Getúlio Vargas desembarcando em Porto Velho no Rio Madeira em 1940 |
A “Marcha para o Oeste” idealizada em 1938 pelo
governo brasileiro e ampliada nos anos posteriores, tinha como fator a imagem
da Nação no sentimento dos brasileiros. Essa idéia, como frisou Alcir Lenharo,
era difundir tal imagem com base no ideal de uma nova ordem, em que a política
passasse a ser entendida como ato amoroso a envolver, reciprocamente,
governantes e governados.
O ideário do Estado Novo de Getúlio Vargas, calçado
na força da ação do governo e modelado pelos intelectuais arregimentados para
divulgar a fundamentação do discurso do seu governante, propunha mostrar aos
brasileiros um retrato da Nação em movimento, visando a transformação das
fronteiras políticas do Sul, Oeste e Norte em fronteiras econômicas.
Getúlio Vargas ladeado pelas damas de Porto Velho - 1940 |
Nesse período Rondônia não existia, a economia da
região estava resumida a coleta de látex, funcionamento da Estrada de Ferro,
Colônias Agrícolas criadas por Aluízio Pinheiro Ferreira e a movimentação de
navios pelo Madeira, Mamoré e Guaporé. Porto Velho ainda era município do
Amazonas, e do Mato Grosso era Guajará-Mirim e esta, por exemplo, progredia sem
contar com investimentos de infraestrutura na sua área urbana. Os benefícios
que vinha recebendo provinham da ferrovia que tinha ali sua estação terminal. A
sociedade local, em 1937, demonstrando o descontentamento que sentia pela
omissão do governo estadual aos seus problemas, endereçou ao presidente da República
um abaixo-assinado pedindo a criação de um território federal naquela
fronteira.
Getúlio Vargas no barranco do Madeira ao lado do Major Aluízio Ferreira |
A população de Porto Velho alimentava a mesma mágoa
pelo abandono que sofria do Estado do Amazonas. “Longe do Mato Grosso, longe do
Amazonas, eles se sentiam desamparados por ambos e muitas vezes tributados
duplamente pelos dois Estados.
Vargas então alimenta um discurso que induz essa
região aparentar ilhas e espaços vazios do arquipélago, configurava o Brasil e
suas distorções entre Norte – despovoado, subdesenvolvido, marginalizado por
contingências de sua grandeza e de sua distância dos centros de decisão – e o
Sul, em franco desenvolvimento, populoso e industrializado.
VISITA A PORTO VELHO - 1940
Getúlio Vargas iniciada uma jornada pela Amazônia
que se iniciara em Belém em 6 de outubro de 1940, que se segue por Manaus até
dia 10 do mesmo mês. Quando então ele decide conhecer a região de Porto Velho
no dia 11 de outubro e pelo previsto permaneceria aqui apenas três horas, e no
final das contas por aqui ficou três dias.
Desfile estudantil - Colégio Maria Auxiliadora - 1940 |
Aluízio Pinheiro Ferreira então chefe do Pelotão de
Fronteiras da região e Diretor da Estrada de Ferro Madeira Mamoré, havia
preparado toda a cidade de Porto Velho para receber o presidente. A idéia era
convencer Getúlio permanecer por mais dois dias, e convencer o mesmo, da
criação do Território Federal do Guaporé, hoje Rondônia. Getúlio foi muito bem
recepcionado pela população, povo este que se preparou com inúmeros ensaios de
paradas militares e desfiles para impressionar o líder do Estado Novo. Porto
Velho naquela oportunidade possuía uma população de 5 mil habitantes, ainda com
ares provincianos e beradeiro, isso encantou e motivou Getúlio, ao perceber o
empenho do povo em lhe receber, assim, o mesmo permanece em nossa cidade, e
segundo a historiadora Yeda Borcacov, o mesmo teria pedido uma rede para dormir
na casa sede do Administrado da Estrada de Ferro Madeira Mamoré.
Getúlio Vargas visita um castanhal em Porto Velho em 1940. |
Getúlio chegou aqui em Porto Velho através de um
hidroavião, que pousou no Rio Madeira defronte a cidade próximo ao complexo da
ferrovia. Nos dias que se seguiram, o presidente foi cortejado com vários
eventos na agenda oficial. Logo que chegou, houve um desfile em sua homenagem,
700 estudantes dos colégios Dom Bosco, Maria Auxiliadora e Barão Solimões.
Trabalhadores da Estrada de Ferro em desfile para Getúlio - 1940 |
Também desfilaram grupamentos militares da fronteira, composição de máquinas
rodoviárias manejadas por tratoristas da cidade, 400 homens das turmas de
conservação das estradas de ferro e de rodagem e os operários das oficinas da
ferrovia, guiados por feitores e mestres-de-obra empunhando com garbo os seus
instrumentos de trabalho. Depois do desfile o presidente da República inaugurou
a Usina de Eletricidade e o edifício dos Correios e Telégrafos, sem pressa,
pois resolvera prolongar ali sua permanência.
Getúlio inaugurando uma Termoelétrica em Porto Velho - 1940 |
A permanência do presidente durante três dias em
Porto Velho serviu para assentar as bases da criação de um território federal
nas áreas dos municípios de Porto Velho e Guajará-Mirim. Ele deixou ali, na sua
despedida, como lembrança, uma frase que se tronou o lema da cidade:
“Em Porto Velho cada soldado é um operário e cada operário um soldado
com o objetivo comum de trabalhar pelo engrandecimento da Pátria”
Inauguração dos Correios de Porto Velho por Vargas em 1940 |
Os efeitos da visita do presidente Getúlio Vargas
em Porto Velho passaram a ser sentidos por causa dos aumentos de recursos
concedidos à Estrada de Ferro Madeira Mamoré pelo Ministério da Viação e Obras
Públicas, para aplicação em construções de infraestrutura em Rondônia. Vargas
envia verbas com valores significativos para a construção de várias edificações,
como a finalização do Bairro Caiari, sede da Administração da Estrada de Ferro
(Prédio do Relógio), Palácio do Governo do Território, Hotel Porto Velho (Unir
Centro) e finalização do Mercado Municipal (Mercado Cultural).
Vargas se despede de Porto Velho no dia 13 de outubro de 1940 |
O primeiro governador do Território Federal do
Guaporé (Rondônia) foi o major Aluizio Pinheiro Ferreira, convidado para
exercer aquela função pelo presidente Getúlio Vargas na manhã de 13 de setembro
de 1943, no Palácio Rio Negro, em Petrópolis, quando lhe foi comunicado que
naquela data foi criada uma nova unidade federada no sertão rondoniano. A posse
do governante ocorreu a 24 de novembro de 1943, no Salão Nobre do Ministério do
Interior e Justiça, no Rio de Janeiro, e a solenidade de instalação do cargo
foi efetuada em Porto Velho, no Grupo Escolar Barão Solimões, a 24 de janeiro
do ano seguinte.
Aleks Palitot
Historiador
reconhecido pelo MEC pela portaria n° 387/87
Diploma n°
483/2007, Livro 001, Folha 098
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