segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

Marco Rondon e o Marco do descaso

Marcon Rondon em Santo Antônio em 1927

Quando a área geográfica, hoje constituída pelo Estado de Rondônia, pertencia uma parte ao Estado do Amazonas e, outra, ao Estado de Mato Grosso, foi construído em atendimento ao artigo 6° do Acórdão n° 4, de 11 de novembro de 1899, do Supremo Tribunal Federal, um Marco Inicial Divisório visando fixar definitivamente os limites entre dois Estados. O Acórdão determinava também a construção de Marcos Secundários em madeira de lei. O art. 9° preconizava que deveria ser lavrado um termo na inauguração de cada Marco, com a sua descrição detalhada, definindo-o e caracterizando-o, assinados pelos representantes dos governos dos dois estados e pelos chefes das comissões demarcadoras. O primeiro Marco Principal, edificação de alvenaria de pedra, com argamassa de cimento e areia, à margem direita do Rio Madeira, às proximidades da cachoeira de Santo Antônio, situado nos paralelos 8° 48’00’’, da latitude sul e 20°45’46’’ sobre a longitude oeste do rio, constituiu o Marco Inicial da linha de limites entres os Estados do Amazonas e Mato Grosso.
Construído na parte mais alta do terreno em uma altitude de 41 metros, distante do rio, cerca de 84 metros, apresenta a forma: “ De uma pirâmide regular reta e triangular, encimando um prisma regular que lhe serve de alicerce e sobre o qual foi levantada de modo que as arestas de sua base ficassem paralelas às correspondentes da base d prisma. Este construído também de pedra e cimento com areia na mesma proporção acima indicada, tem um metro e vinte centímetros de altura e dele apenas vinte centímetros saem fora do solo. A altura da pirâmide é de dois metros e oitenta centímetros, o que dá ao Marco a altura de três metros acima do solo”. O interesse, ao observamos esse Marco, é constatarmos os dizeres do Termo de inauguração, assinado pelo Major Alípio Gama e Tenente-Coronel Felinto Alcino Braga, chefes das comissões Mato Grosso- Amazonas, lideradas por Marechal Rondon. Relatam: “De um lado e outro desse paralelo, sobre o qual devem também cair a projeção do vértice da pirâmide, ficam assim, num e no outro Estado, porções iguais do Marco que por isto tem uma face voltada para Mato Grosso, outra voltada para Amazonas, e a 3ª, em que se acha a data de inauguração, fica com a metade em cada um destes Estados”.
A inauguração do Marco Principal e Divisório foi no dia 10 de janeiro de 1911 e eram governantes dos Estados do Amazonas e Mato Grosso, respectivamente, o Cel. Antônio Clemente Ribeiro Bittencourt e o Cel. Pedro Celestino Corrêa da Costa.
Infelizmente o Marcon Rondon ou marco divisório será a partir deste mês, o mesmo mês em quem à 100 anos foi inaugurado, será lembrado também como o mês de sua destruição. E assim, aos poucos a modernidade sem controle e responsabilidade vai levando nossa identidade e nossa cultura. Devemos preservar o nosso patrimônio, este, faz remissão à propriedade de algo que pode ser deixado de herança. Acrescentando à noção de cultura, conclui-se que é um produto da cultura o que é herdado e transmitido de geração para geração. Como na noção de cultura, no conceito de patrimônio cultural também são indissociáveis as dimensões materiais e simbólicas. Por esse motivo, é, principalmente, da própria comunidade que deve surgir a decisão do que se deve ser preservado dentre seus produtos culturais. Nesse sentido, a preservação tanto pode se dar individualmente como coletivamente, podendo os indivíduos ou os diversos grupos sociais criarem mecanismos de preservação daquilo que julgarem digno de ser preservado.

Aleks Palitot
Historiador


terça-feira, 24 de janeiro de 2012

O Primeiro Prefeito de Porto Velho

Major Guapindaia, primeiro prefeito de Porto Velho. De 1915 à 17
Era o Major Fernando Guapindaia de Souza Brejense filho de Domingos Ferreira de Souza e de Da. Adélia Ferreira de Souza, e nasceu na cidade de Brejo, Estado do Maranhão, no dia 27 de outubro de 1873. Fez seus estudos em Escolas Públicas na capital do Estado do Maranhão. Verificou praça no Exército no Corpo de Engenheiros em São Luiz, de onde seguiu para o Rio de Janeiro.
Casou-se em São Luiz no dia 8 de novembro de 1889 com Luiza Teive, de cujo consórcio nasceram dois filhos: Teivelinda e Teivelindo. Major Guapindaia chegou a Manaus em 1911, servia ao 48° Batalhão de Engenharia que deu cobertura aos trabalhos da Comissão Rondon no estendimento da linha telegráfica do Mato Grosso ao Amazonas. Ele chega a Porto Velho em 24 de dezembro de 1914, e logo que terminou seu mandato em 31 de dezembro de 1916, nos primeiros dias de janeiro de 1917 retirou-se de Porto Velho indo residir no Maranhão, onde foi eleito Prefeito do Município de São Felipe, daquele Estado. Sua gestão como prefeito por lá, terminou em 1922 e o mesmo faleceu no dia 18 de novembro de 1929, em São Luiz, onde está sepultado.

Governador do Amazonas Jonatas Pedrosa
Major Guapindaia foi nomeado prefeito para Porto Velho pelo Governador do Amazonas Jonatas Pedrosa. O primeiro prefeito muito pouco conseguiu realizar em dois anos de governo. Os primeiros meses de administração serviram para dirimência das dúvidas com os munícipes, na sua maior parte portugueses que chegaram ao ponto de se revoltarem e desafiarem a autoridade do Superitendente por conta de cobranças de impostos, tendo este usado prodigamente o poder de policia que naquele tempo variava entre acorrentamento e exposição ao sol até o espancamento com o chamado “umbigo de boi”.
Nota-se, através da leitura dos jornais da época o que Major Guapindaia não contou com a simpatia do público de Porto Velho de 1915. O “Alto Madeira”, jornal que se editava em Porto Velho, nem ao menos fez qualquer referencia ao seu nome, quando em 1917, Guapindaia deixou a direção da cidade. Pessoas que o conheceram informaram que o Superintendente Guapindaia era conhecido por ser intransigente, muito grosseiro e pouco sociável.

Aleks Palitot
Historiador

domingo, 22 de janeiro de 2012

Diário de uma louca aventura - Lima e La Paz

Reinaldo Caverna e Aleks Palitot no deserto de Salar Uyuni
Como todos sabem, o programa Trilhando a História se resume a contar os fatos, traços e valores históricos dos lugares que fazem parte da nossa identidade na América. Todo mundo sempre me fala: “ pô cara! Tu têm o melhor emprego do mundo, vive viajando”. Bom, não discordo, mas nem tudo, é felicidade e paraíso. A sempre algo de podre no Reino da Dinamarca, já diz a máxima. O podre em questão são os aborrecimentos, acontecimentos inusitados que só acontecem com o Trilhando a História. Na nossa última aventura na Expedição Lima – La Paz, aconteceu de tudo. Por isso, para revelar a todos o que se passa por trás das câmeras do Trilhando, vou levar a todos a conhecer o lado negro da força.
Dia 5 de janeiro partimos de Rio Branco às 6 horas da manhã em um ônibus pinga-pinga, a minha poltrona era a 1, e a do reporte cinematográfico Reinaldo Caverna número 2, o fedor do busão era desesperador, fora que na poltrona de trás tinha uma mãe com um bebê, que chorava o tempo todo. O nosso busão deveria ir até Assis Brasil na fronteira, mas na velocidade absurda que tava, seus 70 km por hora, resolveu quebrar na terra de Chico Mendes, cidade de Xapuri, pasmem, o ônibus entrou de ré na rodoviária, não entendí, mas...

ônibus quebrado
Em Xapuri então, naquela situação de alta emergência resolvi procurar um taxi na cidade, pra gente se mandar até a fronteira com o Peru. Conseguimos o taxi, nos levou até Brasiléia, de lá fomos até uma churrascaria da cidade para nos despedirmos da nossa boa carne brasileira, já que em Cusco, carne de boi, nem nos tempos dos Incas. O complicado que a churrascaria da cidade não tinha rodízio, era a la carte. Você tinha que pedir o prato, sem noção! Depois de matar a fome, continuamos de taxi até Assis Brasil onde chegamos por volta das 13 horas. Fomos até a Polícia Federal como de praxe, e de praxe são os esquecimentos do melhor câmera de Rondônia Reinaldo Caverna, que acreditava atravessar a fronteira sem passaporte e identidade. Isso mesmo, o Caverna havia esquecido sua identidade no carro em Porto Velho. Aí pensei, fudeu! Mesmo assim o Reinaldo desesperado tentava convencer o policial federal, autoridade máxima da fronteira do Brasil, que com a carteira nacional de jornalistas do Brasil, ele poderia atravessar. Eu não sabia se ria ou chorava na hora, confesso que pensei em matar o Caverna, mas conversei com o policial, ele permitiu a saída do Reinaldo para o Peru com a condição de que a Polícia peruana autorizasse a entrada dele no país. La vai nós, na difícil tarefa de convencer o policial peruano no ingresso do Reinaldo no país Peru. Fui lá, falei um monte de mentira, e ele graças a Deus permitiu que o Reinaldo Bin Laden entrasse no Peru.
Resolvido parte do problema fomos até Porto Maldonado, a uns 260 km de Assis Brasil, logo que chegamos fomos a Polícia Peruana pra inventar uma história de assalto, para justificar a ausência da identidade de Caverna. Nós tínhamos um problema sério, no Peru só  embarca no avião com a identidade ou passaporte. Inventamos que o Reinaldo tinha sido assaltado na fronteira no banheiro de um bar, mentira deslavada, mas os caras acreditaram e se sensibilizaram com a mentira, confesso que fiquei envergonhado com a presepada.
Conseguimos graças a Deus e a não sei quem mais, viajar de avião até Lima, chegando lá, tivemos a idéia de pedir para a esposa de Reinaldo pegar a identidade do mesmo, e mandar pelo correio para o Peru, mas , que antes ela digitalizasse a RG e mandasse por e-mail, ainda bem, por que a identidade do Reinaldo chegou ontem em Cusco. Ela fez o que pedimos em tempo recorde, e logo tivemos a idéia de imprimir e emplastificar a RG, como se fosse à original. Isso só deu certo por que o Caverna, têm ainda a sua identidade quando ele tinha 18 anos, puts! Por isso o nome do cara é Caverna, pô, a meleca da RG é muito antiga. Todo mundo reclamava nos balcões do aeroporto, na imigração, nos ônibus e em tudo, Caverna meu irmão, muda logo essa RG.
Em Lima, tudo perfeito, parecia que o nosso inferno astral da viagem havia cessado. Gravamos nos lugares que havíamos combinado, nada deu errado.
Dia 10 de janeiro fomos para Cusco, chegamos e logo fomos ao trabalho, gravamos na praça das armas e depois fizemos uma matéria com um prato tradicional do Peru, o tal do Cebiche, foi complicado, tenho gastrite e o prato é só pimenta, aquela de deixar Hiroshima no chinelo, gravei a cena numa dificuldade só. No outro dia partirmos para La Paz, o vôo atrasou 5 horas. Chegamos no aeroporto que fica a 4.000 metros de altitude na cidade, claro, logo parei no pronto socorro para um balão de oxigênio, gente é complicado, o negócio pega mesmo. Recuperado, fomos ao Hotel, aliás excepcional por sinal. Mas, excepcionalmente também foi a tal da infecção intestinal que adquirir durante o café da manhã no Hostal maravilhoso por conta de um ovo maldito. Tive febre a noite toda!, vomitei até a minha alma, só não a vendi pro diabo, paguei por todos os meus pecados naquela noite, sem noção. O difícil mesmo foi no dia seguinte, que tinha que dividir o tempo entre cada vômito e passagens da gravação do Trilhando a História. Era sempre assim: “3,2,1 e gravando”. Depois: “1,2,3 e vomitando”. A febre tava pegando, os lábios ressecando e eu já achava que tudo tava muito ruim, não conseguia comer nada, até que a noite seguinte me reservava em La Paz um noite sem Paz nenhuma, eis que veio a tal da diarréia. Cara o que, que foi aquilo. Perdi 5 quilos e meio, ou seja, sumi! Valeu apenas pela perca da barriguinha maldita, mas o resto, meu amigo, foi demais. Acho que pedi papel higiênico da recepção umas 10 vezes durante a madrugada, cheguei a colocar o travesseiro e o coberto no banheiro por conta daquele frio de 5 graus em La Paz, e eu ironicamente numa febre de 38.
Dia 12 de janeiro, destino Salar de Uyuni, o ônibus quebrou 10 vezes, não tinha banheiro, o fedor era absurdo, do nosso lado tinha um casal de francês, aí já viu. Vomitei a noite toda, os 5 dramins que tomei de nada adiantaram. Chegando em Uyuni fui direto para o Hospital San Pablo na Bolívia. Sinceramente, depois de tudo que havia passado, já esperava o pior, e eis que o Hospital era bom, o médico formado em Santa Cruz , espetacular, muito bom o cara, apesar de ser jovem (25 anos), mostrou muita competência. Ele me internou, fez os exames e foi comprovado a infecção, tomei 3 litros de soro, e a enfermeira apanhou para conseguir achar a minha veia de tão magro e desidratado que eu estava, ela perdeu 10 agulhas, e eu quase perco o meu braço, foram trinta minutos de muita tensão e dor, até a enfermeira conseguir colocar, a droga foi, que além da dor, foi virar atração da enfermaria, o povo tava fazendo aposta já, quanto tempo a enfermeira levava para achar a veia e enfiar a agulha. Enfim, ela conseguiu, e depois de umas 4 horas no hospital, acordei meio grogue na enfermaria com um pano enorme de uma ponta a outra do lugar, estendido, como se o que eu tinha fosse contagioso ou sei lá, queriam me isolar achei. O complicado foi que, meio grogue ouvir a conversa do outro lado do pano de dois médicos e uma enfermeira, falando em espanhol:
“ alguém precisa avisar os familiares, a infecção tomou conta do corpo, daqui a pouco ele morre, os órgão vitais foram afetados, olha só e exame, ele já era”. Desesperado me levantei da cama com aquela mortalha que me colocaram por conta da diarréia, carregando o soro na mão, com meia bunda a mostra, gritando que não ia morrer naquela merda. Saí correndo pelo corredor do hospital, assustei todo mundo, não sei se pela meia bunda, ou pela gritaria e chingamentos.
Depois da loucura que fiz, me acalmaram e vi que falavam de um outro cara que estava do outro lado do pano isolado da enfermaria. Que vergonha a minha. Pedi mil desculpas pelo acontecido, todos levaram numa boa, mas mesmo assim fiquei muito sem graça.
No outro dia fomos para o tão desejado Deserto de Salar, antes tomei 5 imosecs para segurar a parada dura, aliás, nada dura. Não estava afim de ficar passando fax no caminho, mesmo por que lá não tem banheiro e tudo é branco, sem mato. O passeio foi maravilhoso, a febre ainda um pouco intensa, mas as dores estomacais passavam enfim, aproveitei bastante o lugar para gravar. Depois de tanta urucubaca, era uma boa estar em meio a tanto sal, na verdade mais de 100 km quadrados de sal. Só me dei mal por conta de uma cena que gravei de bermuda durante 20 minutos, a intensidade do sol lá é bem maior mesmo com o frio, você quase não sente, quase, estou até agora com as pernas vermelhas e queimando, parece que estou de meião de futebol, arde muito! Mas valeu.
Saindo de lá com destino a Copacabana pela noite, o pior viria, o pior dos piores, a diarréia voltou sem pedir licença! O busão não tinha banheiro, a cada curva, a cada subida e descida das cordilheiras, era uma tensão, um aperto sem fim. Fora o fedor desgraçado da galera no ônibus, isso era até de certa maneira confortante, por que não precisava fazer cerimônia para soltar os gases que eram no meu caso, constantes. Eu agüentava uns 40 minutos a tal da diarréia, quando não, corria desesperadamente até o motora e pedia para ele parar. Imaginem, sexta-feira do dia 13 de janeiro, noite de Lua Cheia, no meio de uma estrada nas montanhas, frio de 2 graus, sem mato! Tava perfeito cara! Tava nada! Apareceu uma senhora boliviana que, com todo respeito, tava meio fedida. Sem cerimônia, ergueu aquela sua saia tradicional e se posicionou a 2 metros de mim, e fez o mesmo! Evacuou também e ainda riu da minha cara.
Pessoal a sensação é horrível, você evacuar em meio a um frio desgraçado, sendo que você esta com diarréia sabe? Frio naquele lugar, não é legal. Foi complicado. Isso aconteceu por 5 vezes na noite, graças a Deus a boliviana não desceu nas outras vezes.
Lá pelo dia 15, depois de trocar de bus, chegamos em Copacabana, o busão era o melhor que havíamos pego até então. Tudo melhor em relação ao ônibus, mas quando chegamos ao Hotel em Copacabana, puts! O que era aquilo! O cheiro de cigarro tava impregnado no quarto! O banheiro parecia o próprio Lago Titikaka de tanto alagado que tava. A TV pegava um canal apenas e ainda em preto e branco! A cama tava quebrada, não tinha janela no quarto, a lâmpada era de 40 volts e o carpete do lugar estava imundo. Era uma solitária pensei!
Pela manhã do dia seguinte, fomos a Ilha do Sol, lugar espetacular! Mas até chegar lá demorou além da conta, por que com a gente do Trilhando a História, acontece de tudo. O motor do barco que nos levava, quebrou no meio do passeio. Fora que saímos com 40 minutos de atraso, por que o capitão do barco ainda estava bêbado! Por conta disso, nosso retorno se protelou, resultando na perca do nosso ônibus de ida para Cusco.
Pela noite conseguimos uma van, e fomos até Puno com ela, aperto total! De lá seguimos para Cusco, chegamos as 9 horas da manhã do dia 16, cumprindo aos trancos e barrancos as gravações de oito programas que jamais vão revelar tudo o que passamos para levar a todos vocês a história, a cultura e a identidade. Mas saibam, pelo Trilhando a História faría tudo de novo, sem a velhinha boliviana claro!

Dica: se forem para La Paz levem a cozinha de casa na mochila.
Aleks Palitot