domingo, 17 de setembro de 2023

Candelária, vestígios de uma História

 O problema crucial da construção da E.F. Madeira-Mamoré foi o sanitário. Insucessos ocorreram no século XIX. O primeiro aconteceu quando os trabalhos da Public Works Construction que se estenderam de julho de 1872 a janeiro de 1874 segundo relatam Craig: "Seus homens morriam como moscas”" e Manoel Ferreira: “Julgar-se pelas notícias próprias da época, o número de mortos deve ter-se elevado a centenas”.38

Durante a permanência da segunda empreiteira, P. & T. Collins, que durou dezoito meses, cobrindo parte dos anos de 1878 a 1879, não se fez o registro dos óbitos ocorridos entre os nativos, mas sabe-se que a mortandade foi grande, principalmente entre os cearenses.


Essas empresas contratadas pela National Bolivian Navigation organizada pelo Cel. George Earl Church que obteve a concessão do governo boliviano não conseguiram êxito devido à falta de conhecimentos científicos que não permitiram abordar a insalubridade local com bases em uma tecnologia científica comprovada.

Quando, em 1907, a última e vitoriosa tentativa de ser construída a ferrovia foi iniciada, a etiologia da malária já havia sido demonstrada, em 1898, pelos estudos de Ross, coadjuvados pelos de Grassi, e o combate às endemias veiculadas por mosquitos haviam obtido resultados positivos em Cuba e Rio de Janeiro, no âmbito da febre amarela, e no Canal do Panamá no que concernia à malária.

Encarando inteligentemente a questão sanitária e aproveitando as experiências de Cuba e do Panamá, a Madeira-Mamoré Railway Co., transferiu o início da ferrovia, de Santo Antônio do Madeira, área doentia onde grassava epidemicamente durante o ano todo, a malária, dizimando indiscriminadamente velhos, moços e crianças, para o barranco de Porto Velho, cerca de sete quilômetros rio abaixo, por apresentar excelentes condições sanitárias, naturais e hidrográficas.


Instalou-se, então a empresa construtora contratada, a May, Jekyll & Randolph em duas zonas distintas: a primeira, denominada Porto Velho, compreendida entre Porto Velho e o acampamento "Henrique Dias”, da zona norte, da Comissão Rondon, onde foi implantado o centro de serviços sanitários composto do hospital da Candelária e de postos situados na construção e exploração da linha.

O hospital possuía vinte e um pavilhões de madeira,cobertos de protegidas por telas de cobre visando impedir a entrada dos anofelinos. Esses pavilhões eram distribuídos na colina, sendo seis deles sedes de enfermarias, que medem 30m por 11,50m, podendo a áera total conter 250 leitos. Num destes pavilhōes está a sala de operações, provida de completo material de cirurgia, análises diversas.


Esse centro hospitalar tinha uma equipe comprometida, dedicada, chefiada pelo médico Carl Lovelace, responsável também pela enfermaria de primeira classe. A distribuição de médicos em 1910, segundo Oswaldo Cruz, todos norte-americanos, localizava-se sete em postos situados na construção e exploração da linha, quatro no Hospital da Candelária onde havia oito enfermeiros, na maioria diplomados , um no dispensário de Porto Velho e um para o navio que transportava pessoal de Manaus e Itacoatiara, portos fluviais onde havia um posto com um médico. Eram dezessete médicos no total. Dentre eles, os médicos Walcott, Belt, Walsh e Whitaker, responsáveis pelas enfermarias do Hospital da Candelária.

A assistência médica, portanto, foi, como ainda o é, no campo das grandes empreitadas de engenharia, uma forma de reduzir despesas, preservar os recursos humanos, qualificados ou não, e potencializar o resultado traduzido pela realização dos objetivos dentro dos custos compatíveis com a ordem econômica, social e política vigentes. E foi essa assistência médica prestada no Hospital da Candelária, ao longo da linha férrea e nos pontos de embarque e transporte dos recrutados, aliando aspectos curativos e preventivos que permitiram o sucesso da construção da estrada de ferro. Os leitos hospitalares eram complementados por um lazareto, escreve Oswaldo Cruz, em uma ilha próxima a Santo Antônio, destinado a doenças contagiosas, pois em Candelária somente havia enfermaria para isolamento de tuberculosos e amarílicos.


Tendo como cenário o Rio Madeira, o complexo era cercado de jardins, bem cuidados e de um pomar que o separava do cemitério. Eram mantidos frutíferas nativas ou aclimatadas à região, cujos frutos constituem uma das mais ricas fontes de elementos nutritivos para a alimentação humana. Inicialmente foram plantados 70.000 pés de abacaxis e 500 pés de rosa, cavalo, manguita, rosinha; laranjeiras, abacateiros,cajueiros, cupuaçuzeiros,cajaranas, gravioleiras, biribazeiros, ateiras, bananeiras, tais como: comprida, prata, branca, chorona, inajá, pacovão e dentre outras. Certa ocasião, à época do estio, um pavoroso incêndio que lavrara a alguns vento forte, o belo pomar, reduzindo milhares de árvores já crescidas em carbonizados troncos ou montões de cinzas.


Havia criadouros de aves domésticas e de porcos. Candelária foi um dos primeiros lugares no Brasil que se criou os gigantescos porcos da raça Berkshire, cujos capados, adultos, pesavam cerca de 200 quilos.

O cemitério ficava logo depois do pomar, local onde eram sepultados apenas os estrangeiros. Alguns túmulos apresentavam lajes em vários idiomas. Atente-se para um fato significativo: "No cemitério da Candelária só se enterravam alienígenas e uma única exceção, uma mulher brasileira, Lydia Xavier, cuja tumba tem inscrição em inglês, deveu-se ao fato de ser essa jovem amante de um engenheiro norte-americano que buscou, com esse enterro discreto, evitar o escândalo a que seria condenado o seu romance, se descoberto fosse". O óbito teve como causa o envenenamento com sublinado corrosivo. A infeliz Lydia, cometeu suicídio após uma briga com o amante.

Túmulos de Judeus no Cemitério 

A área onde foram instalados o hospital, o pomar e o cemitério pertenciam a "Um italiano chamado Bertini, que lhe dera o nome de Candelária em homenagem a festa de Nossa Senhora das Candeias, também dita de Purificação, que se celebra a 2 de fevereiro.

Escavações de arqueólgos da UNIR na Candelária

É desconhecido o fato de como esse sítio histórico foi adquirido por pessoas físicas. A certidão expedida a 9 de agosto de 1974, pelo escrivão do judicial, tabelião de notas e oficial de registro civil, Durval Gadelha, no Livro n° 3 - B de Transcrição das Transmissões, às folhas 92, consta o registro que o lote de terras denominado "Candelária", à margem esquerda da Estrada de Ferro Madeira-Mamoré, na altura do km 2, possui uma área de 24.359,21㎡ com os seguintes limites: ao norte, sul e oeste, Mamoré, cujo lote tem a forma de um polígono de seis lados, assim Ferrovia Madeira-Mamoré, a partir do km 2; dois lados, sendo um com 70m esquerdos, norte e sul com terras devolutas, no referido lote de terras estão plantados 70 mil pés de abacaxi e 500 bananeiras.

Esta Certidão de venda e compra foi lavrada em razaõ do governo do Território Federal do Guaporé, representado por seu Governador, Joaquím Puglia e sua mulher Cleonice Pontes Di Puglia, no valor de Cr$ 75.000,00 13 de junho de 1950, livro 18, fl. 51-52, pelo Tabelião Durval Gadelha. Alí posteriormente foi construído o prédio do Educandário Belisário Pena. Do pomar ainda restam poucos vestígios e túmulos do cemitério foram profanados.

Recentemente a Universidade Federal de Rondônia realiza as primeiras escavações nas antigas bases e ruínas do antigo hospital. Trabalho exemplar em prol da ciência e do resgate, realizado pelo curso de arquiologia da UNIR. Esse sítio tem valor excepcional do ponto de vista da história, da ciência médica e da beleza natural. 


Aleks Palitot

Mestre e Historiador

Fonte: Yeda Birzacov e Esron de Menezes

domingo, 10 de setembro de 2023

Porto Velho e seus símbolos oficiais

Os símbolos do Município de Porto Velho, (brasão, bandeira e hino), 1983 por uma comissão designada pelo Prefeito Sebastião Assef Valladares, julgadora foi assim constituída: professores Lorival Chagas da Silva, Odete Schokness, Ageu Rosa de Lima, Gesson Álvares de Magalhães e Raimundo Nonato Castro; jornalista Euro Tourinho; arquítetos Sílvio Machado e Luiz Leite de Oliveira; escritora Kléon Maryan; promotor de justiça e escritor Edson Jorge Badra; maestros Carlos Sinfontes e Luiz Machado; artistas plásticos João Zoghbi e Raimundo Paraguaçu de Oliveirae o militar Lauro Magalhães. Essa comissão teve o assessoramento do jornalista João Ciro Pinheiro de Andrade e da professora Madalena Neimaier Duarte, respectivamente, Coordenador de Divulgação de Turismo e Promoção do Gabinete do Prefeito e Diretora da Seção de Assuntos Culturais da Secretaria Municipal de Educação e Cultura.


A comissão escolheu dentre os projetos apresentados, 35 para o brasão, 52 para a bandeira e 12 para o hino, as propostas de autoria do poeta, escritor e acadêmico, fundador da Academia de Letras de Rondônia, Antônio Cândido da Silva (bandeira e brasão). A proposta vencedora do hino (letra e música), foi a do escritor e membro da Academia de Letras de Rondônia, Cláudio Batista Feitosa. Esses símbolos foram instituídos pela Lei Municipal n° 249 de 11 de outubro de 1983, assinada pelo Prefeito Sebastião Assef Valadares.

O simbolismo do hino é significativo e profundo. A interpretaçāo do autor, Cláudio Batista Feitosa, esclarece:

“No eldorado uma gema brilha / em meio a natureza, imortal:/ Porto Velho, cidade Ocidental, justamente no Eldorado - assim como é considerado o Estado privilegiada por concentrar todo um sistema de vias de transportes quadrantes - os interesses econômicos de Rondônia e de outras Unidades da Federação.

"São os teus raios estradas perenes/ onde 

transitam em várias direções / o progresso do 

solo de Rondônia / e o alento de outras 

regiões".


Essa peculiaridade geográfica harmoniza-se, coincide com imagem - sāo materializados pelas estradas existentes por onde viajam, céleres,a esperança e o progresso.

"Nasceste ao calor das oficinas / do parque da 

Madeira - Mamoré / pela forja dos bravos 

pioneiros / imbuídos de coragem e de fé".

Se as duas primeiras estrofes enaltecem a importância da situaçāo geográfica de Porto Velho no concerto da Amazônia Ocidental, a terceira enfoca a sua origem, as suas raízes, alimentadas pela coragem,pela tenacidade e pela fé dos bravos pioneiros, de quantas bandeiras, que vieram construir a Estrada de Ferro Madeira- Mamoré, no alvorecer deste século. Porto Velho, a cidade, nasceu realmente ao calor das oficinas da lendária ferrovia marco indelével do progresso e do desenvolvimento desta região do alto Madeira.

"És a cabeça do Estado vibrante; / és o 

instrumento que energia gera / para a faina 

dos novos operários, / os arquitetos de uma 

nova era".

Finalmente, vê-se Porto Velho projetando-se do presente para o futuro, para o lugar de destaque que a história lhe reservou. Em ligeiro retrospecto, os fatos registram que, mercê do seu desenvolvimento, Porto Velho é responsável pela conquista definitiva do Centro - Oeste da Pátria. Aqui, consolidou-se a trilha de Rondon, alargada, transformada em estrada de rodagem, corredor de exporaçāo da produção do Estado de País, pelo Mato Grosso, pela BR-364, que também, descortina, no sentido do Oeste, a “Saída para o Pacífico", pontificada como solução para o desenvolvimento definitivo do Centro-Oeste, O hino esalta porto e lho vibra, que se arremessa para o futuro garantido pela idreletrica de sua potencialidade para facilitar o trabalho dos nossos pósteros,dos pioneiros, saberão construir com maestria e perfeiçāo o futuro do Município e do Estado.

"No eldorado uma gema brilha / em meio a 

natureza, imortal: / Porto Velho cidade e 

Município, / orgulho da Amazônia Ocidental".

A última estrofe, idêntica à primeira, enfatiza a imagem da gema da jóia preciosa que é Porto Velho, que deve continuar brilhando, singela, nos ideais e nas vozes da juventude do nosso Município responsável pela preservaçāo da nossa memória.

A música é extremamente simples. Com apenas duas variedades propositadamente para facilitar a memorização das estrofes cujas palavras podem ser articuladas por completo, com indisfarçável facilidade, dispensados quaisquer artificios. O ritmo, moderadamente enérgico, sugere a seriedade e o clima, solene e respeitoso, exigido nas execuções dos hinos como este do Município de Porto Velho”. A partitura do hino do Município integra o patrimônio histórico material de Porto Velho.

Na configuração da bandeira contendo 2/3 na cor azul representando nosso céu "sempre azul” e 1/3 na cor amarela fazendo alusão às riquezas do Município, destacam-se as caixas d'água negras, à esquerda. Essas três caixas d'água instaladas pela empresa construtora da E.F. Madeira-Mamoré, resumem a história do surgimento de Porto Velho, centro administrativo e cultural do Estado.

O brasão é "constituído pela figura de três caixas d'água sobrepostas, da sable (negro), em meio a uma coroa formada por um torçal de plantas de arroz, à destra, e por um ramo de seringueira, à sinistra, encimada por uma estrela de cinco pontas, de prata, e sobre esta a legenda Porto Velho, de sable. Sob a figura das três caixas d'água, vê-se um fragmento representativo de uma ferrovia, de sable, composto de de sable. Todo conjunto repousa sobre uma magnificente resplendor de ouro formando uma estrelas de trinta pontos.



Os Símbolos do Município foram apresentados oficialmente à comunidade de Porto Velho em uma solenidade realizada dia 12 de outubro de 1983, na praça das Caixas D'Água, pelo Prefeito Sebastião Assef Valadares. Nessa ocasião, a bandeira foi hasteada pela primeira vez, sendo responsável pelo hasteamento, o engenheiro e professor José Otino de Freitas, Prefeito nomeado do Município de Porto Velho no ano de 1947.

Após 69 anos de criação o Município de Porto Velho que ainda não possuía seus símbolos identificadores, passou a tê-los e a usar seu brasão em documentos oficiais, seu hino entoado e sua bandeira hasteada.

Aleks Palitot

Mestre e Historiador


Fonte: Yeda Borzacov e Esron de Menezes