terça-feira, 31 de janeiro de 2023

Do Poderoso Rio Madeira, ao Novo Mundo na Amazônia

 Transpor as cachoeiras do rio Madeira sempre foi uma árdua tarefa. No século XVII, o bandeirante Antônio Raposo Tavares o Anhangüera, que saíra da Vila de São Paulo em missão de reconhecimento e ampliação do território da colônia portuguesa desceu essas turbulentas águas, no final de 1650. A partir de sua experiência, outros desbravadores seguiram o mesmo rumo. Com a descoberta de ouro nos rios Cuiabá e Coxipó, em 1719, houve uma verdadeira corrida à área. Mas foi outro bandeirante, Francisco de Melo Palheta, que a partir de Santa Maria de Belém no Grão-Pará, realizou em 1722 a façanha de subir pela primeira vez as corredeiras e quedas-d'água com embarcações maiores do que as canoas de árvores antes usadas para exploração da área.

Com o trajeto conhecido pelos marinheiros e práticos da colônia, tanto na descida como na subida do principal afluente da margem direita do rio Amazonas, os comerciantes passaram a levar suas mercadorias do Mato Grosso para o Grão-Pará e vice-versa. Era uma viagem penosa, que demandava de três a quatro meses.

Em 1781,a Coroa despachou para lá a Comissão Demarcadora dos Limites da América Portuguesa, chefiada pelo engenheiro Francisco José de Lacerda e Almeida. Sua principal missão era fazer cumprir as diretrizes do Tratado de Madri, assinado em 1750, que definia as fronteiras entre os reinos de Portugal e Espanha no "Novo Mundo". O documento inspirou a urgência de demarcar oficialmente todos os rincões da colônia. Mais adiante, em 1788, a Coroa enviou outro emissário: o naturalista Alexandre Rodrigues Ferreira, com a responsabilidade de pesquisar e estudar a flora, fauna e demais características dos rios Madeira e Guaporé. Durante a permanência de um ano, sua expedição foi praticamente aniquilada por doenças tropicais.


Pesquisas do historiador Manoel Rodrigues Ferreira que constam em seu livro A Ferrovia do Diabo mostram que vários planos foram delineados para facilitar o crescente intercâmbio comercial entre as minas de ouro do Mato Grosso e de Belém. Em 1797,o governador do Pará, D.Francisco de Sousa Coutinho, a mando da rainha D. Maria I, desenvolveu um serviço público de transporte para que os comerciantes pudessem transpor as cachoeiras. A idéia era simples: as embarcações seriam assistidas por tropas militares, marinheiros e funcionários do Mato Grosso e do Grão-Pará. Era uma maneira de reduzir os custos e os riscos dos senhores do ouro. A proposta não vingou inteiramente, mas foram criados destacamentos militares perto das principais cachoeiras, com o objetivo de auxílio.

No século XIX, com a transferência da Corte Portuguesa de Lisboa para o Rio de Janeiro em 1808, após a invasão de Portugal pelas tropas do imperador Napoleão Bonaparte, seria outro o cenário dos interesses econômicos e territoriais do Brasil colonial. A fronteira oeste da floresta amazônica voltaria a receber atenção só depois da independência do Brasil, em 1822, e da Bolívia, em 1825.


Aleks Palitot

Historiador Mestre