sexta-feira, 18 de outubro de 2013

Atraquei no meu Porto Velho

Aleks Palitot no Rio Madeira
Diz a lenda, reza uma possível ou provável história, que na beira do Madeira, pelos braços de um velho lenhador, codinome Pimentel, surge um porto. Esse porto, do velho ou não, ponto militar ou porto militar, que no passado serviu para guerra, e para nós trouxe a paz. Nosso porto, porto seguro, porto de amor, porto velho, do velho fervor. Não sei se existiu, se existe prova cabal, daquele que sugere o nome de PORTO VELHO, o porto, que apesar de velho, se tornou para muitos, uma nova morada. 
Na beira do Madeira, e nas margens da ferrovia, surge cidade moderna, cidade tardia, cidade dos tempos áureos, que não duram, nunca vão, jamais serão para nós duradouros. A não ser, na lembrança, uma boa lembrança dos tempos de criança, de cidade limpa, lugar onde todos se conheciam, Porto Velho ainda cidade provinciana. Cidade das gírias, era legal quisó, granfino, a cidade era um pizeiro.
O Porto dos ciclos, explorado no tempo, de braços abertos, recebeu a todos que aqui vieram. Assim, de coração escancarado, o velho porto, vira nova morada, do mundo novo, de pessoas novas, que hão de construir suas vidas, histórias, vitórias no sol escaldante, da terra de povos nativos, caboclos e pioneiros.
Esta cidade amiga, que nunca talvez fora erguida, apenas em um tempo. Foi ao longo dos ciclos, economias formadas, das drogas dos sertões, da corrida do ouro, do sangrar da seringueira, da extração da borracha que pelos trilhos da Madeira Mamoré, que seguiam do centro da Floresta, passando pelo velho porto, e pelo rio para o centro mundo. 
O mundo esteve aqui, na ocupação, na exploração, na construção do sonhar, e eita sonho difícil, Eldorado tão procurado, a que todos tentavam achar.
Muitas vidas aqui ceifadas, muitas vidas injustiçadas, mas o porto, de muita gente, se torna o nosso símbolo, de vida nova, de uma nova história para todos os presentes. 
Da infância lembro bem, da vida entre os limites do Areal e da Baixa União. Brincar de pira, peão, rouba bandeira, peteca, pipa ou papagaio, na antiga Norte e Sul, hoje Rogério Weber. 
E o que fazer no final de semana naquele tempo? Têm o cine Lacerda, ou Cine Brasil, a piscina Clube Ferroviário. O que gostava mesmo, era brincar de betis na rua, correndo pra lá, corre pra cá, vamos se esconder? Ficava melhor quando faltava à luz. Era uma gritaria tremenda, na cidade pequena onde tudo se via e ouvia. E quando a luz voltava? Uma outra gritaria. Tempos ruins sem a luz? Que nada. O céu era visível, as estrelas nítidas, o sonho possível e a vida mais simples e animada. 
Porto Velho 100 anos, muita história? Claro. Mas, cada um de nós têm a sua própria história. A parte preferida, o seu olhar sobre nós mesmos. O que lembrar? Do Porto Velho Hotel e sua varanda com a presença dos poetas? Ou da Praça das Caixas d’água? Difícil esquecer da saltenha do Jota Lima. 
Cidade antiga, que infelizmente não vive e nem preserva seu passado. Parece ter vergonha da sua história e identidade. Cidade machucada, esburacada, sem orgulho. Mas, ainda, é um porto, porto seguro, o porto da vida de todos, porto de simples esperança. Esperança de uma cidade mais limpa, limpa de tudo. Limpa da sujeira, limpa da corrupção e do abandono.
Podemos começar do zero depois de 100 anos, e tentar acertar o que erramos.  Enaltecer e cuidar do que nós nos orgulhamos.
Minha velha infância, do passado permanente no presente. Dos tempos de fugir de casa para roubar manga, de correr tranqüilo pela rua, de seguir sempre, pelos cantos da cidade sem nunca se perder, a não ser nas brincadeiras de rua. Saudades de não estar perdido e se sentir estranho, no canto que se escolheu para viver.
Nasci aqui, e tenho orgulho do meu DNA. Porto Velho te amo muito. Mas parece que aqui, a maioria são os que não te amam mais.

Aleks Palitot
Professor e Historiador

    

domingo, 13 de outubro de 2013

Ruínas da História, fortim de Bragança

O capitão general, Antônio Rolim de Moura, foi o primeiro Governador da capitania do Mato Grosso, deixando a planejada e recém fundada Vila Bela da Santíssima Trindade, o aguerrido Capitão General, desceu o Rio Guaporé e desalojou a missão de Santa Rosa, formada pelos jesuítas espanhóis, que trabalhavam a serviço da Coroa Espanhola.
Forte Nossa Senhora da Conceição no Rio Guaporé
Antônio Rolim de Moura, com seus soldados, que eram sertanistas da região do Guaporé, transformado em 1760, a guarnição de Santa Rosa Velha em um fortim pentagonal, que recebeu o nome de Santa Nossa Senhora da Conceição, muito vulnerável e protegido apenas por frágil estaca.
Este fortim sofreu várias investidas dos espanhóis, o que obrigou Rolim de Moura a descer de Vila Bela e defendê-lo.
Ruínas do Forte de Bragança (Conceição)
No dia 17 de abril de 1762, os Espanhóis desembocaram no rio Guaporé, pelo Itomanas com uma forte expedição militar que contava com 1.200 homens, conduzidos em 40  canoas que pretendiam expulsar do sítio mal fortificado, a guarnição comandada pelo próprio Rolim de Moura que dispunha, de pouco mais de 200 combatentes às suas ordens.
Parte Frontal do Fortim, de frente para o Rio Guaporé

Depois de uma bem sucedida ação militar de Rolim de Moura e de Francisco Xavier Tejo, incrivelmente os espanhóis foram expulsos da região. O Forte Conceição passou por reformas posteriormente, com o objetivo de consolidar a presença portuguesa na região, por isso, foi renomeado com o nome de Forte de Bragança, em homenagem a família real portuguesa. Enfim, o forte foi ampliado, melhor estruturado e seu contingente militar ampliado. Mas, antes de um novo combate, o Forte é inundado por uma surpreendente cheia do Rio Guaporé, e é abandonado. 
Muralha do Fote
O que resta atualmente do fortim, que fica cerca de 4km do Forte Príncipe da Beira, são apenas algumas muralhas e alicerces, longe da estrutura imponente que ajudou os portugueses a delimitar seus territórios. Os mesmos portugueses saíram vitoriosos nas pelegas contra os espanhóis, mas, foram derrotados pela força da natureza, pela força das águas, pelo supremo poder da Amazônia.

Aleksander Palitot
Professor e Historiador