“Rondon, esta alma forte que se interna pelo
sertão, na sublime missão de assistir o selvagem”. Paul
Claudel
Marechal Rondon ao lado de Aluízio Pinheiro Ferreira “A tradição viva da verdade militante é que há de ser o Homero de vossas glórias”. Rui Barbosa |
Palavras parecem não ser suficientes para
narrar a epopeia de um homem cidadão do mundo amazônico, que árdua missão
assumiu para integrar este canto do mundo ao Brasil. São os “fios da história”
que levarão ao povo brasileiro a possibilidade de descobrir o Brasil mais uma
vez. Rondon não se limitou a erguer postes telegráficos e construir estações.
Ele foi além da missão, ele foi ao limite do mundo até então desconhecido, e
assim, permitiu que a nossa Amazônia fosse conhecida com mais propriedade, com
mais riqueza de detalhes e permitindo que este mundo verde não apenas fosse de
fato integrado ao país, mas o inverso, sendo assim, a construção das Linhas
Telegráficas da Comissão Rondon, para nós um legado histórico fantástico
deixado pelo suor, dedicação e alma de um verdadeiro cidadão brasileiro.
Visita ao túmulo do cientista e amigo. “Tem na sola dos pés o mais longo caminho jamais percorrido”. Jaguaribe de Matos |
A idéia de colocar os estados da região Norte em comunicação com o resto
do país já vinha sendo discutida desde o período do Império. Com a proclamação
da República, o governo colocara em prática o projeto e criara a Comissão
Construtora das Linhas Telegráficas. Para chefiar a quarta e última etapa da
linhas telegráficas saindo de Cuiabá, Mato Grosso ao Amazonas entre 1907 e 1915
foi escolhido o homem certo para o lugar certo: Cândido Mariano da Silva
Rondon.
O Tratado de Petrópolis assinado no dia 17 de novembro de 1903 deu ao
Brasil o compromisso de construir a Ferrovia Madeira-Mamoré. Em troca,
anexava-se ao Brasil, as terras que hoje formam o Estado do Acre, acrescentando
mais, a necessidade de se colocar a região em contato com a capital do país.
Por isso, a comissão Rondon teria a missão de ligar Cuiabá a Santo Antônio do
Madeira e à região do Acre. A primeira etapa dos trabalhos seria o
reconhecimento, a exploração topográfica da região por onde passaria a linha
telegráfica.
Rondon na região do Araguaia |
Para executar o reconhecimento geográfico, Rondon dividiu o projeto em três etapas. Os trabalhos de cada etapa seriam executados por expedições separadas. Sendo as etapas: primeira com a expedição que executaria o reconhecimento de Cuiabá ao rio Juruena. A segunda expedição faria o reconhecimento do rio Juruena à Serra do Norte. A terceira partiria da Serra do Norte e atingiria Santo Antônio do Madeira.
No ano de 1907 deram início aos trabalhos. A primeira expedição saíra de
Cuiabá em agosto. Além de Rondon, compunha a expedição, o Tenente João
Salustiano Lira, o farmacêutico Benedito, o fotógrafo Leduc e mais 12 pessoas,
entre trabalhadores e soldados do exército. No dia 02 de setembro, a expedição
partiu da localidade de Diamantino e seguira em direção a Serra dos Parecis e
já no dia 07 de setembro, a expedição entrara em contato com os índios Parecis
que já eram civilizados.
No mês de outubro, a expedição já se encontrara em território dos índios
Nhambiquaras. No dia 20 de outubro, a expedição atingira as margens do Juruena.
Ali próximo, havia uma aldeia dos Nhambiquaras e Rondon resolvera fazer contato
com os índios, e assim o fez, mas acabou sendo flechado pelos mesmos. Mesmo
sendo hostilizado, Rondon mantem a tropa segura, e não permiti que o alto grau
de tensão, pudesse levar seus comandados a cometerem um massacre. Em suma, na
visão de Rondon os índios defendem sua casa, a floresta.
As operações da primeira expedição duraram 89 dias. Durante esses dias
foram feitos reconhecimentos entre as regiões de Diamantino e o rio Juruena. No
dia 29 de novembro de 1907, a expedição chegou ao povoado de Diamantino e em
seguida, retornou a Cuiabá.
A segunda expedição em 1908 era composta por 127 homens, todos armados,
90 bois cargueiros, 50 burros de cargas, mais 30 de sela, 06 cavalos, 20 bois
para corte. A expedição percorreu o caminho anteriormente mapeado em 1907, em
seguida atravessam os sertanistas o Rio Juruena e novamente são atacados pelos
índios Nhambiquaras que naturalmente defendem sua terra. Mesmo assim, Rondon
ali instalou o “Destacamento Juruena”, com 62 praças, sob o comando do Tenente
Ferreira. Prosseguindo os trabalhos, finalmente Rondon chegou a Serra do Norte.
Ali Rondon fincou o marco de 129 quilômetros.
De todas as expedições, a última de 1909 foi a que mais dificuldade
enfrentou. A expedição se caracterizou como uma verdadeira expedição de
exploração e reconhecimento. O percurso a ser reconhecido era também o mais
extenso. Por ele Rondon percorreu 1.100 quilômetros via fluvial e 1.200 via
terrestre. Até então no mapa do Brasil o que hoje é o Estado de Rondônia era
denominado de “Terras Desconhecidas”. Essa região tratava-se do espaço situado
entre a Serra do Norte e a cidade de Santo Antônio do Madeira, hoje um bairro
de Porto Velho.
Essa última etapa dos trabalhos de reconhecimento, envolvia uma região
onde as características geográficas praticamente, eram inexploradas. Daí
também, a necessidade de serem feitos estudos envolvendo a parte do relevo,
hidrografia, fauna, flora e solo da região. Consciente das suas
responsabilidades, das dificuldades a serem enfrentadas, Rondon dividiu a
expedição em duas turmas e denominou de “Turma do Norte” e “Turma do Sul”.
O período de construção das Linhas Telegráficas em nossa região pela
Comissão Rondon ocorreu entre os anos de 1907 e 1915, sendo inaugurada
oficialmente em 1° de janeiro, quando Rondon profere um grande discurso
enaltecendo o Brasil, o seu povo e a integração pelos fios do telégrafo.
Lembrou também do trabalho de seus comandados que encaram o grande desafio de
encarar a floresta amazônica sofrendo com as doenças, ataque dos índios e
outros desafios que diariamente eram apresentados aos homens que ligaram essa
região da Amazônia aos centros políticos do Brasil pelos “fios da história”.
Aleks Palitot
Historiador reconhecido pelo MEC pela portaria n° 387/87
Diploma n° 483/2007, Livro 001, Folha 098
Historiador reconhecido pelo MEC pela portaria n° 387/87
Diploma n° 483/2007, Livro 001, Folha 098
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