quarta-feira, 27 de janeiro de 2016

Jaru: terra de gigantes

Estação Telegráfica de Jaru - Comissão Rondon
Dentre as grandes nações indígenas que dominavam a região territorial de Rondônia, destacavam-se os Jarus, que se localizavam às margens dos igarapés Pacaás Novas e Ouro Preto, afluentes do rio Mamoré; Aripuanã e Roosevelt, além do rio que leva seu nome. Arredios e agressivos, os Jarus se confudiam com os índios Toras, Urupás e os Pacaás Novos; estes últimos pertenciam às nações dos Jarus e Chapacuras.
Rodoviária da localidade de Jaru
Ali, sob o imenso tapete floral, entre o espaço geográfico já mencionado, e principalmente entre os rios que eram denominados pelos índios de “Tramac” e “ Uaneri”, mais tarde denominados pela comissão Rondon por Jaru e Anari, respectivamente. Vivia a nação Jaru, ao lado dos Tupis, Aruaques, Muras, Caraíbas, dentre outros grupos, até a passagem da linha telegráfica em 1909, quando Rondon rasgara a densa floresta tropical nas terras de Rondônia, em busca de Santo Antônio do rio Madeira. Naquela época, já os nordestinos marcavam sua presença explorando o látex e arrasando as tribos locais, das quais Rondon ainda encontrou vestígios nítidos, como três grandes capoeiras e bananais, já denominadas pelos seringueiros, por São Pedro, a que ficavam em águas do Coatá, São João e uma outra mais para os lados do Anari. Tais capoeiras foram localizadas entre 1916-17, quando o tenente-coronel Nicolau Bueno Horta Barbosa, um dos membros da Comissão Rondon, foi incumbido de explorar o Anari, então localizou também, alguns poucos Jarus em andanças pela região.
Parte central da localidade de Jaru - Fonte: Amizael Gomes
Em 1912, Rondon voltava pela picada feita anteriormente, agora fincando os postes e esticando o fio da linha telegráfica, ao mesmo tempo em que construía a rústica estação do Jaru, em volta da qual guardas-fios e seringueiros construíam seus tapiris. Também uma firma (CENSE) instalou aí o barracão Santos Dumont, por considerar lugar estratégico, entre a forquilha formada pelo rio Jaru e a picada da linha telegráfica. Entretanto, como o nome foi dado pela comissão Rondon, em homenagem à nação Jaru, perpassou o tempo com alguns poucos moradores dos seringais do senhor Cantanhede que chegara ali, depois de assumir o controle da Companhia, quando então tornou-se fundador do Seringal Setenta. Seringueiros e guarda-fios viveram ali até a abertura da BR-364 e a implantação de projetos de colonização do INCRA, como o Padre Adolfo Hohl, responsável pelo crescimento explosivo do minguado lugarejo em finais da década de 60 do século XX, mas que fora crescendo à medida em que os migrantes iam penetrando nas linhas abertas por eles e pelo INCRA.
Período dos projetos de colonização em Jaru - Fonte: Assis Canuto
Com o asfaltamento e inauguração da BR 364, iniciou-se ali, um ponto de apoio aos camponeses e empreiteiras, havendo alguns poucos comerciantes que permaneceram até o momento histórico da ocupação pelos agricultores vindos do sul do país, atraídos pelas terras férteis e também porque tinham na certeza de conseguirem seu próprio sítio onde haveriam de produzir.
BR 364 próximo a Ponte do Rio Jaru.
Ali, as dificuldades foram enormes e cruéis com os migrantes, mesmo assim sobreviveram como bravos, vendo seus familiares sendo ceifados pela morte decorrente da malária, que chegou a motivar a triste cognominação de “pátria da malária”, pelo jornal “O Guaporé”. Outros males danosos, o isolamento decorrente da precariedade das estradas de penetração e, até mesmo da BR 364 antes de sua inauguração, que em épocas de chuvas, torna difícil o acesso a outros cantos de Rondônia.


Aleks Palitot
Historiador reconhecido pelo MEC pela portaria n° 387/87
Diploma n° 483/2007, Livro 001, Folha 098

quarta-feira, 20 de janeiro de 2016

Porto Velho, faces de uma história

Cidade de Porto Velho capital de Rondônia, década de 1950.
 “Nascestes ao calor das oficinas do Parque da Madeira Mamoré, pela forja dos bravos pioneiros, imbuídos de coragem e fé”.
Esse trecho é parte do hino de Porto Velho, letra de C. Feitosa, hino que talvez poucos nascidos em Porto Velho teriam conhecimento. Por isso, lembrar da instalação de administrativa de nossa cidade é tão importante. São nessas datas que levamos os cidadãos de Rondônia a conhecerem um pouco mais de nossa história, e assim refletir sobre a história de nossos pioneiros.
Pátio de obras da Estrada de Ferro em 1909.
Com a construção do Centro Administrativo da empresa construtora da ferrovia no antigo Porto Velho Militar, logo nas imediações os trabalhadores iniciaram a construção de suas casas para o lado que dava para Santo Antônio. Em 1913 criava-se a Vila de Porto Velho, e já no dia 2 de outubro de 1914 era publicada a lei número 757, criando o município de Porto Velho. Com o decreto assinado pelo Dr. Jonathas Pedrosa, governador do Estado do Amazonas, no dia 24 de janeiro de 1915, instala-se solenemente, e era considerado município autônomo, sendo o seu superintendente (prefeito) o Major do Exército Fernando Guapindáia de Souza Brejense, e intendentes, e suplentes, José Jorge e Braga Vieira, Luziano Barreto, Manoel Félix de Campos, Antônio Sampaio, José Camargo Achiles Reis, Alderico Castilho, José Pontes e como secretário, Sr. Manoel Pires de Castro.

Dr. Jonathas Pedrosa, governador do Estado do Amazonas

A cidade na opinião de Oswaldo Cruz era “um cenário desordenado” de 800 habitantes. Todos os barracos eram de madeira, inclusive os grandes barracões da companhia construtora que ficavam sobre pilares de alvenaria e cobertura de telhas francesas; outros eram cobertos com zinco e sobre esteios de quariquara ou itaúba, preferencialmente, sendo a grande maioria improvisadas cabanas de palha. Enquanto isso no Clube Internacional (hoje Ferroviário) mulheres e homens dançavam o fox ao son de jazz; rubicundos ingleses vestidos de branco, a beber uísque; alemães ingênuos e sorridentes, servindo chopp com avidez; francesas de Marselha, com admirável eroísmo profissional, sorrindo acintosas e convidativas aos peões.

Avenida Presidente Dutra com Sete de Setembro.


O PRIMEIRO PREFEITO

O governo de Guapindaia foi marcado por uma série de desentendimentos com os administradores da Estrada de Ferro Madeira Mamoré, pois a ferrovia gozava de isenção de impostos estaduais e municipais, além de ser detentora de grandes porções de terras destinadas ao uso da ferrovia.
Major Fernando Guapindaia
Como anteriormente a palavra do superintendente da Estrada de Ferro era lei, sendo que até a distribuição de lotes para a construção era, no entender dos administradores da ferrovia, da sua alçada, o major Guapindaia sentiu-se ferido em seus brios naturalmente reagindo e tendo como resposta inicial o cancelamento “ do passe grátis” que lhe fornecia a Madeira Mamoré, além de ser convidado a se retirar do prédio em que se instalara a prefeitura (em frente ao Mercado Central), bem como da casa onde morava e que pertencia à estrada de ferro.
Complexo da Estrada de Ferro Madeira Mamoré em Porto Velho
Guapindaia continuou sua investida contra os ferroviários, proibindo a retirada de dormentes e lenha dos locais que ele julgava estar de fora dos limites concedidos à ferrovia.
Avenida Sete de Setembro em Porto Velho
Tal medida gerou revolta, não somente nos chefes ferroviários, mas também dos que viviam de empreiteiras na extração de madeira, tendo os advogados da companhia entrado com recursos e, ao mesmo tempo, pressionando o superintendente para uma prestação de constas.

O ALAMBRADO

Praça Jonathas Pedrosa entre Sete de Setembro e Barão do Rio Branco

A intendência aprovou lei autorizando o superintendente  a dar nomes as ruas, sendo chamada de Avenida Divisória a que separava as terras da companhia das terras do município, que é a atual Av. Presidente Dutra, e nela  os ferroviários construíram um alambrado separando as terras da Madeora-Mamoré. As outras ruas foram denominadas Sete de Setembro, Rio Branco, Floriano Peixoto e Pedro II, embora algumas fossem apenas caminhos tortuosos. Em 1919, Guapindaia tentou eleger-se prefeito de Porto Velho, porém, não era pessoa grata da Madeira-Mamoré e, embora fosse apoiado pelo Dr. Joaquim Tanajura, foi derrotado pelo Padre Dr. Raimundo Oliveira. O Governo de Guapindaia o primeiro de Porto Velho, foi de 24 de janeiro de 1915 a 31 de dezembro de 1916, quando foi empossado o Dr. Joaquim Tanajura, eleito para o triênio de 1917 a 1919.     
Aleks Palitot
Historiador reconhecido pelo MEC pela portaria n° 387/87
Diploma n° 483/2007, Livro 001, Folha 098



A Pérola do Mamoré, sua história e seus pioneiros


Até os anos finais do século XIX, Guajará-Mirim constituía-se apenas de alguns seringais, sem nenhuma povoação que chamasse a atenção. Com a construção da Ferrovia Madeira-Mamoré teve início a formação de um núcleo urbano a partir do ponto final da estrada de ferro. O nome Guajará-Mirim em dialeto indígena local significa "Cachoeira Pequena" (FERREIRA. 2005). Outra versão ao nome é citada por MENEZES (1983), na etimologia da palavra gua significa Cachoeira, jara seria sereia e mirim pequena em Tupi. Mas temos outras versões, citadas pelos historiadores Abnael Machado de Lima e Yedda Borzacov atribuindo ao termo a tradução de Campo das sereias; Guaya+ campo e yara=sereia.

Populares em Guajará Mirim em frente a Estação Ferroviária - Fonte: José Calixto
A região tinha seus seringais explorados pela Guaporé Rubber Company, então gerenciada pelo Coronel Paulo Saldanha. Dentre os principais seringais locais destacavam-se o Rodrigues Alves, Santa Cruz e o Renascença. Os seringueiros viviam da coleta do látex e de um reduzido comércio com a vizinha povoação boliviana de Guayaramerim. Os indígenas que naturalmente ocupavam a região, defendiam o seu território, e assim, representavam uma constante ameaça e impedimento ao trabalho dos seringueiros. Dentre eles destacaram-se os Pacaás Novos.

Rio Mamoré fronteira com a Bolívia
Em 8 de outubro de 1912 foi instalado um posto fiscal em Guajará-Mirim, administrado pelo guarda Manoel Tibúrcio Dutra. O município foi criado em 1928, pela lei N° 991, assinada pelo presidente do estado do Mato Grosso, Mário Correia da Costa. A instalação do município ocorreu em 10 de abril de 1929, tendo como lº Intendente nomeado, Manoel Boucinhas de Menezes. Segundo viajantes que por Guajará-Mirim passaram na década de 20, esta cidade não diferia muito de Porto Velho em sua origem. Ao lado planejado das residências e escritórios da ferrovia surgiu um núcleo de povoamento com edificações improvisadas. Situação curiosa a de Guajará-Mirim, semelhante à de Santo Antônio do Rio Madeira, pois, apesar de ser pertencente ao estado do Mato Grosso comunicava-se mais intensamente com Porto Velho, no estado do Amazonas, com a Bolívia através de Guayaramerim e com Vila Bela no Mato Grosso. Determinava essa proximidade a ferrovia e os rios Guaporé e Mamoré, do mesmo modo que Vila Bela comunicava-se mais intensamente com Guajará-Mirim e Porto Velho do que com a capital do Mato Grosso. O difícil acesso por terra até Cuiabá encontrava sucedâneo na navegação do Guaporé e Mamoré. Assim Vila Bela, a capital do Mato Grosso até 1820, possuía maiores vínculos com Guajará-Mirim que com Cuiabá.
A cidade de Guajará Mirim na década de 1950.
 Guajará-Mirim era servida por algumas dezenas de embarcações de bandeira nacional e também bolivianas. Vapores de roda na popa, lanchas à hélice além de outros tipos de embarcação faziam o percurso de oito a quinze dias pelo Guaporé até Vila Bela e pelo Mamoré até a capital do Beni, Trinidad. Em 1931 um antigo administrador dos seringais da Guaporé Rubber e da Júlio Muller, o Coronel Paulo Cordeiro da Cruz Saldanha, criou a Empresa de navegação dos rios Mamoré e Guaporé que, subvencionada pelo governo federal, passou a servir o trajeto para Vila Bela e o Forte Príncipe da Beira. Em 1943 essa empresa foi comprada pelo governo federal, transformando-se no Serviço de Navegação do Guaporé. Paulo Cordeiro da Cruz Saldanha foi prefeito de Guajará-Mirim, e seu sobrinho PAULO SALDANHA SOBRINHO, por duas vezes. Superintendente do então Serviço de Navegação do Guaporé por algumas vezes, além de Delegado Especial do Governo e também presidente da Câmara de vereadores da cidade de Guajará-Mirim.  Nas primeiras décadas desse século possuía Guajará-Mirim um comércio regular de bens e serviços para atender à população além de diversos órgãos públicos. Delegacia de polícia com efetivo de 10 praças e um sargento da força estadual, coletoria, posto fiscal, telégrafo e correio, escolas, cinema, dezenas de casas comerciais e uma população em tomo de mil e quinhentas pessoas. Essa população, como em Porto Velho, era composta por elementos das mais diversas nacionalidades: gregos, turcos, japoneses, espanhóis, barbadianos, portugueses, ingleses, americanos, franceses.
Clube Militar em Guajará-Mirim
Ressentiam-se as autoridades de Guajará-Mirim da ausência de um contingente militar para guarnecer a fronteira. O Forte Príncipe da Beira encontrava-se em ruínas. Guayaramerim, apesar de possuir uma população estimada em 400 pessoas, possuía um quartel com cem praças. Somavam-se ainda os oficiais e uma capitania do porto. Esta situação foi resolvida durante o período Vargas quando em 1932 foram criados os Continentes Especiais de Fronteira em Porto Velho, Guajará-Mirim e Forte Príncipe da Beira, subordinados a inspetoria do Capitão Aluízio Pinheiro Ferreira.
Nos períodos que envolveram as décadas de 40 e 50 Guajará-Mirim sofreu os efeitos do chamado “Segundo Ciclo da Borracha”. Além desse novo surto gomífero, o município viu a criação de colônias agrícolas, no caso, principalmente, a Colônia Agrícola do Iata. A região ainda vivia da extração do látex, e do extrativismo da floresta, como, por exemplo, as castanhas, o quinino e etc.
Praça Dr Mário Correa em Guajará Mirim
Na década de 70 o Governo Militar estabeleceu como uma de suas metas ocupar a Amazônia, baseada no lema “Integrar para não entregar”. O Município de Guajará-Mirim mais uma vez, seria alvo do novo modelo estatal a ser implantado, no caso o Projeto Integrado de Colonização Sidney Girão, onde mais de 3 mil famílias seriam assentadas. A proposta de levar “homens sem-terra para uma terra sem homens”, sem considerar a configuração local da região e muito menos suas populações nativas, torna evidente que os modelos de programas de desenvolvimento implantados na Amazônia eram excludentes, na medida em que distribui lucros e prejuízos desigualmente. Concentra benefícios sem arcar com o custo social e ambiental, nem mesmo os financeiros, uma vez que, na maioria dos casos, os enclaves eram subsidiados (CARDOSO e FALETTO. 1970. p. 160).
Mercado Municipal em Guajará Mirim
Em mais uma tentativa dos governantes, na busca do desenvolvimento local da cidade de Guajará-Mirim, foi idealizada durante o ano de 1988, como alternativa econômica, a criação da Área de Livre e Comércio ou Zona Franca de Guajará-Mirim. O projeto visava resgatar o potencial de comércio, desgastado pela conjuntura econômica nacional e pela perda de competitividade dos produtos nacionais perante os importados pelo país vizinho, Bolívia. Anos mais tarde, em 1991, o projeto, acolhido pelo Governo Federal, foi transformado em projeto de lei, aprovado pelo Congresso Nacional, tendo sido sua regulamentação, decretada no ano de 1993. Sendo a área de favorecimento comercial e industrial, dentro de um programa desenvolvido pelo então Ministério de Integração Regional. A Área de Livre Comércio, aparentemente, não proporcionou o desenvolvimento local, ficando isso claro mediante os números do IBGE quanto ao crescimento de 1,6 por cento ao ano, constatado nos últimos três recenseamentos no espaço de 12 anos. Soma-se a esse crescimento econômico diminuto uma população que também decresce. A localidade chegou a ter 60 mil pessoas na década de 80 do século XX, e hoje chega, ao máximo, ao quantitativo de 40 mil habitantes. A Área de Livre Comércio de Guajará-Mirim, hoje está sob administração direta da SUFRAMA, baseando-se nos mesmos critérios da Zona Franca de Manaus.

Associação Comercial de Guajará Mirim
As dimensões territoriais e geográficas de Rondônia, a diversidade das contribuições dos diferentes elementos formadores de sua sociedade, a riqueza e variedade de seus ecossistemas, resultam num universo cultural incomensurável. Em Guajará-Mirim, a pérola[1] que a cada ano perde o seu brilho, não possui a contento, políticas públicas para o desenvolvimento sustentável. Não se verifica na municipalidade a busca por fomentar o turismo histórico ou ambiental, através dos espaços que lá já existem, como o Museu Municipal, uma antiga estação da Estrada de Ferro Madeira Mamoré; as locomotivas da Estrada de Ferro Madeira Mamoré abandonadas no silêncio; a Serra dos Pakaas no Parque dos Parecis, com suas cachoeiras e trilhas; a antiga colônia agrícola do Iata, com suas festas tradicionais; o encontro das águas dos rios Pakaas e Mamoré; o evento cultural denominado Duelo da Fronteira, entre grupos de danças de boi-bumbá, reflexo da herança nordestina deixada durante os ciclos do látex; e a Festa centenária do Divino Espírito Santo, uma das muitas manifestações da identidade religiosa local herdada dos portugueses.


Hoje a cidade de Guajará-Mirim, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, possui 41.656 habitantes. O território do município corresponde a 24.856 km², localizado no norte do Estado de Rondônia com o Bioma Amazônico. A receita no ano de 2013 foi de 41 milhões e as despesas calculadas no valor de 33 milhões sendo que boa parte da arrecadação advém da prestação de serviços (cerca de 352.000 por mês).
Ao observarmos as ações do Estado, em qualquer das esferas, para o desenvolvimento regional, notamos que os projetos sempre defendem a ideia de que se construa uma sociedade melhor, devendo promover a redução das desigualdades sociais, induzir a formação e a adoção de políticas de desenvolvimento. Todavia é importante que atentem também para a cultura, a história e a identidade local. A discussão de potenciais atividades econômicas que possam levar a Amazônia ao desenvolvimento sustentável é de maior relevância para região; entretanto, é importante verificar até que ponto as atividades que vêm sendo propostas por governantes e planejadores obedecem aos princípios de sustentabilidade, não somente ecológica, mas também social, espacial, econômica e cultural.
Aleks Palitot
Historiador reconhecido pelo MEC pela portaria n° 387/87
Diploma n° 483/2007, Livro 001, Folha 098






[1] A cidade é conhecida em Rondônia como a pérola do Rio Mamoré.

segunda-feira, 11 de janeiro de 2016

Urucumacuan, o Eldorado em Rondônia


O Eldorado (do castelhano El Dorado, "O Dourado"), Manoa (da língua achaua manoa, "lago"), ou Manoa del Dorado (já citado anteriormente) é uma lenda que se iniciou nos anos 1530 com a história de um cacique ou sacerdote dos muíscas, indígenas da Colômbia, que se cobria com pó de ouro e mergulhava em um lago dos Andes. Inicialmente um homem dourado, índio dourado, ou rei dourado, foi depois fantasiado como um lugar, o reino ou cidade desse chefe lendário, riquíssimo em ouro.
Embora os artistas muíscas trabalhassem peças de ouro, algumas das quais hoje formam o rico acervo do Museu do Ouro em Bogotá, nunca foram encontradas entre eles grandes minas, muito menos as cidades douradas sonhadas pelos conquistadores que pretendiam repetir a façanha de Francisco Pizarro no Peru. Tudo indica que os muíscas ou chibchas obtinham o ouro por meio de trocas com indígenas de outras regiões ou extraindo ouro dos rios da região.


Sedentos por mais ouro, os conquistadores fizeram o mito migrar para leste, para os Llanos da Venezuela e depois para além, no atual estado brasileiro de Roraima ou nas Guianas. Na forma tomada pelo mito a partir do final do século XVI, a cidade dourada, agora conhecida como Manoa, se localizaria no imenso e imaginário lago Parima e teria sido fundada ou ocupada por incas refugiados da conquista de Pizarro.
O mito é semelhante ao de Paititi ou Candire, que também seria uma cidade cheia de riquezas que teria servido de refúgio a incas que escaparam da conquista espanhola, mas costuma ser localizada muito mais ao sul, entre as selvas da Bolívia e Peru ou no Brasil, no Acre, Rondônia ou Mato Grosso. Os dois mitos têm origem comum no sonho de conquistadores de enriquecer repetindo a façanha de Francisco Pizarro, o conquistador dos incas, e influenciaram-se mutuamente, mas o de Paitíti associou-se, em tempos mais recentes, com a nostalgia de povos andinos pelo antigo Império Inca, ganhando conotações nativistas.

João de Albuquerque Perereira de Melo e Cáceres
Na segunda metade do século XVIII, correu a notícia em Cuiabá da descoberta das minas de Urucumacuan, ricas jazidas que se localizaram entre o rio Juruena e o Jamari; entretanto o caminho a ser percorrido nunca foi definido, mas o capitão-general João de Albuquerque Perereira de Melo e Cáceres mandou fazer exploração naquelas paragens “ em direitura dos Campos de Parecis descendo o rio Guaporé”[1]. Fizeram prospecção no leito do rio Branco, onde teriam achado mostras de ouro, também o rio Piolho, perto de onde alguns negros formaram um Quilombo do mesmo nome, demonstrou existir ali ouro, igualmente o São Pedro foi escavado onde encontraram mostras de ouro embora muito fraca. Assim resolveram voltar ao ponto de partida sem conseguir encontrar as minas propaladas, como acontecera com outros aventureiros que as procuravam.
Em 1909, Rondon observou uma região da linha telegráfica, a partir do rio Cabixi, nas terras dos municípios de Vilhena e Pimenta Bueno. Ali haveria uma faixa de noventa quilômetros contendo cascalho aurífero de onde teria colhido amostras e enviado para análise no Rio de Janeiro, onde fora revelada a existência de ouro de 23 quilates, tendo o sertanista organizado, em seguida, uma expedição sob a direção do engenheiro de Minas Francisco Moritz.

Marechal Rondon na região Guaporeana
“ O mesmo engenheiro Moritz foi encarregado ainda pelo general Rondon, de estudar, sob o ponto de vista mineralógico, a zona compreendida entre os rios Ji Paraná ou Machado, o Comemoração e o Pimenta Bueno.
Reorganizando sua turma em Vilhena, daí partiu a nova expedição, pela picada da linha telegráfica, até atingir a estação “Barão de Melgaço”, banhada pelo Comemoração. Tendo iniciado a marcha no dia 25 de janeiro de 1913, alcançou a estação telegráfica José Bonifácio, no dia primeiro de fevereiro de 1913, ali permanecendo até dia 5 de março, época em que as chuvas começaram a diminuir. No dia 10 de março, chegava a expedição a Barão de Melgaço, onde permaneceu até dia 20, ocupada na construção de uma canoa. A 22 acampou junto a foz do Rio Barão de Melgaço, onde iniciou o exame do terreno, estudando esse rio e seus tributários. Internando-se mais a Oeste examinou todos os córregos até encontrar a formação sedimentária formando capa sobre o granito, sem descobrir porém, nenhum vestígio de mineração.

Expedição de Rondon entre Mato Grosso e Rondônia
“ Do exposto verifica-se a ter a comissão Rondon descoberto, no interior do estado de Mato Grosso, uma larga faixa de terras onde abunda o ouro e onde existe o diamante. A sua localização na zona das nascentes do Ji Paraná e Cabixi parece identificar a célebre mina de Urucumacuã, de que tratam escritos antigos, conforme opinião versada pelo Marechal Rondon em conferência em 1915”.[2]
O etnólogo E. Roquette Pinto, um dos membros da Comissão Rondon, em seu livro “ Rondônia”, dá sua versão sobre a localização das minas:
“ Em 1909, a terceira expedição Rondon partiu de Juruena e varou inteiramente a mesopotâmia que se acha entre ele e o Madeira.
Começou a marcha a 2 de junho. A 11 de outubro estava a 18 graus e 17 minutos do Rio de Janeiro, debaixo do paralelo de mais um rio, que Rondon batizou com o nome de Pimenta Bueno a quem a geografia do Mato Grosso deve linhas magistrais. Depois passou em setembro pelo rio Barão de Melgaço e cabeceiras de Cacimba de Pedra, sob a orientação de Rondon, sonhador e patriota, o Ministério da Agricultura destinara 800 contos para se constituir a logística da Expedição Urucumacuã, liderada por uma equipe de três engenheiros geólogos, que se especializaram-se nas minas do Morro Velho”.
Estação Telegráfica Bonifácio 
Integravam a expedição ao Urucumacuã um médico, um radiotelegrafista, um enfermeiro e alguns garimpeiros. Seguiram à frente 20 trabalhadores, os quais, após dois meses em Porto Velho, foram para Guajará Mirim, no Mamoré. Por este rio entraram no Guaporé e subiram o Corumbiara com maquinaria e artigos diversos destinados às pesquisas auríferas. A esse tempo, pelo Ji Paraná, partindo de Calama, seguiam 24 toneladas de comestíveis, medicamentos, sondas e outros equipamentos de engenharia, tudo destinado a Pimenta Bueno, estação telegráfica. Ao todo foram cinco meses até Pimenta Bueno. “ Sem demora as febres e infecções intestinais atacaram a todos, inclusive os dirigentes. Embora doentes, os técnicos fizeram as buscas, as prospecções e avaliações e concluíram pela negativa”.[3]
Rondon estava convencido da existência das jazidas, que pensava ter localizado no rio Barão de Melgaço, cuja abundância de ouro daria para pagar a nossa dívida exterior. Com tantas gemas o presidente Vargas poderia encampar a “Bond and Shar” e subsidiárias; montar a Volta Redonda, sem ter que negociar com Roosevelt; construir muitas represas e a Petrobrás teria nascido dez anos antes, no contexto da época.[4]

No Rio Machado, os garimpeiros de diamante andaram pesquisando ouro propalando a existência daquele metal ali no leito daquele caudal. Também os pesquisadores andaram faiscando no Jacy-Paraná e, no rastro dos bandeirantes, voltaram a pesquisar o rio Branco. Mas o maior número de garimpeiros de ouro ocorreu, a partir de 1971, no valado Madeira e Mamoré, entre Lajes e Araras e, já em 1980, os garimpeiros iniciaram a ocupação de todo trecho entre Guajará Mirim e Porto Velho, quando a verdadeira da corrida do ouro aconteceu, até mesmo porque o governador Jorge Teixeira, conseguiu junto ao Ministro das Minas e Energia, a liberação temporária do garimpo manual na região, mas com uma série de restrições e orientações.


Sobre o garimpo da década de 80, temos ainda sofrido com seus reflexos históricos, principalmente no que tange ao impacto ambiental, sócio-cultural na região, problemas na urbanidade e também na violência.  Ao tempo que aparentemente o garimpo traria progresso e riqueza, ele deixou rastro de mercúrio nos rios, violência urbana e invasões a terras em Porto Velho que deram origem a novos bairros anos depois. O fato que a busca do ouro, do “El Dorado”, do sonho de ficar rico rapidamente faz parte do nosso passado, do presente, e acredito que por falta de controle, de fiscalização e repressão, ainda será o nosso contexto de futuro.

Aleks Palitot
Historiador reconhecido pelo MEC pela portaria n° 387/87
Diploma n° 483/2007, Livro 001, Folha 098





[1] CORREA FILHO, Virgílio – História de Mato Grosso. Rio de Janeiro, MEC-INL, 1969.p.162.
[2] MAGALHAES, Amilcar A. Botelho. – Pelos Sertões do Brasil, Porto Alegre, Globo, 1930.
[3] MAGALHAES, Amilcar A. Botelho. – Pelos Sertões do Brasil, Porto Alegre, Globo, 1930. Pág. 215.
[4] CABRAL, Otaviano – História de uma região; Mato Grosso, Fronteira Brasil-Bolívia e Rondônia. Rio de Janeiro, Himalaia, 1963. P254-55.

segunda-feira, 4 de janeiro de 2016

Por trás dessa obra existe um homem de uma OBRA maior


O dia 4 de janeiro, é um dia importante para a história de Rondônia. Acredito que é a data mais marcante para todos os pioneiros que acreditaram e lutaram na década de 70 do século XX, quando da criação do nosso Estado de Rondônia.
No dia 4 de janeiro de 1982 foi realizada, no Palácio Presidente Vargas, em Porto Velho, a cerimônia de instalação do Estado e posse do Jorge Teixeira de Oliveira no cargo de governador do Estado de Rondônia.

Pode ser considerado como o período de criação do estado de Rondônia, aquele situado entre 22 de dezembro de 1981, dia que o presidente da República General Figueiredo sancionou a lei que cria o Estado até o dia da criação da Assembleia Legislativa de Rondônia em 6 de agosto de 1983.
Jorge Teixeira foi uma destas forças da Natureza que de tempos em tempos aparecem entre os homens e deixam sua marca indelével na História. Só que esse grande homem, personagem de nossa história, parece no momento, ter sua história esquecida, sua passagem por nossas terras ser apagada, e todo o seu legado deixado de lado, aliás para trás. Recentemente o Exército Brasileiro, a Maçonaria, a Fecomércio, Governo de Rondônia e Fundação Rede Amazônica, unidos se empenharam na revitalização do Memorial Jorge Teixeira na antiga Residência Oficial dos Governadores em Porto Velho. Por isso, mesmo diante de tanto descaso das autoridades, ainda tenho esperança na restauração e preservação de outros espaços históricos em Rondônia.

A minha nota triste, vai para os responsáveis pela infeliz escolha, de colocar um monumento de arte moderna de tamanho considerável, em frente a estátua do fundador do Estado de Rondônia. É tão notório que a obra de arte que inclusive considero bela, encobre um outro monumento, que é impossível ver a estátua de Jorge Teixeira do ângulo da principal avenida de Porto Velho a Sete de Setembro no cruzamento com a BR 319 (antiga avenida Jorge Teixeira), onde as vezes a população nem se quer percebem que ali por de trás da dita Obra de Arte, existe uma estátua de um homem que deixou legado, que contribuiu para o surgimento do nosso estado, Jorge Teixeira de Oliveira. 

Geralmente quando pensamos em patrimônio histórico, temos a tendência natural de associá-lo somente a patrimônio material, ligado a riqueza, que são herdados ou que possuem algum valor afetivo. Porém, patrimônio não se limita apenas sentido de herança. Refere-se também, aos bens produzidos por nossos antepassados, que resultam em experiências e memórias, coletivas e individuais.
Tal herança histórica e cultural adquirida pode fornecer informações significativas acerca da história de uma região e do passado da sociedade. Por terem esse papel, acabam por contribuir na formação da identidade local, como também na formação de grupos, nas categorias sociais e no resgate da memória, desencadeando assim uma ligação entre o cidadão e suas raízes. Em vista disso, sua preservação torna-se fundamental no que diz respeito ao desenvolvimento cultural de um povo, uma vez que reflete na sua formação sociocultural. 

O que a obra de arte moderna não conseguirá de forma nenhuma, é esconder a grande obra e história em Rondônia, desse Gaúcho de General Câmara, uma pequena cidade interiorana surgida em torno de um velho Arsenal de Guerra do Exército, sua carreira militar já nasceu ali, do profundo envolvimento com as atividades armeiras em torno das quais girava quase toda a vida da pequena população. Formou-se Aspirante de Artilharia, num tempo em que a arma ainda era hipomóvel. Daí seu espírito misto de cavalariano e artilheiro, arrojado e algo romântico, mas sem nunca perder de vista o cálculo e a precisão.

Contudo, este aspecto de sua personalidade é apenas um traço referencial. Já à paisana, reformado do Exército, em 1979 chega a Rondônia com a missão de preparar a elevação do Território Federal à condição de Estado. Precedia-se a fama de melhor prefeito de Manaus dos últimos tempos, a capital do Amazonas.
Apoiado em Brasília por seu colega de turma, o Coronel Mario Andreazza, que ocupava o cargo de Ministro do Interior, a quem estava dado o comando da administração dos Territórios Federais, Teixeira pode administrar à vontade: recursos não faltavam e, se faltassem para uma dada obra, eram facilmente recambiados, de um para outro programa, por artes de remanejamentos que só o Poder Federal poderia conseguir, muitas vezes após mesmo a inauguração das obras.

Diante da escassez e das limitações dos meios de transporte locais, e face da BR – 364 que era uma verdadeira calamidade pública, o Governador-Coronel adotou o helicóptero com o mesmo desembaraço com que havia adotado o “safari” como traje de trabalho, e o indefectível gorro vermelho de pala dura dos paraquedistas com seu logotipo pessoal.
Mas talvez um dos traços que marque para sempre a história de sua passagem em Rondônia, fora o ânimo de progresso que trouxe à região e o indubitável serviço que prestou a esta terra no trabalho de torna-la apta a enfrentar o desafio da autonomia administrativa e financeira, foi sua canhestra participação na política local, ainda que seus atos, muitas vezes, beirassem o profético.  


Aleks Palitot
Historiador reconhecido pelo MEC pela portaria n° 387/87
Diploma n° 483/2007, Livro 001, Folha 098