domingo, 22 de fevereiro de 2015

UCRÂNIA: FOGO CRUZADO


Nos últimos dias tem-se evidenciado através dos meios de comunicação a crise envolvendo a Ucrânia e a Rússia. O assunto requer nossa atenção, pois é muito rico em informações e traz novamente à tona as relações Oriente/Ocidente, que nos remete a um tempo recente, a Guerra Fria, envolvendo EUA e URSS. Para melhor entendimento da crise atual, vamos conhecer os envolvidos, e posteriormente o seu desencadeamento.

                        A CRIMEIA



A Crimeia localiza-se no sudeste da Ucrânia e foi parte da Rússia até 1954, quando o então dirigente soviético Nikita Kruschev decidiu "dá-la de presente" à Ucrânia em gesto simbólico de amizade. Assim, a Crimeia tornou-se parte da Ucrânia, apesar de possuir certa autonomia. Sua população é de maioria étnica russa, o que faz com que esses russos ou seus descendentes queiram anexar-se à Rússia, deixando de fazer parte da Ucrânia. A região abriga muitos militares russos aposentados, e fica geograficamente distante de Kiev (capital da Ucrânia). A península da Crimeia é um ponto estratégico para os russos, porque eles têm lá uma base naval importante situada em Sevastopol, onde está a maior parte da sua frota. O Mar Negro constitui-se em uma espécie de trampolim em direção ao Sul, ou seja, para o Mar Mediterrâneo e Oriente Médio.

                                       UCRÂNIA


A Ucrânia é um país que resultou do desmembramento da União Soviética. Situa-se em uma posição estratégica na fronteira entre a Europa e a Rússia, entre o Ocidente e a Ásia, estabelecendo laços econômicos com a Rússia e a União Europeia. Recentemente, tentativas de acordo para estreitar as relações com a EU aumentaram a tensão com a Rússia. A Ucrânia possui um amplo território e é um grande produtor de grãos, açúcar e minerais não ferrosos. O país está entre os maiores exportadores de grãos do mundo. Mas, apesar disso, atualmente a Ucrânia precisa de empréstimos urgentes para evitar a sua falência estatal, pois vive uma crise econômica e política. O país, desde o colapso da União Soviética em 1991, tem estado dividido entre leste e oeste, o que se reflete na língua e na cultura. No sul e leste do país, o russo é o idioma mais falado. No centro e oeste e em regiões próximas a Europa, o ucraniano é a língua principal e existe muita identificação com a Europa central.

                                       RÚSSIA


A Rússia estende-se por grande parte da Ásia (norte) e Europa (leste), sendo o maior país do mundo em extensão territorial. Possui o maior arsenal nuclear do mundo e o maior número de armas de destruição em massa. Encontra-se entre as 10 maiores economias do mundo, sendo responsável por 20% da produção mundial de gás natural e petróleo. A Rússia, depois da queda da União Soviética, vem tentando estabelecer uma economia de livre mercado. Em 1998 sofreu uma grave crise, na qual o rubro (moeda oficial) desvalorizou e causou sérios problemas à população. Em maio de 2012 assumiu a presidência da Rússia Vladimir Putin, e o PIB do país voltou a crescer, com taxas médias de 6% ao ano; entretanto, a economia é ainda extremamente dependente da exportação de petróleo, responsável por cerca de 80% das exportações do país.

 As manifestações na Ucrânia tiveram início em novembro de 2013, quando o governo do presidente Viktor Yanukovich desistiu de assinar um acordo de livre-comércio e associação política com a União Europeia. Diante dessa desistência do governo e da intenção de manter-se aliado da Rússia, parte da população pró-ocidente foi às ruas protestar contra a decisão, o que resultou em manifestações violentas, e uma forte repressão por parte do governo que levou à morte muitos civis. As manifestações culminaram em fevereiro de 2014 com o afastamento de Yanukovich da presidência pelo parlamento do país. Yanukovich foi eleito democraticamente em 2010, mas a população ucraniana está cada vez mais insatisfeita com a dependência ucraniana em relação a Moscou e com o excesso de poder que o presidente concentra em suas mãos. Nesse contexto, a oposição ucraniana assumiu o governo.

A saída do presidente Yanukovich fez com que manifestações em favor da Rússia ocorressem na Crimeia (aliada de Moscou). O parlamento local foi tomado por um comando que instituiu sua independência e posterior anexação à Rússia. O governo não é considerado legítimo pelas forças internacionais e pelo governo da Ucrânia. Com as tensões, a Rússia enviou tropas para a Crimeia, dominando bases militares e aeroportos. O presidente Vladimir Putin justificou sua atitude alegando estar defendendo os interesses e a segurança dos cidadãos da Crimeia e também da Ucrânia. O parlamento da Crimeia realizou em 16/03/14 um referendo popular que resultou em mais de 95% da população votando pela anexação à Rússia e a consequente separação da Ucrânia.

União Europeia e EUA manifestaram-se contrários ao referendo e não reconhecem sua legalidade. A Rússia e a Crimeia assinaram dia 18/03/14 um tratado de anexação da península ucraniana à federação Russa. Vladimir Putin declarou na oposição que "A Crimeia sempre foi parte da Rússia nos corações e mentes das pessoas." Prometeu também defender os direitos da Rússia na região, criticou o novo governo ucraniano e disse não temer sanções internacionais.
No dia 21/03/2014 Vladimir Putin tornou a Crimeia oficialmente parte do território russo, assinando a lei de anexação. Após a anexação formal, foi anunciada a suspensão do desconto fornecido para a Ucrânia na compra de gás em troca do aluguel da base de sua frota no Mar Negro.

                   Reação do mundo a crise


Depois de Moscou anexar a Crimeia (março/2014), o Ocidente impôs sanções à Rússia relacionadas à proibição de vistos para algumas autoridades e oficiais da Rússia e da Crimeia, banindo a entrada em seus territórios. Existe, porém, a possibilidade de serem impostas sanções mais duras contra a economia russa caso Moscou envie mais tropas à Ucrânia Em entrevista à revista alemã Focus em 02/04/14, o secretário-geral da OTAN (Organização do Tratado do Atlântico Norte), general Andres Fogh Rasmussen, declarou que:
“Ao cometer esses atos, a Rússia abalou nossa parceria e foi contra seus próprios engajamentos internacionais. Não podemos continuar como se nada tivesse acontecido”, referindo-se à anexação da Crimeia ao território russo. Argumentou ainda que: "Tememos que não seja o suficiente para ele (Putin). Tememos não estarmos lidando com um pensamento racional e sim com emoções, o anseio de reconstruir a antiga esfera de influência da Rússia em sua vizinhança."


Em contrapartida, a Rússia acusou a OTAN de usar a linguagem da Guerra Fria ao suspender a cooperação com Moscou: "A linguagem dos comunicados se assemelha às disputas verbais da era da 'Guerra Fria'", disse o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores russo Alexander
Lukashevich em comunicado.
Esse assunto com certeza não acaba aqui, terá continuidade; por isso precisamos ficar atentos a todas as notícias referentes a ele.

Para o ENEM 2015, algumas dicas de como explorar esse assunto:
• Conflitos Estados Unidos e Rússia;
• A anexação da Crimeia à Ucrânia em período significativo da Guerra Fria em 1954;
• O memorando de Budapeste;
• Ucrânia: situação do país após queda da União Soviética;
• Comunidade dos Estados Independentes (CEI);
• A perda da influência da Rússia no contexto mundial e a possível tentativa de recuperá-la, garantindo a primazia de poder e influência sobre seus vizinhos. Putin teme que as vantagens do capitalismo atraiam os países que ele considera satélites da Rússia.


Aleks Palitot
Historiador reconhecido pelo MEC pela portaria n° 387/87
Diploma n° 483/2007, Livro 001, Folha 098

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