Rondônia: Um mosaico de cultura, história e identidade
Bandeira do Estado de Rondônia |
Um lugar de riquezas históricas e culturais variadas. Assim é Rondônia, um Estado novo, com fortes traços indígenas e diversas influências culturais que, ao longo do tempo, formou uma cultura única, miscigenada, como em nenhum outro local. Essa expressão cultural do Estado está presente na rica gastronomia, no folclore, na beleza do artesanato e na sua história, que possui capítulos de momentos e ciclos econômicos, que proporcionou ao homem encarar inúmeros desafios em meio à grande Floresta Amazônica; homens que deram o suor, o sangue e a vida por uma grande história.
O desafio dos desbravadores de Rondônia tem sua primeira página escrita na história, no momento da chegada de sertanistas e bandeirantes nessa região, homens como Raposo Tavares e Francisco Palheta, que ousaram encarar as regiões mais inóspitas do Brasil Colônia, para garantir no passado à coroa portuguesa, a posse desse rico território. Durante o período de exploração dos vales do Madeira, Mamoré e Guaporé, vivemos o ciclo do ouro e das drogas dos sertões, o homem busca a riqueza a todo custo, enfrenta índios, o calor, a fome e as doenças. É constantemente energizado com o sonho do Eldorado, com a possibilidade de conseguir riquezas alçando assim, parte de seus objetivos.
Para garantir a posse de nossa região, a Coroa Portuguesa deu ordens para construir fortificações com o propósito de combater os invasores espanhóis e estabelecer aqui o controle das terras amazônicas. Foi incumbido de tal missão, a figura histórica de Antônio Rolim de Moura que construiu as margens do rio Guaporé o Forte Nossa Senhora da Conceição, garantindo através das armas a resistência contra os invasores espanhóis. Logo depois em que o Forte Conceição posteriormente renomeado Bragança foi destruído por uma grande inundação, Luiz de Mello Pereira e Cárceres inicia em 1776, a construção de uma obra prima em meio a Amazônia, o monumento mais antigo de Rondônia, o Real Forte do Príncipe da Beira, que é considerado um dos maiores fortes da história do Brasil. Apesar de nunca ter dado um tiro com suas cinqüenta e seis canhoneiras, esse grande monumento bélico foi importante para demarcar os territórios guaporeanos pertencentes na atualidade ao nosso Estado de Rondônia.
Rondônia também viveu os tempos áureos do ciclo da borracha, foi daqui dos Vales do Madeira, Mamoré e Guaporé que saiu o ouro branco, o látex, a tão desejada borracha, destinada aos centros industriais da Europa e dos Estados Unidos. Foi nesse contexto que a nossa miscigenação ganhou força, ganhou detalhes formidáveis, eis que surge na nossa história o migrante nordestino, quem vêm para Rondônia em busca de melhores dias e aqui, se veste de coragem e esperança em dias melhores, longe da seca do nordeste brasileiro. É aqui na Amazônia que os elementos culturais nordestinos vão se misturar aos valores e realidade cabocla e beradeira. É portanto, durante o ciclo da borracha que o homem entende que se faz necessário manter a floresta em pé, ter-la assim é sinônimo de desenvolvimento, lucro e futuro. É do corte da seringueira que se extrair a vida, o dinheiro e o sustento.
Para o ouro branco, a borracha, chegar mais rápido aos grandes centros, Rondônia, ainda retalhos das Províncias do Amazonas e Mato Grosso, viveu um dos maiores desafios enfrentados pelo homem. O Trem Fantasma, a Ferrovia da Morte, a Estrada de Ferro Madeira Mamoré que se tornou, a mais nova obsessão dos pioneiros de Rondônia. Havia a necessidade de escoar a grande produção da borracha, que encontrava dificuldades entre os trechos de saltos e corredeiras entre os Rios Madeira e Mamoré. Não foi fácil, foram necessárias cinco empresas em quarenta anos para consolidar a travessia daquilo que era o mais moderno do mundo, os trilhos e a sua Maria fumaça. Vidas foram ceifadas, lendas foram construídas e o sonho mais uma vez concretizado. Mas é de lendas e sonhos, que se fortalece o espírito humano e jamais será esquecida a proeza dos que viveram, sofreram e morreram pela Estrada de Ferro Madeira Mamoré. A velha locomotiva permanece viva no ideal de homens e mulheres que erguem a civilização ao longo de seus trilhos. Ela é a alma do povo, que têm o caráter o aço dos trilhos fincados com pregos de ouro e prata, no caminho da esperança e da fraternidade universal.
Rondônia com seu nome homenageia um dos personagens mais nobres de nossa história, o grande sertanista Marechal Cândido Mariano da Silva Rondon, nobre explorador que em 1909 por aqui chegou, e dois anos depois fundou a primeira Estação Telegráfica de Rondônia na localidade de Vilhena. A partir da Estação Álvaro Vilhena, este grande sertanista seguiu por todo o Estado até Porto Velho e depois Guajará-Mirim. Pelo mesmo traçado das Linhas Telegráficas de Rondon jovens aventureiros incentivados pelo Governador do Território Federal de Rondônia Paulo Nunes Leal, iniciaram em 28 de outubro de 1960 a Caravana Ford, que iria encarar o desafio de trafegar pela BR-29 inaugurada pelo presidente do Brasil Juscelino Kubitschek. Assim pelo mesmo lugar anos depois, os pioneiros do Quinto Batalhão de Engenharia e Construção iniciariam o asfaltamento da futura BR- 364.
O Estado de Rondônia sempre foi palco de grandes histórias, de grandes aventuras e odisséias, mas nenhuma história ou momento foi mais especial do que a vinda dos migrantes na década de 70. Durante o Regime Militar foi deflagrado um projeto de ocupação da Amazônia, levar homens sem terras a uma terra sem homens. Nesse período a região é invadida e conquistada por milhares de pessoas de todos os recantos do Brasil, que chegam com seus sonhos e encaram muitos pesadelos. Tudo estava ainda por construir, e é com esses braços fortes e coragem no coração, que os brasileiros fazem Rondônia ser protagonista de um dos maiores surtos migratórios da história do Brasil. Homem importante nesse projeto foi o Coronel Jorge Teixeira, deixou de cuidar da própria saúde para garantir a criação do 23° Estado da Federação. Em 1982 o sonho daqueles que chegaram aqui se consolida, o Estado é criado mas, ainda nos resta a grande motivação de sempre acreditar que é possível melhorar. Hoje Rondônia mais uma vez vive um ciclo épico, e necessário que cada Rondoniense e Rondoniano possa lutar lembrando sempre daqueles que estiveram aqui antes de nós, e desempenharam com heroísmo a construção de nossa história.
Aleksander Palitot
Professor e Historiador
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