terça-feira, 28 de agosto de 2012

Professor da Porto FGV defende artigo em Simpósio Nacional


Professor Aleks Palitot com os integrantes do grupo de trabalho que debateu  a relação centro
e perfireria: Estado e Sociedade Civil em Áreas Periféricas. 
O Professor Aleks Palitot (historiador) participou entre os dias 20 e 22 de agosto do VII Simpósio Nacional Estado e Poder: Sociedade Civil. O evento reuniu os mais importantes historiadores do Brasil das principais Universidades Federais. O Simpósio foi sediado na Universidade Federal de Uberlândia, Campus Santa Mônica, Minas Gerais. O evento na UFU é resultado de uma jornada iniciada pelo Núcleo de Pesquisa sobre Estado e Poder no Brasil, na Universidade Federal Fluminense – UFF, no ano de 2004, e que hoje reúne estudantes de pós-graduação, professores e pesquisadores de várias Universidades e instituições de pesquisas do país. Assim o Núcleo de pesquisa tem procurado realizar seus encontros nacionais em outras unidades da federação, como aconteceu nos casos do VI Simpósio na Universidade Federal do Sergipe, o III Simpósio na Universidade Federal de Goiás e do IV na Universidade Estadual do Maranhão. Todos os Simpósios realizados até aqui tiveram como objetivo comum o fato de promover discussões temáticas específicas da questão conceitual sobre o Estado no Brasil.
O VII Simpósio foi fruto da iniciativa do Núcleo de Estudos e Pesquisas sobre Estado e Poder e do Núcleo de Pesquisa e Estudos História, Cidades e Trabalho, vinculado ao Programa de Pós-Graduação em História/Instituto de História da Universidade Federal de Uberlândia. O Objetivo foi promover uma avaliação do estado atual de estudos sobre a problemática da sociedade civil na sua relação com o Estado, em distintos espaços e temporalidades, aprofundando o intercâmbio de pesquisas e reflexões sobre a temática. Isto também significa abrir o necessário espaço para a compreensão sobre os significados dos embates atuais em torno de práticas intra e inter Estados no movimento mais amplo de mundialização do capital. Organizadas em uma conferência inaugural, mesas redondas, e Grupos de Trabalho, as pesquisas que foram apresentadas neste Simpósio deverão focalizaram, portanto, aspectos relacionados à sociedade, à política, à economia e à cultura relacionadas à disputas junto à sociedade civil (em seus diversos aparelhos privados de hegemonia), dentro do próprio aparelho de Estado, nas práticas inter-estatais e nos chamados “mercados mundiais”.
O professor Aleks Palitot teve a oportunidade de defender seu artigo científico do Mestrado (UNIR) com o tema voltado para o tema de desenvolvimento regional e sustentabilidade, sendo o título do artigo: “A ponte invisível do desenvolvimento: Guajará Mirim, a periferia da floresta”. O artigo aborda os aspectos históricos da ocupação da Amazônia e as políticas públicas para a localidade de Guajará Mirim. O mesmo artigo foi aprovado pela banca e foi publicado nos Anais do evento sob o registro n° ISSN: 2178-9843.

sábado, 25 de agosto de 2012

Expedição Guaporé Objetivo: Dez anos de Histórias e Aventuras


Ainda me recordo das aulas de história nos anos 80 na minha antiga escola Dr. Grangeiro. O Professor Jorge Guimarães se esforçava em tentar nos mostrar um desenho rabiscado no quadro negro com giz branco; uma planta baixa que formava o então Real Forte Príncipe da Beira. Na simplicidade do ato, no esforço de fato e na inspiração de sua aula, éramos convidados a viajar no tempo para lembrar o passado glorioso dos homens que enfrentaram a Amazônia para construir o maior forte do Brasil no coração da floresta. E com um coração batendo forte, o mestre, com recursos áudio visuais limitados, conseguia com muita emoção e vivacidade, fazer com que cada um dos seus alunos enxergassem aquela história, e entendessem a importância do patrimônio Histórico de Rondônia. Ali foi plantada a semente, e escolhi para minha vida, fazer o máximo para trilhar a história de Rondônia, levando a cada um dos meus alunos um pouco da nossa identidade.

1° Expedição Guaporé - 2002
A dez anos uma parte dessa semente germinou e nasceu uma árvore de memórias, que conta os momentos inesquecíveis que vivemos ao longo de tantas Expedições do Colégio Objetivo para Costa Marques no Guaporé. A primeira viagem em 17 de setembro de 2002 foi concretizada na base de muito sacrifício. Saímos em uma quinta-feira a noite as 21 horas e chegamos a nosso destino na sexta as 22 horas. Foram atoleiros intermináveis na BR 429, pneus furados e problemas mecânicos de toda hora, mas, mesmo com tantas dificuldades, aquela primeira turma de aventureiros liderados pelos Professores Ruzel Costa, Mônica, Laethy e Aleks Palitot, conseguiu chegar ao seu destino e puderam perceber, que se foi tão difícil chegar na localidade em pleno século XXI, imagina no século XVIII, onde os pioneiros e bandeirantes tinham obstáculos bem maiores e complexos. A recompensa de tamanha façanha foi contemplar o grande Forte Príncipe da Beira símbolo do Estado de Rondônia.
Comissão Rondon em 1911 no Forte Príncipe da Beira
Nesses dez anos de viagens, foram mais de 300 alunos que tiveram a oportunidade de conhecer a história, a geografia e a biologia bem de perto. Puderam conhecer a grande fortaleza da floresta, sua grandeza cultural e seu significado para nossa identidade. Ali uma verdadeira sala de aula a céu aberto, um convite a uma viagem no tempo, no lugar do templo histórico, palco de momentos que só vemos nas páginas dos livros de história ou em documentários. A cada aventureiro, a cada aluno, a cada aprendiz e cidadão de Rondônia foi deixado uma nova semente, que teve a real função de formar homens e mulheres amantes e defensores das nossas raízes.
Expedição Guaporé 2011 na comunidade do Forte Príncipe
Esse ano mais uma vez 33 alunos do Ensino Médio do Colégio Objetivo, das unidades Jardim América e Mangueiras vão partir no dia 29 de agosto para mais uma aventura. Homenageando a todos que à 10 anos participaram da primeira Expedição. Os professores Caio Lima de biologia, Sueli Ribeiro de geografia e Aleks Palitot de história, vão através desse projeto interdisciplinar, contribuir para o engrandecimento do conhecimento dos alunos do terceiro ano do Objetivo, onde os mesmos, terão a oportunidade de conhecer lugares como o Parque das Orquídeas e Lagoa Azul de propriedade do ativista ambiental Sr. Bernado. Poderão viver bem de perto não somente as ruínas do Forte Príncipe da Beira, mas também do Forte Conceição e da Fornalha. Além de aprender a história e a biologia em locu, vão se deslumbrar com o Rio Guaporé com suas praias e natureza exuberante. As atividades serão compromissadas também em conhecer as comunidades tradicionais, como os Quilombolas de Santa Fé, além claro, de visitarem a localidade de Buena Vista na Bolívia do outro lado do Rio Guaporé.
Expedição Guaporé 2003 - Em Buena Vista - Bolívia
O Resultado de tanto compromisso dos mestres (Sueli Ribeiro, Trindade, Ruzel Costa, Ivanor e Aleks Palitot), da direção da escola (Cidinha) e coordenação do Colégio Objetivo (Lenise Crespo, Estevana, Maria Lúcia e Isabel), traz como resultado a iniciativa de ex alunos do Colégio Objetivo, que hoje são médicos, enfermeiros, dentistas e atuam e outras áreas, a realizarem em 2013 o Projeto “Guaporé Sem Fronteiras”. Todos aqueles alunos que antes estavam dispostos a aprender sobre as realidades de Rondônia, e se formaram em parte na sua cidadania e valores, com o que viveram e observaram em Costa Marques, compartilhando das dificuldades do lugar, poderão agora contribuir retornando como cidadãos e profissionais, atuando em suas devidas áreas, partilhando de solidariedade e humanidade, levando um pouco de gratidão as comunidades tradicionais do Guaporé, com atendimentos médicos e odontológicos. Isso sim será algo a se comemorar, o fato e a capacidade que a escola Objetivo, e seu corpo docente, conseguiram contribuir para a formação do caráter de cada um daqueles que puderam conhecer a Amazônia de perto, o Vale do Guaporé. Os ex alunos irão retornar para dar aqueles que precisam, que vivem distantes dos grandes centros urbanos de Rondônia, um pouco de cidadania e humanidade. Cidadania poderia ser sinônimo de solidariedade! Mas se solidariedade não fosse palavra e sim ação? Solidariedade, fazer o bem não tem preço. Objetivo, as melhores cabeças, e os maiores corações!

Aleks Palitot
Historiador

quarta-feira, 22 de agosto de 2012

Divino Espírito Santo, a fé nas águas da Amazônia

A Festa do Divino tem sua origem em Portugal e foi estabelecida pela rainha Dª Isabel, casada com o Rei D. Diniz, por volta das primeiras décadas do século XIV. O Imperador do Divino gozava de direitos próprios de um soberano, libertando presos comuns em certas localidades portuguesas e brasileiras.
Para a organização da festividade havia a Folia do Divino, grupo de pessoas pedindo e recebendo auxílios de toda espécie. A folia constituía-se de músicos e cantores com a Bandeira do Divino, ilustrada com a pomba simbólica. Essas Folias percorriam grandes regiões, gastando semanas ou meses inteiros.

Em Rondônia, a Festa do Divino tem expressividade no Vale do Guaporé, onde a população ribeirinha procura manter viva a tradição do festejo. O Culto ao Divino foi introduzido no Guaporé, por volta de 1894, pelo Senhor Manoel Fernandes Coelho, quando de sua mudança de Vila Bela da Santíssima Trindade do Estado do Mato Grosso para a localidade de Ilhas das Flores. Naquele ano, o Senhor Manoel Fernandes fez vir, de Vila Bela, a Coroa de Prata e juntamente com outros adeptos, realizou os festejos do Divino naquela localidade. Todos os posteriores até o ano de 1932, o Divino foi festejado naquele local sendo então, os festejos transferidos para Rolim de Moura.
Atualmente a Festa vêm se realizando em sistema de rodízio, atingindo mais de trinta localidades dos Rios Guaporé e Mamoré tanto do lado brasileiro como do lado boliviano, sendo portando uma festa religiosa binacional. As localidades de Pedras Negras, Limoeiro, Costa Marques, Príncipe da Beira, Pimenteiras, Rolim de Moura, Guajará Mirim, Guayara, Buena Vista, Curralinho e Santa Fé, são algumas das tantas comunidades que festejam o Divino. O registro mais antigo sobre a realização dos festejos, data de 1936 e o Estatuto de criação da Irmandade do Divino Espírito Santo, no Guaporé, data de 1934. No entanto antigos moradores e descendentes dos primeiros organizadores dos festejos, afirmam que havia Ata da festa datada do século 19, em folha avulsa que foi extraviada durante período de sua paralização. Esse período ninguém soube precisar. Afirmam alguns que ocorreu após um desentendimento entre os membros da Irmandade, cujo Presidente guardião da Coroa, na época, descontentando-se, entregou à Prelazia de Guajará Mirim.
D. Francisco Xavier Rey, Bispo de Guajará Mirim, foi revitalizador da Festa, por volta de 1934-1936. Os festejos do Divino no Guaporé e Mamoré, têm seu início a partir do momento em que o Barco do Divino chega à localidade promotora da festa no ano anterior e o encarregado da Coroa recebe o Imperador do Divino da localidade, a Arca contendo a Coroa, a Bandeira, as Toalhas do Altar e os Livros de Ata. Isso ocorre após a quaresma, mais ou menos no período da Páscoa. Tradicionalmente, a saída do barco dava-se no sábado de aleluia. Hoje devido às inúmeras dificuldades que os peregrinos enfretam, não há rigidez, não há rigidez quanto à data de saída.
Após o encarregamento da Coroa receber a Arca, o Barco do Divino inicia sua peregrinação ao longo do Rio Guaporé, por quarenta dias até o final da festa, colhendo óbolos entre os ribeirinhos. O final da festa dá-se no dia de Pentecostes.
Anteriormente, a peregrinação era feita em barco movido a remos. Hoje, os peregrinos utilizam um pequeno motor emprestado de algum membro da Irmandade, para movimentar a embarcação até perto da localidade, quando, então, o motor é desligado e os remeiros iniciam remadas cadenciadas impulsionando o barco até o porto.
Ao aproximar-se de cada povoação, o Barco do Divino anuncia a sua chegada através de três salvas de Ronqueira (artefato confeccionado de madeira com um cano de ferro por onde é introduzido a pólvora), três buzinadas em chifres de bois, e, mais próximos, os remeiros entoam cânticos de chegada e fazem a “ Meia-Lua”, em frente ao porto, que consiste em três voltas circulares com o barco, antes de aportar. As remadas cadenciadas e os remeiros espargem água para o alto entre uma remada e outra. O caixeiro, inicia o toque do tarol.
À chegada do Barco do Divino, ocorre grande número de pessoas que extravasam sua fé, agradecendo as graças recebidas e pagando suas promessas. Uns, se prostam de joelhos percorrendo, dessa maneira, a distancia que separa o porto do local de “ morada” da Coroa. Outros e introduzem no rio, com água até a altura dos ombros, segurando velas acesas, rezando ou chorando. Todos eles acometidos de grande emoção.
Quanto o barco aporta, o Encarregado da Coroa sai do barco acompanhado dos foliões, do Mestre dos Foliões (que entoam os cânticos acompanhados de um violão), do Encarregado da Bandeira e os demais tripulantes. São recebidos pelo Imperador ou Imperatriz local. A Imperatriz recebe o Cetro de Prata, e o Imperador a Coroa, das mãos do Encarregado da Coroa. A partir de então, os fiéis ajoelham-se e beijam a Bandeira, o Centro e têm a Coroa posta em suas cabeças por breves instantes. É a benção do Divino, que todos recebem contritamente. As esmolas são, então, colocadas na bandeja de Prata que suporta a Coroa.
O cortejo dirigi-se, após, para a igreja da localidade por breve período, seguindo depois para o local onde dará a alvorada do Divino ou “Velório” (acontece durante todos os dias em que a Coroa fica na povoação). Esse costume é herança dos portugueses e ainda é conservado em seus aspectos tradicionais. Ao cair na noite, a Bandeira e a Coroa são recolhidas à casa onde o Santo está morando, e onde são rezadas as novenas e entoados cânticos.
As festividades são mantidas e preservadas a mais de cem anos em meio a grande floresta Amazônica. Em lugares distantes dos grandes centro hegemônicos e políticos de Rondônia e sem muito apoio de órgãos governamentais que busquem a preservação desse patrimônio imaterial representativo da cultura da Amazônia. A única festa religiosa do Divino que se realiza de maneira fluvial e sendo binacional, pois, envolve o Brasil e a Bolívia. A Festa do Divino é a prova não apenas da fé do homem da Amazônia, mas o sincretismo da cultura dos povos excluídos da floresta, onde nordestinos, índios, caboclos, ribeirinhos, seringueiros, quilombolas e bolivianos se agarram na esperança de dias melhores a partir da religião.

Aleks Palitot
Historiador

terça-feira, 14 de agosto de 2012

O Primeiro vôo em Porto Velho

Foi o CONDOR a primeira empresa de navegação aérea a operar para esta parte do Brasil. O primeiro vôo que pousou sobre as águas do Rio Madeira, nas barrancas da cidade de Porto Velho, foi o W – 34 “TAQUARI”, pilotado pelo Eng. Frederick Hoepken, de nacionalidade alemã, e pelo Major Basílio da Aeronáutica Militar do Brasil.
Representava esta empresa nesta cidade o comerciante Sizenando Souza, que, pouco depois, transferiu-se para a firma Bichara & Cia., constituída por Bichara Abidão, Nagib Bichara, José Bichara, Humberto Correia e Júlio Cezar Borges Cantuaria, ficando instalada num pequeno compartimento da rua Floriano Peixoto, onde no passado situa-se o armazén do Miguel Arcanjo Filho e o majestoso edifício da agência da antiga Varig-Cruzeiro do Sul, na rua Floriano Peixoto com José de Alencar. A rota inicial foi Rio-Porto Velho que, depois de várias considerações e estudos procedidos pelo Eng. Frederick Hoepken, foi até Rio Branco no então naquela época Território Federal do Acre.
Com aviões de pequena autonomia de vôo tiveram que estabelecer muitas escalas para completar sem riscos o intinerário e, por essa razão, foram obrigados a nomear agentes nas principais cidades da escala. Em Guajará Mirim foi nomeado e exerceu o cargo por longo tempo o Cel. Paulo Cordeiro da Cruz Saldanha que, quando negociou a sua empresa de navegação, transferiu também a agência da Cruzeiro do Sul para os Serviços de Navegação do Guaporé.
Como na viagem tinham que atravessar regiões desabitadas, procurou a direção geral da empresa para instalar imediatamente estações de controle de vôo, sendo a primeira montada em Porto Velho um Winchaider Baiton de 250 com gônio e duas torres de 36 metros de altura que foram montadas e inicialmente operadas pelos mecânicos José Tavares e Machado, situadas numa casa de madeira pré-fabricada no Paraná no bairro Caiari.
Todos os tipos de avião da empresa foram largamente utilizados nesta região desde o tempo dos Junkers da Condor Sindikat que, com rompimento das relações do Brasil com a Alemanha, foi proibida de operar no País, e transferiu a responsabilidade da realização de suas linhas para serviços Aéreos Cruzeiro do Sul até os modernos e eficientes Boeings 737, que diariamente cruzam os céus de Rondônia. Também muitos pilotos transferidos da Condor passaram por Porto Velho, dentre eles Siranka, Rank, Law, Rottermundo, Castrup, Goulart, Mário Guide, Mascaranhas e Lins.
Duarante muito tempo, começando em 1945, a Cruzeiro do Sul operou nesta área com os Douglas DC-2 que numa viagem de Porto Velho ao Rio de Janeiro gastavam dois dias com pernoite em Corumbá.
Em 1949, mudou-se a eficiente aparelhagem de controle de vôo do bairro Caiari para o bairro do Km 1, no local onde era situado até 1999 o Selton Hotel – Porto Velho. Em 1969, lançaram os protótipos japoneses YS-11-A, cujo primeiro que aportou na cidade em 1970. Já em 1971, começaram a operar nesta área os potentes aparelhos Caravelle que encurtaram as distâncias e que, pouco tempo depois, foram substituídos pelos Boeings 737 de fabricação americana que operaram regularmente até o início do século 21 em Porto Velho.

Aleks Palitot
Historiador

terça-feira, 7 de agosto de 2012

Seringueiros e Seringalistas

O termo seringueiro era, inicialmente, o único usado para designar todos aqueles que se dedicavam à exploração da Hervea, mas depois, sutilmente, aquele mais abastado que empregava os demais ou tinha qualquer domínio sobre eles, passou a ser denominado seringalista. Por ocasião da criação do Território era essa a atividade econômica predominante, senão a única, eis que todas as demais atividades extrativas eram feitas por esses profissionais, durante o período de entressafra da borracha, quais sejam: coleta da castanha-do-pará, óleos(pau-rosa e copaíba), couros e peles etc.
Muito se discute até hoje sobre a relação de trabalho entre seringueiros e seringalistas, pois o primeiro não era, verdadeiramente, um empregado do segundo. Podia ser considerado uma espécie de associado ou tarefeiro. Com efeito, o seringalista, embora pensasse ter a propriedade dos seringais, na verdade apenas os possuía, pois eram raros os títulos concedidos pelo Estado. A terra pertencia a quem chegasse primeiro ou fosse mais ousado. O limite era de respeito, isto é, ia até onde o vizinho concordasse. Ou, se não concordasse, até onde resistisse pela força à entrada do outro vizinho. Guardem o nome: limite de respeito.

Uma vez dominada a gleba, pela força, o seringalista tinha de conseguir abastecimento para os seus homens, durante vários meses de safra, o que não era fácil, pois importava no congelamento de capitais durante meses, sem maiores garantias que a honradez do aviado, ou seringalista. O credor era o comerciante abastado da praça de Manaus ou Belém, que a si denominava aviadores.

Entre o seringalista e o seringueiro formava-se um subcontrato do mesmo gênero, comprometendo-se o trabalhador a cortar seringa em uma das estradas do seringalista, e ao fim da safra, entregar-lhe a produção, por um determinado preço.
Dito assim, a coisa parece simples, mas na prática ocorriam espertezas de parte a parte. Nem sempre o seringueiro era a vítima perseguido pelo poderoso seringalista, pois muitas vezes tentava usar da esperteza para ludibria-lo, seja fugindo com os aviamentos para outro seringal, seja vendendo parte da borracha para os comerciantes avulsos que percorriam os seringais, e tinham regatões.

Também havia o expediente de colocar pedras e outros objetos pesados dentro das bolas ou pelas de borracha, para aumentar o peso,e , por conseqüência, o lucro desonesto, fato que, pela constância, chegou a depreciar a borracha brasileira nos mercados internacionais.
Os seringalistas, por sua vez, tinham meios de recrutar às espertezas dos seringueiros, seja diminuído o peso da mercadoria no ato do recebimento, seja através da cobrança de preços exagerados pelas mercadorias que só ele podia levar para o seringal, seja pelo aumento das cartas, cobrando artigos nos fornecidos.
Na verdade era uma negociação tortuosa, mas no fim, geralmente, se estendiam, sendo poucas as reclamações que iam até à política ou à justiça, para solução, mesmo por que as longas distancias tornavam quase impossível qualquer interferência do Estado nessas transações comerciais, onde fraude permanentemente era quase sempre bilateral

Aleks Palitot
Historiador