terça-feira, 15 de novembro de 2016

O Brasil virou República

Rui Barbosa e Marechal Deodoro entregando a Constituição para a República.
O quinze de novembro é uma data sem prestígio no calendário cívico brasileiro. Ao contrário do Sete de Setembro, Dia da Independência, comemorado em todo o país com desfiles escolares e militares, o feriado da Proclamação da República é uma festa tímida, geralmente ignorada pela maioria das pessoas. Sua popularidade nem de longe se compara à de algumas celebrações regionais, como o Dois de Julho na Bahia, o Treze de Março no Piauí, o Vinte de Setembro no Rio Grande do Sul ou o Nove de Julho em São
Paulo. Essas efemérides exaltam vitórias, confrontos ou revoltas locais, respectivamente a expulsão dos portugueses de Salvador; a Batalha do Jenipapo no sertão piauiense ao final da Guerra da Independência; o início da Revolução Farroupilha; e a Revolução Constitucionalista liderada pelos paulistas em 1932.
São eventos históricos que nem todos os brasileiros conhecem, porém com os quais a população local fortemente se identifica. Isso não ocorre com a data da criação da República brasileira.

Personagens republicanos como Benjamin Constant, Quintino Bocaiúva, Rui Barbosa, Deodoro da Fonseca e Floriano Peixoto são nomes onipresentes em praças e ruas das cidades brasileiras, mas pergunte a qualquer estudante do ensino médio quem foram esses homens e a resposta certamente demorará a vir.
Nas escolas ensina-se mais sobre o português Pedro Álvares Cabral, descobridor das terras de Santa Cruz, como o Brasil ainda era conhecido em 1500, ou Tiradentes, o herói da Inconfidência Mineira de 1789, do que sobre os criadores da República, episódio bem mais recente, ocorrido há pouco mais de um século.
Marechal Deodoro primeiro presidente do Brasil.
A história republicana é menos conhecida, menos estudada e ainda menos celebrada do que os heróis e eventos do Brasil monárquico e imperial, que cobrem um período relativamente mais curto, de apenas 67 anos.
A julgar pela memória cívica nacional, o Brasil tem uma República mal-amada.
Esse estranho fenômeno de indiferença coletiva encontra explicações na forma como se processou a troca de regime. O dia 15 de novembro de 1889 amanheceu repleto de promessas cujo significado na época as massas pobres, analfabetas e recém-saídas da escravidão desconheciam. Nas proclamações e discursos dos propagandistas republicanos, anunciava-se o fim da tirania representada pelo “poder pessoal” do imperador Pedro II. Dizia-se que um carcomido sistema de castas e privilégios, herdado ainda da época da colonização portuguesa, acabava de ser posto por terra. Na nova era de prosperidade geral, inaugurada pela República, a construção de um futuro glorioso estava ao alcance das mãos. Haveria menos injustiça e mais oportunidades gerais. Chamados a participar da condução dos destinos nacionais, todos os brasileiros teriam, finalmente, vez, voz e voto.
Havia, porém, uma contradição entre as promessas e a realidade daquele momento.

Diferentemente do que faziam supor os discursos e anúncios oficiais, a República brasileira não resultou de uma campanha com intensa participação popular. Em vez disso, foi estabelecida por um golpe militar com escassa e tardia participação das lideranças civis. Apesar da intensa propaganda republicana por meio de imprensa, panfletos, reuniões e comícios, a ideia da mudança de regime político não deslanchava na população. Na última eleição parlamentar do Império, realizada em 31 de agosto de 1889, o Partido Republicano elegeu somente dois deputados e nenhum senador. Os votos colhidos pelos seus candidatos em todo o país não chegaram a 15% do total apurado. O resultado era pior do que o obtido quatro anos antes, no pleito de 1885, quando foram eleitos para a Câmara três deputados republicanos, entre eles os futuros presidentes da República Prudente de Morais (1894-1898) e Campos Salles (1898-1902). Sem eco nas urnas, os civis encontraram nos militares o elemento de força que lhes faltava para a mudança do regime. A República brasileira nasceu descolada das ruas. “O povo assistiu àquilo bestializado”, segundo uma famosa frase do jornalista Aristides Lobo, testemunha dos acontecimentos.
Proclamação da República no Campo de Santana no Rio de Janeiro.
Outra incongruência aparece na maneira como essa história vem sendo contada. “Um passeio militar” é a descrição mais comum que se vê nos livros sobre a Proclamação da República. A facilidade com que se derrubou um regime e se proclamou outro na manhã de 15 de novembro, sem reação popular, sem troca de tiros, sem protestos, parecia confirmar, uma vez mais, o mito de que as transformações políticas brasileiras se processam sempre de forma pacífica. Essa imagem, no entanto, se desfoca por completo quando se avança um pouco no calendário. Derrubada a Monarquia, o sonho de liberdade e ampliação dos direitos rapidamente se dissipou. Em alguns anos, o país estava mergulhado na ditadura sob o comando de Floriano Peixoto, o “Marechal de
Ferro”, a quem ainda hoje se atribui o papel de salvador da República.
O sangue que deixou de correr em 1889 verteu em profusão nos dez anos seguintes, resultado do choque entre as expectativas e a realidade do novo regime. Duas guerras civis, somadas à Revolta da Armada, deixariam marcas profundas no imaginário brasileiro. No sul, os dois anos e meio de combates da Revolução Federalista custaram a vida de mais de 10 mil pica-paus e maragatos, como eram chamados os combatentes dos dois lados do conflito. No sertão da Bahia, o sacrifício épico da vila de Canudos resultou na morte de outras 25 mil pessoas e uma história de humilhação para o Exército brasileiro, derrotado em três expedições consecutivas por um bando de jagunços e sertanejos pobres e mal-armados, sob a liderança messiânica de Antônio Conselheiro, ao qual se atribuía, erroneamente, a ameaça de restauração da Monarquia. Somadas as 35 mil vítimas, a República pagou em sangue um preço infinitamente maior do que a Guerra da Independência, cujo número de mortos teria ficado entre 2 mil e 3 mil combatentes brasileiros e portugueses.
Imperador D. Pedro II
As feridas abertas nesses conflitos marcaram profundamente a primeira fase republicana brasileira, na qual os militares tentaram organizar o novo regime mediante censura à imprensa, o Parlamento fechado mais de uma vez, a prisão e a deportação de opositores políticos para os confins da Amazônia. A devolução do poder aos civis, com Prudente de Morais e Campos Salles, respectivamente terceiro e quarto presidentes, nem por isso aproximaria o poder das ruas. A chamada República Velha, período que vai até 1930, se caracterizaria por uma equação política muito semelhante à dos últimos anos do Império. No lugar dos barões do café do Vale do Paraíba, entravam os fazendeiros do oeste Paulista e de Minas Gerais. Por algum tempo, o número de eleitores diminuiu em relação ao total de votantes registrado nos anos finais do Império. Nesta República — também conhecida como “dos Governadores” ou “do Café com Leite” — não haveria lugar para o povo, tanto quanto não havia na dos militares de 1889. Quem mandava era a mesma aristocracia rural que havia dado as cartas na época da Monarquia.
Princesa Isabel e o Imperador D. Pedro II.
A estranheza entre as promessas e a prática republicanas esclarece, em parte, a atual falta de prestígio do Quinze de Novembro no calendário cívico nacional.
Na versão dos derrotados, ao contrário, o Império, ao invés de ruína, teria sido a salvação do Brasil. Sem a Monarquia, argumentam, o país teria fatalmente se fragmentado na época da Independência, em três ou quatro nações autônomas que hoje herdariam como denominador comum apenas suas raízes coloniais e a língua portuguesa. Ao imperador caberia o papel de manter o Brasil unido, apaziguar os conflitos, tratar com tolerância e generosidade os adversários, além de converter um território selvagem e escassamente habitado num país integrado e respeitado entre as demais nações. Por essa perspectiva, a Monarquia teria raízes culturais e históricas mais profundas do que a República na nacionalidade brasileira, com força suficiente para enfrentar os desafios do futuro, caso não tivesse sido abortada por uma traiçoeira quartelada na manhã de 15 de novembro de 1889.
Guerra do Paraguai em 1869 - Batalha do Avaí. 
Em seu estudo sobre a Proclamação da República, o historiador pernambucano José Maria Bello demonstrou que republicanos civis e militares foram apenas parte das forças que, direta ou indiretamente, contribuíram para a queda do Império. Uma delas — e talvez a mais forte — era composta dos próprios monarquistas, “para os quais o Império perdera o derradeiro encanto”. Esse “vasto e perigoso partido dos derrotados” incluía os liberais, os reformadores, os abolicionistas e os federalistas — gente como o pernambucano Joaquim Nabuco e o baiano Rui Barbosa, que, até as vésperas do Quinze de Novembro, mantinham-se de certa forma fiéis à Monarquia, mas exigiam dela reformas capazes de dar alguma sobrevida ao regime. Havia também o grupo dos “desgostosos e displicentes”, como os fazendeiros feridos pela abolição da escravatura. Todos esses grupos, direta ou indiretamente, juntaram forças para dar o empurrão fatal que selaria o destino do Império brasileiro. Some-se a isso o descontentamento reinante nos quartéis desde o final da Guerra do Paraguai, fator decisivo na queda da Monarquia. Oficiais e soldados consideravam-se injustiçados pelo governo do Império. Daí a conferir carta branca ao marechal Deodoro da Fonseca para derrubar o trono foi apenas um passo. “A intervenção militar na política e na sociedade é sinal de fraqueza tanto do Estado como da sociedade”, observou o historiador norte-americano Frank D. McCann, autor de Soldados da pátria, um alentado estudo sobre a história do Exército brasileiro.“O sentimento mais generalizado não era o da crença na República, mas sim o de descrença nas instituições monárquicas”, registrou o brasileiro Oliveira Vianna ao refletir sobre as promessas do Brasil monárquico, com suas instituições liberais, os rituais da nobreza e seus palácios de cristal em Petrópolis, e a dura realidade da escravidão, do analfabetismo e da fraude eleitoral.

O Império brasileiro caiu inerte, incapaz de mobilizar forças e reagir contra o golpe liderado por Deodoro. Apesar de todas as evidências de uma conspiração em andamento, o imperador Pedro II permaneceu em Petrópolis até a tarde de 15 de novembro, ignorando os conselhos para que reagisse de alguma forma. Ao chegar ao Rio de Janeiro, perdeu um longo e precioso tempo, acreditando ingenuamente que no final tudo voltaria ao normal. “Conheço os brasileiros, isso não vai dar em nada”, teria dito naquele dia. Só na madrugada de 16 de novembro, quando o governo provisório republicano já estava anunciado, é que dom Pedro reuniu seus conselheiros mais próximos e tentou em vão organizar um novo ministério. Já era tarde. Nas províncias, a única reação em favor da Monarquia ocorreu na Bahia, surpreendentemente liderada pelo marechal Hermes Ernesto da Fonseca, comandante de Armas de Salvador e irmão de Deodoro. Ao receber as notícias do golpe no Rio de Janeiro, Hermes da Fonseca anunciou que permaneceria fiel ao imperador. Capitulou algumas horas mais tarde ao saber que o próprio irmão liderava a conjura republicana e que dom Pedro II, àquela altura, já estava a caminho do exílio na Europa. “Na verdade, a monarquia não foi derrubada, ela desmoronou”, anotou o jornalista francês Max Leclerc, que percorria o Brasil na época. “Qualquer que seja o futuro, para nós, que cremos na nação forte e indivisível, é consolador ver os obstáculos vencidos”, observou certa vez o historiador Américo Jacobina Lacombe. “Isso nos anima a entrever um futuro justo e próspero”.

Aleks Palitot
Professor e Historiador 

sexta-feira, 28 de outubro de 2016

Porto Velho uma história


Primeiros passos da construção da E.F.M.M. hoje Porto Velho, 1907-12.
“Nascestes ao calor das oficinas do Parque da Madeira Mamoré, pela forja dos bravos pioneiros, imbuídos de coragem e fé”.
Esse trecho é parte do hino de Porto Velho, letra de C. Feitosa, hino que talvez poucos nascidos em Porto Velho teriam conhecimento. Por isso, lembra da instalação de administrativa de nossa cidade é tão importante. São nessas datas que levamos os cidadãos de Rondônia a conhecerem um pouco mais de nossa história, e assim refletir sobre a história de nossos pioneiros.
Com a construção do Centro Administrativo da empresa construtora da ferrovia no antigo Porto Velho Militar, logo nas imediações os trabalhadores iniciaram a construção de suas casas para o lado que dava para Santo Antônio. Em 1913 criava-se a Vila de Porto Velho, e já no dia 2 de outubro de 1914 era publicada a lei número 757, criando o município de Porto Velho. Com o decreto assinado pelo Dr. Jonathas Pedrosa, governador do Estado do Amazonas, no dia 24 de janeiro de 1915, instala-se solenemente, e era considerado município autônomo, sendo o seu superintendente (prefeito) o Major do Exército Fernando Guapindáia de Souza Brejense, e intendentes, e suplentes, José Jorge e Braga Vieira, Luziano Barreto, Manoel Félix de Campos, Antônio Sampaio, José Camargo Achiles Reis, Alderico Castilho, José Pontes e como secretário, Sr. Manoel Pires de Castro.
A cidade na opinião de Oswaldo Cruz era “um cenário desordenado” de 800 habitantes. Todos os barracos eram de madeira, inclusive os grandes barracões da companhia construtora que ficavam sobre pilares de alvenaria e cobertura de telhas francesas; outros eram cobertos com zinco e sobre esteios de quariquara ou itaúba, preferencialmente, sendo a grande maioria improvisadas cabanas de palha. Enquanto isso no Clube Internacional (hoje Ferroviário) mulheres e homens dançavam o fox ao son de jazz; rubicundos ingleses vestidos de branco, a beber uísque; alemães ingênuos e sorridentes, servindo chopp com avidez; francesas de Marselha, com admirável eroísmo profissional, sorrindo acintosas e convidativas aos peões.

O PRIMEIRO PREFEITO

O governo de Guapindaia foi marcado por uma série de desentendimentos com os administradores da Estrada de Ferro Madeira Mamoré, pois a ferrovia gozava de isenção de impostos estaduais e municipais, além de ser detentora de grandes porções de terras destinadas ao uso da ferrovia.

Primeiro Prefeito de Porto Velho - Major Guapindaia, 1914.
Como anteriormente a palavra do superintendente da Estrada de Ferro era lei, sendo que até a distribuição de lotes para a construção era, no entender dos administradores da ferrovia, da sua alçada, o major Guapindaia sentiu-se ferido em seus brios naturalmente reagindo e tendo como resposta inicial o cancelamento “ do passe grátis” que lhe fornecia a Madeira Mamoré, além de ser convidado a se retirar do prédio em que se instalara a prefeitura (em frente ao Mercado Central), bem como da casa onde morava e que pertencia à estrada de ferro.
Guapindaia continuou sua investida contra os ferroviários, proibindo a retirada de dormentes e lenha dos locais que ele julgava estar de fora dos limites concedidos à ferrovia.
Tal medida gerou revolta, não somente nos chefes ferroviários, mas também dos que viviam de empreiteiras na extração de madeira, tendo os advogados da companhia entrado com recursos e, ao mesmo tempo, pressionando o superintendente para uma prestação de constas.

O ALAMBRADO

Mercado Municipal construído pelo Guapindaia na antiga rua Divisória. 
A intendência aprovou lei autorizando o superintendente  a dar nomes as ruas, sendo chamada de Avenida Divisória a que separava as terras da companhia das terras do município, que é a atual Av. Presidente Dutra, e nela  os ferroviários construíram um alambrado separando as terras da Madeora-Mamoré. As outras ruas foram denominadas Sete de Setembro, Rio Branco, Floriano Peixoto e Pedro II, embora algumas fossem apenas caminhos tortuosos. Em 1919, Guapindaia tentou eleger-se prefeito de Porto Velho, porém, não era pessoa grata da Madeira-Mamoré e, embora fosse apoiado pelo Dr. Joaquim Tanajura, foi derrotado pelo Padre Dr. Raimundo Oliveira. O Governo de Guapindaia o primeiro de Porto Velho, foi de 24 de janeiro de 1915 a 31 de dezembro de 1916, quando foi empossado o Dr. Joaquim Tanajura, eleito para o triênio de 1917 a 1919.     
Aleks Palitot
Historiador reconhecido pelo MEC pela portaria n° 387/87
Diploma n° 483/2007, Livro 001, Folha 098



quarta-feira, 3 de agosto de 2016

Rondônia uma História



O Colégio Objetivo trilha seu caminho lado a lado com Rondônia. É comum falar que suas conquistas e desenvolvimento se confundem com as do estado. Há mais de 35 anos, o Grupo vem fomentando a educação e promovendo ações que incentivam a educação e a cultura.

O Objetivo é uma empresa que investe em seus colaboradores, pois acredita que esta é uma das formas de alcançar a excelência no serviço que oferece. “Prata da casa”, o professor Aleks Palitot é exemplo disso. Há 15 anos frente à disciplina de História, ele é reconhecido por suas aulas dinâmicas e irreverentes.

Aleks ficou bastante conhecido na cidade como apresentador, por 8 anos, do programa Trilhando a História, patrocinado pelo Colégio Objetivo onde através das expedições com os alunos da escola, unia aula e entretenimento, demonstrando toda a beleza histórica do estado na telona. Com a parceria do Colégio Objetivo, projetos como Expedição Guaporé, Expedição Amazônia, Expedição Vila Bela, Expedição Machu Picchu, demonstram que a intenção de levar o conteúdo de qualidade aos quatro quantos de forma espontânea, agregando conhecimento e aventura, é uma fórmula que dá certo, pois já são 13 anos de realização desde a primeira expedição que ocorreu em Costa Marques. Ao todo, foram 23 municípios de Rondônia visitados, estudados e desbravados pelos estudantes.


Também com o apoio do Colégio Objetivo o professor Palitot lançará o livro “Rondônia – uma história”. “Nasci em Porto Velho, sou filho de Rondônia e minha família sempre foi envolvida com a história do local em que nasci. Minha tia Antônia Lúcia Palitot foi engenheira ferroviária da Estrada de Ferro Madeira Mamoré, meu avô foi um dos construtores e mestre de obras importantes em Porto Velho (participou de várias construções como a cúpula da Catedral Sagrado Coração de Jesus e do Palácio Presidente Vargas). Meu pai foi um dos primeiros gráficos e minha mãe foi professora de História e atuou muito tempo na educação local. Então, essa obra ao mesmo tempo traz um pouco desse amor e dessa paixão que tenho pela história do lugar em que vivo”, detalha Aleks.


Ele explica que suas impressões como educador e como historiador também foram ponto de partida para trilhar as páginas do livro. “Lecionando a disciplina de História de Rondônia, sempre utilizei outras ferramentas e obras literárias de historiadores locais, pesquisadores, professores e, adequando à realidade atual e comportamental dos estudantes, fui aprendendo ainda mais ao longo do tempo. Desta forma, encontrei uma maneira de produzir um livro que se adequasse um pouco à minha didática e, ao mesmo tempo, àquilo que entendo ser de vital importância para o aluno aprender em sala de aula. Então o livro, acaba surgindo dessas minhas experiências e também do desejo de deixar um legado, uma contribuição para o estado em que nasci e de uma história que eu gosto muito de ensinar. Fazendo com que as pessoas encontrem a ideia de pertencimento quando se fala de Rondônia”.


Para escrever o livro, Aleks realizou uma profunda pesquisa que se deu a um tempo de 10 anos. “À medida que vamos lecionando em sala de aula, vamos adquirindo um pouco de casca e isso faz com que a gente também entenda o quanto precisa melhorar ainda mais. Então, pesquisamos muito material no Centro de Documentação de Rondônia. Usamos em torno de 80 obras bibliográficas que envolvem a história local. Também como base, pesquisamos muito material de História Regional do professor Marco Teixeira e Dante Fonseca, além de livros do professor Abimael e Yeda Borzacov. Livros de Emanuel Pontes Pinto, Paulo Saldanha, Emanuel Gomes, Amizael Gomes, de historiadores e pessoas que contribuíram muito com a história de Rondônia”, revela.

O acervo de imagens e ilustrações possui destaque na obra do professor. “Esses materiais estão disponíveis tanto no Arquivo Nacional da Biblioteca nacional, no Museu Nacional do Índio, como também no Centro de Documentação do estado. E não posso deixar de citar que através das expedições com os alunos do Objetivo pude coletar materiais mais recentes e são evidenciados no livro”.


Para os apaixonados em História Regional, Aleks deixa escapar quais pontos históricos podem ser encontrados nas páginas de seu livro. “Os mais de 50 mil km, em 8 anos que o Trilhando a História me proporcionou viajar por vários lugares (evidentemente nesses lugares estão os 23 municípios que visitamos), passamos por muitos memoriais, museus, lugares históricos, sítios históricos, oficinas líticas, regiões que fazem parte da história de Rondônia e da Amazônia. Então nós vivenciamos muito de perto as estruturas que correspondem a Estrada de Ferro Madeira Mamoré, o Forte Príncipe da Beira, as ruínas do Forte Bragança ou Conceição, Antiga Estação Álvaro Vilhena, Museu Regional de Presidente Médici, o Museu Municipal de Ariquemes, o Museu das Comunicações em Ji-Paraná, antiga estação telegráfica Afonso Pena, as oficinas líticas que pude visitar em Rolim de Moura, Santa Luzia, Alta Floresta do Oeste, assim como também muitos lugares históricos em Guajará-Mirim, Nova Mamoré, enfim, esses lugares acabaram dando uma gama e contribuição importantíssima”.


Sobre o apoio do Colégio Objetivo, Aleks ressalta. “A escola me apoiou desde o momento que acreditou no projeto das expedições pedagógicas. A partir dali foi o primeiro passo para começar conhecer de forma mais íntima e intensa a história. Levar os alunos para conhecer o Forte, dar uma aula lá e, às vezes tentar transportar todo esse sentimento e essas vivências para dentro do livro foi sensacional. E o Objetivo, juntamente com outros parceiros que fazem parte desse projeto, foi fundamental nesse aspecto. Também por proporcionar à própria instituição um material de qualidade porque o livro servirá não somente para o aprendizado, quando usado em sala de aula por professores e alunos, mas para concurseiros que encontrarão muita informação nele. A ideia é alcançar vários públicos”.

Quem assume a autoria do prefácio do livro é o escritor e jornalista, Benedicto Domingues Junior. “É impossível ler as páginas a seguir sem ter a convicção de que o narrador é o professor Aleks Palitot. As pausas, as reflexões, a paixão por sua terra, o respeito pelo passado e zelo pelas gerações que herdarão esse legado, estão sempre nos chamando para a próxima página”.

O lançamento do livro será no dia 12 de agosto, a partir das 19h30 no Centro de Educação Executiva da Faculdade Porto/FGV, localizado na Rua Paulo Freire, 4767, bairro Flodoaldo Pontes Pinto.

Assessoria de Comunicação
GRUPO PELLUCIO

quinta-feira, 5 de maio de 2016

Rondon, o herói do Brasil


Marechal Rondon ao lado de Aluízio Pinheiro Ferreira.
O empenho e a atuação do Marechal Cândido Mariano da Silva Rondon, foi fundamental para revelar aos centros “políticos e desenvolvidos” do Brasil uma natureza fantástica, localizada no longínquo mundo amazônico do início do século XX, palco de outras inúmeras aventuras e personagens que desafiaram as adversidades que a floresta impõe aos invasores.
Árvores gigantescas e retorcidas, rios, lagos, cachoeiras, animais, mitos e lendas que descortinaram uma realidade cultural profunda com temperos, aromas exóticos e sedutores quase completamente desconhecidos pelo povo brasileiro.
Enganam-se os que associam à Comissão Rondon somente a construção de uma linha telegráfica entre Cuiabá, capital do Mato Grosso e Santo Antônio das Cachoeiras, localidade até então inconveniente para ocupação humana.
Alguns, ainda seduzidos por pobres polêmicas, buscam diminuir a trajetória de Cândido Rondon focando sua atuação como “matador de índios ou protetor dos índios”. Afirmaria, com toda tranquilidade, que esse é o debate pobre e fútil sobre nosso maior personagem que serve somente para ridicularizar quem o promove. Rondon liderou uma expedição épica, inimaginável, composta por profissionais com grande experiência e várias especialidades que desenvolveram estudos na área da geologia, botânica, cartografia, hidrografia, topografia e geografia, além de estudos sobre as nossas fronteiras, produzindo farto material sobre essa região da Amazônia.
Rondon no topo do Monte Roraima em 1927
A destemida expedição de Cândido Rondon deve, no mínimo, compor o cenário das grandes expedições filosóficas e científicas que percorreram o interior do Brasil e os rios amazônicos a partir do século XVIII. Condamine, Alexandre Rodrigues Ferreira, os austríacos Spix e Martius, o barão de Langsdorf, os ingleses Bates e Wallace, Dr. João Severiano da Fonseca e mais recentemente Claude Lévi Strauss compõem parte dessa galeria de grandes exploradores e pesquisadores.
Rondon foi muito além destes, pois carregava a missão de integrar um território e suas gentes ao restante do Brasil. Foi muito além das questões telegráficas e de fronteiras, dos estudos dos três reinos naturais: a fauna, a flora e o mineral. Rondon foi além das tentativas de integração dos povos que viviam em um mundo abandonado e esquecido na escuridão das florestas chuvosas, quentes e úmidas. Ele levou e representou os valores de uma pátria, carregou em si um Brasil inexistente na maior parte de seus gestos o que havia de melhor em nosso país naquele momento. É tarefa complicada para qualquer historiador encontrar um brasileiro com tamanha envergadura, espírito cívico, disposição e coragem.
Marechal Rondon em acampamento em Vilhena - RO.
Cândido Rondon não se contentou em revelar ao mundo as “Terras de Rondônia” como afirmou Roquete Pinto ou acompanhar o ex-presidente americano Roosevelt em sua expedição a região do atual estado de Rondônia. Ele percorreu a maior parte do território nacional em missões que somente os “homens gigantes” enfrentavam. Por isso, o mesmo se destacou nacionalmente e internacionalmente por suas preocupações com os povos indígenas, que sofriam constantes massacres sem a mínima atuação do Estado em seu socorro. Como criador do Serviço de Proteção ao Índio – SPI em 1910, instituição que se transformou em FUNAI em 1967, Fundação Nacional do Índio, Rondon procurou atuar na proteção e defesa dos povos e culturas indígenas.
Serviço de Proteção ao Índio idealizado por Rondon.
Cândido Rondon é indiscutivelmente o maior sertanista brasileiro de toda nossa história, é esse o foco que deveríamos investigar, pois sua atuação ainda ecoa sobre todos nós que moramos na porção ocidental do Brasil. A maioria dos estudos feitos sobre nosso mais conhecido personagem histórico nos informa sobre sua preocupação em preservar a cultura e as tribos indígenas.
Se houve conflitos, precisamos lembrar que Rondon atuou em uma época onde a cultura existente pregava uma lógica desenvolvimentista que elegia os povos indígenas como inimigos ou empecilho ao desenvolvimento urbano e “civilizado” da época, um período onde era comum crer na máxima: “índio bom é índio morto”. Rondon foi um verdadeiro brasileiro, em suas veias o sangue índio era evidente, sua brasilidade era enraizada ao tempero e ritmo de sua gente, é contra a lógica de genocídio que ele atua e milita. Seu ideal é o de um militar das “grandes causas humanitárias”. Em função dessa realidade, Rondon é um dos poucos personagens “oficiais” da nossa história que realmente merece ser promovido ao panteão de grande herói nacional.

 RONDON, SUA OBRA E HISTÓRIA.
  
Cândido Mariano da Silva Rondon teve sua origem humilde. Filho de um tratador de animais, descendendo de espanhóis e índios terenas, de bandeirante, e bororos, agigantando-se em nossa história, destacando-se como militar, pacificador, cientista, construtor de estradas, de linhas telegráficas e inúmeros outros serviços prestados ao País. Rondon constituiu-se um símbolo da vontade humana, norteado pela religião que abraçou, baseada no amor à humanidade, tendo como seu lema: “morrer se preciso for, matar nunca”.
Marechal Rondon quando criança em Mimoso.
Nasceu Cândido Mariano da Silva Rondon a 5 de maio de 1865 na Sesmaria de Morro Redondo, nos Campos de Dourados, Estado do Mato Grosso, filho de Cândido Mariano da Silva e de sua esposa Dona Claudina Evangelista. Anos depois de seu nascimento acrescentou ao seu nome o sobrenome de seu tio e padrinho, Manuel Rondon, com a devida autorização do Ministério da Guerra.
Graças a seu esforço e à sua capacidade nos estudos, o jovem natural de Campos de Mimoso, aos sete anos foi conduzido pelo tio a Cuiabá, iniciando seus estudos no Liceu Cuiabano e, já aos dezesseis anos, conseguiu um lugar de Professor do Ensino Primário na mesma instituição de ensino. Porém, seu espírito inquieto desejava maior dinâmica, o moço tinha vontade de ingressar na carreira militar e eis que em 26 de novembro de 1881 integrou-se no 3° Regimento de Artilharia à Cavalo e logo a seguir passou a frequentar a Escola Superior de Guerra, na Capital Federal. Figurou desde logo nos quadros de honra da Escola e pelo seu valor, já como 2° Tenente foi convidado para ministrar, na própria Escola, as cadeiras de Astronomia e Mecânica Racional.
Academia Militar Imperial onde estudou Rondon - RJ
Rondon, a exemplo de uma lista imensa de outros sertanistas, demonstrou incrível coragem e determinação ao atuar em regiões tão inóspitas no interior do Brasil, deve ser citado ao lado de Antônio Rolim de Moura Tavares, primeiro governante da Capitania do Mato Grosso. Domingos Sambucet, Engenheiro que iniciou as obras do Real Forte Príncipe da Beira e faleceu de malária. Ricardo Franco de Almeida Serra, Engenheiro que trabalhou no Real Forte Príncipe da Beira após o falecimento de Sambucet. Francisco de Melo Palheta, bandeirante que introduziu as primeiras mudas de café no Brasil e percorreu o trajeto entre Belém do Pará e Vila Bela da Santíssima Trindade no Mato Grosso em meados do século XVII. Luis de Albuquerque Melo Pereira e Cáceres, quarto Governador da Capitania do Mato Grosso, foi na sua gestão que se construiu o Forte Príncipe da Beira. Trabalhadores dos seringais e da Estrada de Ferro Madeira-Mamoré. Francisco e Apoena Meireles, grandes sertanistas e indigenistas.
Rondon estudante na Academia Militar - RJ.
Entre os vários títulos e homenagens, Marechal Rondon foi indicado ao Prêmio Nobel da Paz no ano de 1925. O propositor de tal homenagem foi nada mais e nada menos que o maior físico da história da humanidade, Albert Einstein. Mais tarde, na década de 50, foi indicado apontado.
Nos anos de 1892 e 1898 ajudou a construir as linhas telegráficas de Mato Grosso a Goiás. Entre 1900 e 1906 dirigiu a construção de mais uma linha telegráfica, ligando Cuiabá e Corumbá, alcançando as fronteiras do Paraguai e Bolívia. No início do século XX encontrou as ruínas do Real Forte Príncipe da Beira, uma das maiores relíquias históricas de Rondônia. Em 1907, no posto de major do Corpo de Engenheiros Militares, foi nomeado chefe da comissão que deveria construir a linha telegráfica amazônica, e que foi denominada “Comissão das Linhas Estratégicas e Telegráficas de Mato Grosso ao Amazonas”, também conhecida como Comissão Rondon”. Seus trabalhos desenvolveram-se de 1907 a 1915.
Rondon na região de Mato Grosso em 1906.
Em 1910 organizou e passou a dirigir o Serviço de Proteção aos Índios (SPI), criado em 7 de setembro de 1910. Em 12 de outubro de 1911 inaugurou a estação telegráfica de Vilhena, na fronteira do estado do Mato Grosso e Rondônia. Em 1914 participou da denominada Expedição Científica Roosevelt-Rondon, junto com o ex-presidente dos Estados Unidos da América, Theodore Roosevelt. Realizando novos estudos e descobertas na região. Durante o ano de 1914 a Comissão Rondon construiu em oito meses, 372 km de linhas e inauguraram outras cinco estações: Pimenta Bueno, Presidente Hermes, Presidente Pena, Jaru e Ariquemes. Em 15 de dezembro de 1914, foi feita a ligação dos fios da Seção do Sul com os da Seção do Norte, nas imediações da futura Estação Presidente Pena, atual município de Ji-Paraná e em sessão solene realizada na Câmara de Vereadores de Santo Antônio do Madeira, a 1° de janeiro de 1915, comemorava-se a inauguração da gigantesca missão que lhe fora conferida, na ligação dos fios de Cuiabá àquela localidade, bem como o ramal de Guajará Mirim.
Por tantos e inúmeros feitos, em 5 de maio de 1955, data de seu aniversário de 90 anos, recebeu o título de Marechal do Exército Brasileiro concedido pelo Congresso Nacional. Homenageando o velho Marechal, em 17 de fevereiro de 1956, o Território Federal do Guaporé teve seu nome alterado para Território Federal de Rondônia. O grande líder e “cacique branco” como era denominado por alguns índios, veio a falecer no Rio de Janeiro, aos 92 anos, em 19 de janeiro de 1958.

Aleks Palitot
Historiador