado.
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