sábado, 16 de março de 2013

Muralhas da Selva


“ A soberania e o respeito de Portugal impõem que neste lugar se erga um forte, e isso é obra e serviços dos homens de El-Rei, nosso Senhor e, como tal, por mais duro, por mais difícil e por mais trabalho que isso dê...é serviço de Portugal. E tem de se cumprir”
Assim, o Governador de Mato Grosso Luiz de Albuquerque de Melo P. e Cárceres, inflamado pelo desejo de cumprir a missão, de defender a região Guaporeana de possíveis invasões espanholas, determinou a construção do Real Forte Príncipe da Beira, que este ano completa 230 anos de sua inauguração. E pena que não temos muito, o que comemorar. O forte se encontra abandonado e suas estruturas estão prestes a desabar. Se não fosse o Exército Brasileiro através da 17° Brigada, que faz sua parte em cuidar e preservar o que têm, a fortaleza da floresta seria apenas uma vírgula na história de Rondônia! Uma pena as autoridades não terem a devida atenção ao monumento mais antigo de Rondônia e o maior forte do Brasil e o terceiro da América do Sul.
Comissão do Marechal Rondon no Forte em 1911
A construção do Real Forte Príncipe da Beira foi uma conseqüência direta do ciclo do ouro e marcou o primeiro processo de colonização do espaço físico do hoje, Estado de Rondônia. A sua edificação ocorreu durante o governo do Capitão General Cárceres, que havia substituído a Luís Pinto Sousa Coutinho no governo do Mato Grosso. Seu principal objetivo, era o de efetivar a política de expansão da coroa portuguesa, assegurar a posse das terras conquistadas, além de funcionar como posto avançado de vigilância e combate na defesa dos interesses de Portugal, do avanço militar e da cobiça espanhola, funcionando também como feitoria.

Estruturas internas do Forte
A escolha do local onde fora construído a grande fortaleza fixa, foi fruto de uma avaliação minuciosa, feita por técnicos e engenheiros da época, homens de grande capacidade profissional.
Quanto a situação estratégica é correta. O Forte foi construído acima da confluência dos rios Mamoré e Guaporé. Isto é, qualquer invasão por parte da América Espanhola só poderia efetuar-se descendo o Mamoré, o Beni ou o Madre de Dios.
O Real Forte Príncipe foi construído em plena floresta tropical e destinado a garantir a fixação e a defender as fronteiras da América portuguesa. Ele foi fruto do arrojo e da tenacidade de Dom Luis de Albuquerque, o Fidalgo Cavaleiro da Casa Real do Conselho de sua Majestade Fidelíssima.
A falta de recursos, as longas distâncias, a proximidade dos espanhóis e de toda a sorte de dificuldades foram impedimentos constantes. As primeiras canhoneiras das 56 que foram colocadas no forte, saíam de Belém do Pará, e demoravam cinco anos para chegarem, eram trazidas em batelões que navegavam pelos rios da Amazônia até encontrar rio Guaporé.
Baluarte do Real Forte Príncipe da Beira em Rondônia
Esse monumento da história na sua arquitetura e modelo é um quadrado no plano central, de conformidade com o sistema Vaubam (francês) ou de Praças, que utilizava principalmente a fortificação de bastiões, de 970 metros de perímetro, com uma muralha de 10 metros de altura, quatro baluartes armados cada um deles com quatorze canhoneiras.
O nome Forte Príncipe da Beira, está relacionado com uma condição de hierarquia, com um título da nobreza portuguesa. Em 1761, na cidade de Lisboa nascia o primeiro filho de Dona Maria I; que recebeu o título de Príncipe da Beira. Na verdade o seu nome era D. José Francisco Xavier de Paula Domingos Antônio Agostinho Anastácio, que faleceu em 1788.
Príncipe da Beira: D. José Francisco Anastácio
Foram anos de trabalhos árduos. Estas muralhas testemunhas hoje têmpera dos seus construtores, refletem a vontade férrea, a determinação inabalável, que os animaram para enfrentar os desafios e as adversidades resultantes da enormidade das distâncias, da agressividade da floresta e dos animais selvagens, do desgaste físico provocado pelas doenças e das investidas do oponente externo.

Aleks Palitot
Historiador reconhecido pelo MEC pela portaria n° 387/87
Diploma n° 483/2007, Livro 001, Folha 098

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