quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Aventura para ensinar história - no Diário da Amazônia

Do Diário da Amazônia

Semanalmente, quando vai ao ar o programa Trilhando a História, exibido na RedeTV, o jovem historiador Aleks Palitot entra na casa dos rondonienses para contar de maneira dinâmica e in loco um pouco da história de Rondônia, relatada, até então, apenas em livros. O apresentador do programa, que ao longo dos anos vem conquistando cada vez mais audiência e desbravando a história é exemplo de que quando se faz algo com dedicação, não há limites de possibilidades, até mesmo para uma profissão com tantos desafios e desvalorizada: a de professor. Longe de estar desmotivado, Aleks divide o tempo da sala de aula no Colégio Objetivo com mestrado, MBA e um programa de TV que não tem limite de fronteira.

Em entrevista ao Diário, o Aleks Palitot, conta como traçou uma história bem diferente ao se entregar de corpo e alma ao ofício de professor.

Diário: Como começou essa ideia de integrar a sala de aula com a atividade de campo?

Aleks Palitot: Sou professor há mais de 10 anos, nascido em Rondônia, sempre gostei de história, sempre foi a área que busquei na minha meta de vida. Minha família é tradicional, meu avô foi mestre de obras em prédios importantes de Porto Velho, como o Palácio do Governo e a Catedral, minha mãe foi pedagoga 40 anos, minha tia foi engenheira da Madeira-Mamoré, então minha família sempre integrou o panorama histórico-cultural de Rondônia, então eu tinha que fazer história mesmo. E a gente sempre buscou na disciplina fazer algo diferente.

O projeto do programa começou dentro da sala de aula, eu sempre procurei fazer atividade de campo com os meus alunos. Desde 1999 comecei a fazer atividade na Estrada de Ferro, nos lugares mais próximos de Porto Velho. A gente tinha vários projetos pedagógicos interdisciplinares, que envolviam outras áreas como Biologia e Geografia e a conseqüência da maturidade que se levou essas atividades, começamos a viajar para outras localidades fora do perímetro urbano de Porto Velho. Fomos para Guajará-Mirim, Abunã, para Vila Bela no Mato Grosso, Ji Paraná, Ouro Preto, Costa Marques e pretendemos ir para outros lugares.

O publicitário Washigton Olivetto disse que hoje qualquer um pode ser publicitário ou fazer qualquer coisa. A questão da mídia hoje está muito aberta, por conta do mundo digitalizado. Hoje por conta do youtube todo mundo tem a possibilidade de fazer um vídeo e colocar na internet e você pode ser visto. E numa dessas eu peguei a minha câmera digital e comecei a fazer vídeos com os alunos das minhas viagens e atividades, fazia uma edição bem ‘chinfrin’ e colocava na internet e os alunos passavam para os colegas. Um produtor do SBT achou legal e quis levar isso para a TV. E eu nunca levei a sério, e ele veio na escola e eu vi que era sério mesmo.

O primeiro programa foi ao ar em maio de 2008 e foi muito interessante, pois a gente faz um programa que não tem nenhum cunho jornalístico, pois eu sou historiador. O que eu faço na TV é o que eu faço em sala de aula, por isso a linguagem é bem espontânea e sempre associando com aventura, pois o nosso objetivo inicial era atingir o público juvenil. Mas a gente acabou percebendo, através de pesquisas, que o programa atingia de 8 anos de idade até 80.

O projeto em si, que é transformar a casa das pessoas em uma sala de aula, também é de resgatar essa questão do orgulho de ser da região Norte e de viver na Amazônia. O nosso objetivo sempre foi de despertar nas pessoas esse espírito de jornalista mesmo e gostar da região e até quem não é daqui, pois muitas vezes as coisas ficam guardados nos livros. Se você não tem um livro tão atrativo assim, a gente pode proporcionar uma atividade com conteúdo, com dinamismo, conversando com pessoas da história de Rondônia, que merecem ser lembradas e homenageadas, lugares históricos, até a gente despertar essa idéia de que as pessoas tenham orgulho da sua cidade e defender a cidade com unhas e dentes.


Diário: Como você faz para conciliar o programa com suas atividades profissionais?

Aleks Palitot: A gente tenta conciliar, é muito complicado. Eu estou fazendo meu segundo mestrado, agora na Unir, fiz outro pela Complutência de Madrid, em História Contemporânea, e agora estou fazendo outro sobre Desenvolvimento Regional e um MBA na Fundação Getúlio Vargas em Gestão Pública. Eu diminuí bastante a minha carga horária na escola, deixei outras escolas, e a gente grava os programas no fim de semana. É realmente uma loucura! Durmo às duas da manhã, acordo cedo, tenho que estudar para o mestrado, ainda tenho a atividade escolar. Mas é uma coisa que eu faço com prazer. Para mim, o “Trilhando” trouxe muitas coisas boas, não tenho do que reclamar, exige muita dedicação, mas a gente tem aquilo que nunca falta que é o amor pela atividade que faz.

Diário: Quais as suas metas com o programa?

Aleks Palitot: Já me perguntaram o que eu pretendo fazer com isso. O programa começou como uma brincadeira, e nós vamos levar, não como uma brincadeira, mas vamos deixar as coisas acontecerem naturalmente. Não estabelecemos metas e não pensamos muito grande, o que for acontecendo vamos absorver com muita naturalidade.

É claro que a gente tem os nossos objetivos, de lugares para filmar, de filmar o Estado todo. Esse ano estamos com a meta audaciosa de gravar em Espanha e Portugal, a gente quer falar sobre Rolim de Moura, Pedro Teixeira, esses caras que vieram de Portugal para Amazônia, esses personagens da história a gente quer trabalhar fazendo esse link da Europa com a Amazônia já que essa região foi ocupada por espanhóis e portugueses.

A gente também tem a pretensão de gravar em outras regiões do Brasil. Já recebemos o convite do governo de Roraima para gravar sobre expedição do Monte Roraima, falar sobre Boa Vista, o governo do Acre também já oficializou um convite e faz a relação com o Tratado de Petrópolis, Revolução Acreana. A gente tem também uma gravação marcada em Ouro Preto, em Minas Gerais, um programa especial sobre a Inconfidência Mineira. Temos um programa em São Paulo, já gravamos no Museu Paulista e queremos retornar para falar das fotografias da Danna Merril que se encontram lá. Tem um que pretendemos gravar no Rio de Janeiro sobre a visita de Getúlio Vargas a Porto Velho na década de 40 no Palácio do Catete.

Tem muito lugar aqui em Rondônia que a gente não gravou ainda, mas é uma coisa que eu preciso decidir da minha vida. Se eu quero continuar a ser professor ou se quero trilhar a história. E a nossa grande questão hoje é saber se eu continuo em sala de aula ou não. Eu sempre tento conciliar o calendário da escola com as minhas viagens. Tenho uma viagem para Roraima e são oito dias no mínimo e outra para a Bolívia, com nove dias. Então muita coisa eu deixo passar por estar em sala de aula. Só que eu sou um cara muito grato à sala de aula porque aprendi muito com ela. Os meus alunos são o meu termômetro. Deixar a sala de aula para priorizar o programa, não sei se isso vai ser bom ou não, no aspecto de perder o contato com os alunos, pois eles participam do programa.

O ensino hoje não pode ser restrito a quatro paredes, nem às mídias sociais. Você tem que viver realmente onde a história acontece. Onde a Biologia e a Geografia acontecem e viajar nesse mundo.

Fonte : Diário da Amazônia Autor : Diário da Amazônia



sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Trilhando na Mídia Nacional - Revista de História da Biblioteca Nacional

Rondônia e suas identidades

Programa de TV 'Trilhando a História' mostra marcos históricos, a culinária local, festividades, figuras relevantes do estado, com uma narrativa de programa de esportes radicais e entrevistas.

Ronaldo Pelli
 
 Diga sem pensar muito: o que você sabe sobre Rondônia? Infelizmente, é incomum encontrar um grande conhecedor sobre um dos extremos geográficos do Brasil entre os que vivem longe da Região Norte e da Floresta Amazônica. Para tentar contar a história desse estado de menos de 30 anos e mostrar a identidade de rondonienses (nascidos em RO) e rondonianos (os que adotaram o estado para viver), Aleks Palitot apresenta o programa “Trilhando a História”, que passa na Rede TV Rondônia e em toda a América Latina pela transmissão via antenas parabólicas.
“Sou de Rondônia e não de Roraima”, fala Palitot, afirmando ficar irritado com quem confunde ou não se importa com os estados. “[Muitos] acham que aqui só tenha índio – têm sim e com muito orgulho – mas não significa que índio não seja pessoa, nem que os que vivem aqui, na construção desse estado, sejam selvagens. Mais selvagem é aquele que é indiferente com o Norte do Brasil.”
Palitot, que é formado em História, com mestrado em História Contemporânea e cursando o segundo mestrado em Desenvolvimento Regional e Meio Ambiente, explicou, então, para quem não conhece o estado, quem é, ou melhor, quem são os moradores de Rondônia:
“Temos vários tipos de rondonienses. O do beiradão, que vive da pesca, da coleta na floresta e das pequenas plantações de várzea nas beiras dos rios. Temos o rondoniense do Sul do Brasil, que veio na década de 1970 ocupar a região e aqui deixou sua marca, parte de suas tradições gaúchas e juntou com a da Amazônia. Temos o rondoniense agricultor e pecuarista. Temos o rondoniense tradicional, herdeiro e descendente da construção da estrada de Ferro Madeira Mamoré, ou das linhas Telegraficas de Rondon. O rondoniense quilombola que luta pelos seu valores afros, homens e mulheres que representam um passado de exploração no Vale do Guaporé durante o ciclo do ouro e a construção do Real Forte Príncipe da Beira em 1776. Temos os ex-seringueiros do ciclo da borracha, ou os descendentes da construção da BR 29 ou 364.”
O professor, que se esforça para conciliar o trabalho na sala de aula, com o de apresentador e também com o papel de estudante, contou que o programa nasceu quase sem querer. Segundo explicou, ele leva seus alunos para “excursões pedagógicas” e grava as viagens. Um produtor do SBT local descobriu os vídeos e o procurou, mas Palitot achou que era uma piada.
“Quando, então, o [produtor] Marcelo [Suzukki] foi ao colégio a ficha caiu. Ele adorou a filmagem caseira e me convidou para fazer na TV aquilo que normalmente faço em sala de aula ou fora dela nas atividades de campo. Assim, aceitei e na primeira filmagem que era o piloto do programa, deu tão certo que logo foi pro ar!”
Desde 2008, já foram 189 programas produzidos, que retratam marcos históricos, a culinária local (tacacá, vatapá, tambaqui na folha da bananeira, tapioca), festividades, figuras relevantes, a própria escola em que trabalha, uma das mais tradicionais do estado, mostrando a história com uma narrativa de programa de esportes radicais e entrevistas de celebridades.
Além desses, há mais dez editados, esperando o fim das “férias” para serem exibidos. As férias vêm entre aspas porque, apesar de até 22 de fevereiro não ter nenhum programa inédito na TV, a equipe do programa continuou a trabalhar, viajando para o Peru e gravando nas cidades de Nasca, Paracas, Machu Picchu, Cusco e Arequipa. Mas as viagens não acabam no Peru: “Teremos gravações esse ano em tribos indígenas, em Ouro Preto-MG, em Roraima, Mato Grosso, Acre, Bolívia, Venezuela e, claro, em todo o Estado de Rondônia”, conta Aleks, demonstrando que Rondônia é o início e o fim do programa.