terça-feira, 16 de abril de 2013

Tiradentes, as faces de um mito

Interrogar o passado significa, acima de tudo, ampliar os horizontes para sua plena compreensão. Num acontecimento histórico marcante, atuam inúmeros agentes, sob diferentes primas, cada qual contribuindo, a seu modo, para que o fato ultrapasse a circunstancialidade e venha a integrar a vida dos povos e das nações. A pesquisa, o debate, o confronto de opiniões, são elementos imprescindíveis para que o resgate dos eventos históricos se realize em toda a sua plenitude. Com isso, evita-se o artifício da redução simplista dos acontecimentos, retirando o ato de contar do âmbito passional e transportando-o para o espaço da análise histórica, para assim, não ficarmos apenas com a memória nacional formatada pelo Estado, mas sim para também refletirmos sobre a memória subterrânea, analisando cautelosamente o discurso oposto, abrangendo as duas faces da história.
Tentando encontrar o melhor caminho da face da história, levantamos algumas indagações pertinentes, e até mesmo as inúmeras versões, sobre uma figura histórica importante para o Brasil, Tiradentes. Um fato histórico, que comemoramos todos os anos no dia 21 de abril, o primeiro feriado decretado pelos militares após a Proclamação da República, algo que foi possível a partir da Revolta denominada Inconfidência Mineira em 1789. O herói Tiradentes como o único a receber uma punição severa por ser, segundo a História oficial, o representante popular do grupo dos inconfidentes e ter lutado pela liberdade do país, ele teria assumido toda a responsabilidade pelo evento. O historiador inglês Kenneth Maxwekll, em seu livro “A devassa da devassa” aponta características de Joaquim José da Silva Xavier bastante significativas para que este perfil de herói seja visto com cautela.
Mesmo após a Independência do Brasil, em 1822, Tiradentes não seria reconhecido como mártir da Inconfidência Mineira. Somente em 1867 é que se ergueu em Ouro Preto, um monumento em sua memória, por iniciativa do presidente da Província Joaquim Saldanha Marinho. Mais tarde, somente no período republicano, o dia 21 de abril se tornou feriado nacional, e, pela Lei 4.867, de nove de dezembro de 1965, Tiradentes foi proclamado patrono cívico da nação brasileira. Hoje não se concorda muito com a idéia de que ele fosse do setor popular e que teria sido executado por isso. Ele teve mesmo as preterições na cavalaria, não teve as promoções às quais aspirava, mas era proprietário de escravos, teve problema com as datas minerais onde não teve sucesso”, explica a professora do Departamento de História da UFOP (Universidade Federal de Ouro Preto), Andréa Lisly Gonçalves.

“É verdade que há registros de uma grande comoção popular no dia do enforcamento de Tiradentes, em 21 de abril de 1892, no Rio de Janeiro.” Segundo Renata Costa, em seu artigo “Mito de Pés de Barro”, conta-se que Tiradentes havia assumido uma postura espiritual dentro da cadeia e foi para a forca demonstrando paz de espírito. Ainda que tão famoso, pouco se sabe sobre os ideais de Tiradentes. Segundo o professor Villa, o fato do mártir não ter deixado nada escrito faz com que ele seja um líder sobre o qual não é possível dizer nada. “Neste aspecto, sabemos mais sobre Cristo através da Bíblia do que sobre Tiradentes”, diz. Por outro lado, salienta Furtado, por não ter deixado registros, se torna uma figura heróica ideal. Tiradentes não foi considerado um herói tão logo morreu e só passou a ser cultuado 98 anos após a sua morte. Como defendia idéias iluministas republicanas e antimonarquistas, durante o período imperial brasileiro, seu nome quase não era citado.

O que sabemos sobre o Herói?


Seu nome completo era Joaquim José da Silva Xavier. Nasceu no ano de 1746, na Fazenda do Pombal, distrito de São João Del Rey, em Minas Gerais. Porém, não há registro da data de seu nascimento, apenas do seu batismo, em novembro daquele mesmo ano. Ao contrário do que seu apelido insinua, Tiradentes não suportava arrancar dentes. Ele era muito mais a favor de preservar os dentes do que arrancá-los. Porém, quando arrancar era irremediável, ele colocava coroas artificiais, feitas de marfim e de osso de boi, que ele mesmo fabricava.
Aos 40 anos, se apaixonou por Ana, uma menina de 15 anos, mas ela já estava prometida a outro homem. Tiradentes nunca se casou, mas teve dois filhos – João, com Eugênia Joaquina da Silva, e Joaquina, com a viúva Antônia Maria do Espírito Santo. Tiradentes tentou várias profissões: dentista, tropeiro, minerador e engenheiro. Entrou, então, para a Sexta Companhia de Dragões de Minas Gerais, como alferes, uma espécie de segundo-tenente.

Tiradentes está diretamente ligado ao movimento que ficou conhecido como “Inconfidência Mineira”. Os historiadores preferem “Conjuração Mineira” já que o que aconteceu em Minas Gerais foi um ato organizado para conquistar a independência do país e não um ato de deslealdade, traição ou infidelidade, que servem para traduzir a palavra inconfidência.
Segundo relatos da época, Tiradentes era alto, magro e muito feio. Ele nunca usou barba e cabelos longos. Como militar, o máximo que se permitia era um discreto bigode. Ele foi enforcado no Rio de Janeiro, com a barba feita e o cabelo raspado, no dia 21 de abril de 1792. “Pois seja feita a vontade de Deus. Mil vidas eu tivesse, mil vidas eu daria pela libertação da minha pátria”, teria dito Tiradentes ao ouvir serenamente a sua sentença de morte.
Após o enforcamento, seu corpo foi esquartejado. As quatro partes foram postas em alforjes com salmoura, para serem exibidas no caminho entre Rio de Janeiro e Minas Gerais. A casa de Tiradentes em Vila Rica foi demolida, e o chão, salgado, para que nada brotasse naquele solo. A cabeça de Tiradentes foi levada do Rio de Janeiro para Vila Rica, em Minas Gerais e ficou exposta num poste em praça pública. Na terceira noite, foi roubada e nunca mais foi encontrada.
Em 1870, o movimento republicano o elegeu como mártir cívico-religioso e antimonarquista. A data de sua morte tornou-se feriado nacional em 1890. A primeira pintura oficial também data deste ano, de autoria de Décio Villares, que apresenta Tiradentes como Cristo, com barbas e cabelos longos. Tiradentes teve também exaltada sua imagem de militar patriota, quando nomeado patrono da nação pelo governo militar, em 1965, enquanto os movimentos de esquerda não deixaram de recorrer a ele como símbolo de rebeldia.
A história, como as outras formas de conhecimento da realidade, está sempre se construindo: o conhecimento que ela produz nunca é perfeito ou acabado. Em suma, ela procura especificamente ver as transformações pelas quais passaram as sociedades humanas. A transformação é a essência da história; que olha para trás, na história de sua própria vida, compreenderá isso facilmente. Nós mudamos constantemente; isso é válido para o indivíduo e também válido para a sociedade. Nada permanece igual e é através das diversas faces da história que percebemos as mudanças, as diferenças e as transformações.

Aleks Palitot
Historiador reconhecido pelo MEC pela portaria n° 387/87
Diploma n° 483/2007, Livro 001, Folha 098 

quinta-feira, 4 de abril de 2013

Trilhando Aventuras

O que faz o homem desbravar novos horizontes? Quem sensação é essa de inquietude, que faz o humano desde a pré-história a ser um eterno nômade? Segundo os gregos, o homem é um ser em constante movimento, mesmo inerte. Isso realmente procede. Mesmo sozinho, parado ou estático, o homem viaja, ou ao menos ensaia no pensamento uma odisséia no espaço e no tempo.
A equipe do Trilhando a História, viveu mais uma aventura, mais uma viagem no espaço e tempo. Dessa vez, percorreu-se a de carro a Cordilheira do Andes através da Estrada do Pacífico.
O objetivo era revelar a todos de Rondônia, uma cultura até então desconhecida para nós, a história e legado dos Incas. Mostrar os traços culturais que o país vizinho Peru possui. Riquezas na gastronomia, sítio históricos e principalmente a sua identidade. Um povo como ninguém, que nos presta um grande serviço, nos ensinando a defender a história, a preservar uma cultura milenar e o sobreviver de maneira sustentável no presente através do passado.
Foram onze dias de Expedição, a equipe visitou lugares exuberantes tais como a cidade sagrada de Machu Picchu, Cusco a capital do Império Inca, os sítios históricos de Puca Púcara e Tambamachay.
Os aventureiros também desbravaram a história da cidade de Lima, capital do Peru, que no passado foi denominada de Rimac ou Cidade dos Reis. De lá seguiram até a localidade de Paracas no deserto de Ica. Posteriormente sem descanso, pegaram o carro e partiram para a região de Tambo Colorado, representação histórica da presença de outras etnias além dos Incas na região. No final de tudo, evidenciaram a gastronomia da região, os costumes e as danças.
A aventura não ficou apenas em terra firme, os caçadores de aventura do Trilhando a História, navegaram pelo Oceano Pacífico de Paracas até as Ilhas Balestas, onde existe uma reserva ambiental, onde constataram o brilhante trabalho de preservação ambiental na ilha que se tornou a moradia segura de lobos marinhos, pingüins e diversas aves.
Nessa semana, os novos programas do Trilhando a História vão ao ar em diversos horários. Na terça-feira e quarta-feira a série Expedição Machu Picchu será exibida às 13 horas no Programa Câmera 11. Na quinta-feira e sexta-feira às 20 horas 30 minutos no Programa Tempo Real no canal 11 TV Record. E aos sábados e domingos às 13 horas no canal 58 Record News.

segunda-feira, 1 de abril de 2013

Edificações da História


O patrimônio histórico é feito da cultura do povo, suas tradições, festividades, gastronomia e tudo que se refere a identidade de um lugar. Faz parte também desse patrimônio, as edificações, prédios e monumentos que representem um período histórico e econômico do seu entorno. Cada mão, suor e força. De pedreiros, mestre-de-obras, engenheiros e ajudantes, moldaram não apenas uma sacada ou um reboco. Foram erguidos na Amazônia Ocidental as representações de ciclos econômicos, e momentos áureos vividos no passado e que permanecem vivos no presente, a partir de tijolos colocados e tendo o cimento como liga, que uniu as peças de um quebra cabeça chamado patrimônio histórico, que mantém vivo o esforço de homens que construíram não apenas uma cidade, mas escreveram uma história.
Em Porto Velho são inúmeros os edifícios que representam parte do período do ciclo da borracha. Alguns preservados e outros abandonados mas, a história e a memória não são feitas apenas de tijolos e edificações, são também feitas daqueles que lutam para preservar a sua identidade, sua casa, sua cultura e sua raiz. Contar a história de cada prédio, rua e monumento de Porto Velho, é lembrar daquilo que merece ser resgatado, o nosso passado. 

Catedral Sagrado Coração de Jesus
Sua pedra fundamental foi lançada no dia 3 de maio de 1917, quando Porto Velho pertencia a comarca de Humaitá, no Estado do Amazonas. Provisoriamente teria sido construída uma Capela provisória, que a comunidade local denominava Vaticano, situada onde hoje se encontra o edifico do governo estadual, que durante um temporal, teve sua estrutura muito comprometida ocasionando um desabamento.
Os trabalhos para a construção de uma nova obra em um novo local tiveram inicio em 26 de setembro de 1927, contando com o trabalho e apoio importante do Padre João Nicoletti. As obras da Catedral ocorrem em ritmo lento. O engenheiro Francisco Erse, auxiliado pelo mestre de obras, José Ribeiro de Souza e o auxiliar de pedreiro Crisóstomo Nina, introduziram em Porto Velho, a novidade das formas que lembram os estilo neoclássico da arquitetura da Igreja. Os afrescos existentes no alto das laterais internas da Catedral foram pintados pelo padre italiano Ângelo Cerri. As obras da Catedral, prosseguiam. Em 1960 foram colocados pela empresa Juca, de São Paulo, 147 m² de vitrais em estilo clássico, retratando a Via Sacra. 

Palácio do Governo ( Palácio Presidente Vargas)  
Em 13 de setembro de 1948 o Governador do Território Federal do Guaporé Joaquim Araújo Lima, lançava a pedra fundamental do futuro Palácio do Território. O engenheiro civil responsável pela obra foi José Otino de Freitas, que projetou uma edificação com linhas sóbrias e elegantes, com características eruditas. No primeiro governo de Ênio Pinheiro dos Santos Pinheiros (1953-1954) foram concluídas as obras e o Palácio foi inaugurado no dia 29 de janeiro de 1954, durantes as comemorações dos dez anos de instalação do Território Federal. 

Três Caixas D’água ( Três Marias )
As três Caixas D` água pussuem capacidade para armazenar 200 mil litros cada. O projeto de execução dessa obra foi da Chicago Bridge Iron Works. Construídas pela May, Jekll y Randolph durante a construção da Estrada de Ferro Madeira Mamoré. Em1910 temos apenas uma caixa dágua e em 1912 é concluída a montagem de mais duas. Essas caixas dágua, pintadas de preto, tinham tampas pintadas de branco, durante muito tempo abasteceram a cidade de Porto Velho, quando em 1957 foram desativadas. Foi tombada como patrimônio histórico em 1988.  
História do Mercado Municipal ( Mercado Cultural ) A origem da construção do Mercado Público coincide com a instalação do Município de Porto Velho, no dia 24 de janeiro de 1915, Major Fernando Guapindaia, resolveu criar o Mercado para resolver o abastecimento de carnes verdes. A primeira parte da edificação foi construída pelo português Pedro Renda. A obra ficou paralisada durante 15 anos e foi concluída apenas em 1950, quando Ruy Catanhede era Prefeito de Porto Velho. A concepção arquitetônica do prédio lembrava o estilo “art-decort” da primeira metade do século XX. Possuía quatro portais e em seu interior havia quatro pavilhões distribuídos em uma área de1.405 m², contento quarenta e quatro boxes.     
História do Edifício Monte Líbano Foi a primeira construção totalmente em alvenaria feita em Porto Velho pelos anos de 1915 e 1917. Edificado pelo Libanês Jorge Bichara que concluiu em 1950. Trabalhou na construção o mestre de Obras Simplício José, maranhense que chegou a Santo Antônio em 1901 onde prestou serviços às empresas Suares & Hermanos e a May, Jackyll e Randolph. O prédio têm três pavimentos e no passado várias empresas ocuparam o local: Caixa de Aposentadoria e Pensões dos Ferroviários, INPS, Comércio Abidão Bichara, Empresa Aérea Cruzeiro  do Sul, Shell Mex Brasil e a representação da Air France.O prédio foi abandonado e depois comprado pelo INSS – Instituto Nacional de Previdência Social. Restaurado na década de 1990.  
Edifício da Administração da Estrada de Ferro (Prédio do Relógio) Foi inaugurado no dia 15 de janeiro de 1950 na gestão do governador Joaquim de Araújo Lima. A concepção arquitetônica do prédio de dois pavimentos com área coberta de 1.500 m², de autoria do arquiteto  Armando Costa, do Rio de Janeiro, foi baseada no formato de uma locomotiva estilizada.  A torre ostenta um relógio, onde foi colocado um sino que tocava à época a cada 15 minutos e contem inscrições com os nomes do Governador Joaquim de Araújo Lima e do diretor da E.F Madeira Mamoré, Ananias Ferreira de Andrade. Esse relógio durante anos foi um seguro guia de horário para a população de Porto Velho e, em homenagem a ele, o povo batizou-o com o nome de prédio do relógio.
Clube Internacional (Ferroviário) No passado era chamado de prédio General Mess, na avenida sete de setembro, onde eram servidas duas mil refeições diária, com exceção do café da manhã,  aos funcionários da Estrada de Ferro Madeira Mamoré, local onde hoje é o Clube Ferroviário. Mais tarde nesse prédio funcionou o Clube Internacional inaugurado no dia 15 de novembro de 1919 com grande baile de gala.
 Aleks Palitot
Historiador reconhecido pelo MEC pela portaria n° 387/87
Diploma n° 483/2007, Livro 001, Folha 098