quinta-feira, 29 de janeiro de 2015

O MONTE RORAIMA E SEUS MISTÉRIOS

Aleks Palitot no tôpo do Monte Roraima em 2015
Partimos para escalar o Roraima a 29 de outubro de 1927, depois da refeição da manhã, tendo a vanguarda ordem de nos esperar para o almoço... Atingimos o último grande degrau do considerável maciço. Penetramos pelas galerias formadas por imensos blocos de arenitos. O vento e a umidade neles haviam esculpido formas caprichosas de castelos em ruína, de fantásticos animais antediluvianos...achamos um mundo perdido”. (Marechal Rondon – 29.10.1927)

E foi assim, que o grande sertanista brasileiro Marechal Rondon cumpria mais uma de suas intermináveis missões. Em 1927 Rondon chegava ao Monte Roraima, e se encantava com um mundo diferente daquilo que o grande mestre da Amazônia ainda não havia conhecido. Não foi apenas Rondon o surpreendido, muitos outros aventureiros do passado já haviam caminhado por lá, e relatado aos quatro cantos do mundo sobre o “Elo Perdido” do Monte Roraima. Aliás, até hoje existe aqueles aventureiros que adoram uma TRIP diferente, encaram a aventura de subir no topo do Monte, e a surpresa assim como foi no passado, ainda é possível. O Monte Roraima encanta e espanta pela sua grandiosidade. São mais de cinco mil visitantes todo ano de vários lugares do mundo, que encaram as dificuldades de nove dias de caminhadas no calor, frio, chuva, forte umidade, terra batida, rochas, rios e paredões.  
Aleks Palitot no Mirante da Caverna denominada Hotel, local de acampamento.
Estive em uma expedição no Monte Roraima entre os dias 16 e 25 de janeiro de 2015, com pesquisadores renomados de várias áreas científicas do Brasil entre; biólogos, paleontólogos, geógrafos, especialistas em geologia, engenheiros, químicos, botânicos e especialistas em anfíbios e pássaros. Tentamos reviver o passado no presente, uma alusão ao feito do Marechal Rondon, quando chefe da Comissão de Inspeção de Fronteiras do Brasil chegara nos limites entre Brasil e Venezuela no ano de 1927. Fazer um pequeno inventário, análises simplificadas de tudo aquilo que existe lá em cima no cume da Mãe das Águas, como pelos índios pemón, também é chamado o Roraima.
Inspeção de Fronteira de 1927 com Marechal Rondon no Monte Roraima.
Um dos lugares mais antigos do planeta, O Monte Roraima marca a divisa dos três países da América do Sul: Brasil, Venezuela e República Cooperativista da Guiana, e está catalogado como o sétimo ponto mais elevado do país, com 2.739 metros. O nome do Monte é que deu origem ao estado de Roraima, a partir da expressão ROROI(verde azulado) e IMA (grande), na língua Pemon (indígenas que vivem ao sul da Venezuela, da mesma etnia Taurepang, no Brasil).
O primeiro homem a vislumbrar o Monte Roraima foi o inglês Sir Walter Raleigh em 1595, que chegou até a base, mas não conseguiu subir. Somente em 1884 o botânico Everard Im Thum, conseguiu a proeza. Seus impressionantes relatos inspiraram o escritor Arthur Conan Doyle na obra imortal “O Mundo Perdido”.
Vale dos Dinossauros - Monte Roraima - 2015.
O tempo parece ter parado no alto de algumas montanhas do sudeste da Venezuela. Não são montanhas pontiagudas, verdejantes ou nevadas como as que estamos acostumados a contemplar, nem fazem parte de cadeias com alturas monumentais -  como nos Andes ou Himalaia. As mais altas montanhas ali superam os 3.000 metros, porém, não existe montanhas iguais em nenhum outro lugar do planeta.
Vale do Roraima e ao fundo Monte Kukanan
Nascidas num tempo remoto em que a vida na Terra nem sequer engatinhava, há quase uma centena delas entre as florestas e savanas venezuelanas, invadindo a Amazônia brasileira e Guiana. Elas têm formas curiosas, cilíndricas, com paredões radicais cor de terra que sustentavam imensos platôs. Parecem mesas imensas e ficaram conhecidas com Tepuis, palavra que significa montanha na língua dos índios pemons – grupo ancestral que habitam aquela região. Com suas espécies vegetais e formações rochosas assustadoras que chegam a lembrar de dinossauros, o Monte Roraima é o mais complexo, desafiador e misterioso dos tepuis.

DICAS PARA O MONTE RORAIMA

Platô do Monte Roraima - Lado venezuelano - 2015
O monte fica ao norte do Estado de Roraima, na divisa com a Venezuela. Para chegar você precisa ir de avião até Boa Vista, a capital do estado. A partir de Boa Vista são necessárias 2,5h de estrada pela BR 174 até Santa Elena de Uairén, totalmente afastada e muito bem sinalizada. Depois de 68 km até a estrada da vicinal que conduz à Comunidade Indígena de Paraitepuy, localizada no Parque Nacional Gran Sabana na Venezuela. A melhor época é no período menos chuvoso entre setembro e abril, mas cada ano é muito singular. Nesse período sugerido, as trilhas são menos escorregadias, a travessia de alguns rios é menos complicada e há um pouco mais de “conforto” nos acampamentos. As viagens nos outros períodos representam uma aventura maior, compensada também pelo espetáculo das cachoeiras mais densas. A temperatura na base oscila em torno dos 20 graus, e no topo fica por volta de zero grau à noite.
Acampamento no Monte Roraima - Caverna Hotel - 2015
O acesso ao Monte Roraima é possível a todas as pessoas (via trekking ou mesmo de helicóptero) que gostam de realizar atividades na natureza, mas é preciso ter consciência de que a realidade da caminhada é difícil e cansativa, o nível de subida é entre 3 e 4 do Monte, anda-se muito em terrenos acidentados, um sobe-desce sem parar, o desgaste físico é extenuante e é necessário estar disposto a passar por imprevistos.

TERRA DE LENDAS E PLANTAS EXÓTICAS

Biodiversidade do Monte Roraima
Como todos os tepuis da região, o Monte Roraima começou a ser desenhado há quase dois bilhões de anos, quando nem sequer os continentes apresentavam seus contornos atuais. O topo do Monte Roraima é um lugar sinistro, sem referências geográficas em qualquer lugar do mundo. O exército de pedras escuras do platô, com formas e dimensões distintas que variam conforme a luz seria capaz de instigar a imaginação até do mais duro e cético dos escritores. 
Aleks Palitot no acampamento Base no pé do Monte Roraima - 2015
Muitos trechos dos seus quase 90 km de área permanecem intocados, seja pela dificuldade de acesso ou pelas crenças indígenas que os isolam. Para se ter uma idéia, somente em 1976 é que o primeiro homem (o escritor venezuelano Charles Carias) desvendou o impressionante Vale dos Cristais, local próximo ao ponto que marca a tríplice fronteira entre Brasil, Venezuela e Guiana. Já as lendas mantidas vivas pelos índios fazem com que os visitantes e estudiosos jurem ter vistos criaturas pré-históricas, ou ouvido urros estranhos e horrendos quando alojados no Monte Roraima, mas os únicos seres vivos devidamente registrados no topo do Monte, são alguns pássaros, insetos, anfíbios – entre eles a peculiar borboleta tigre e o sapo de nome científico Oreonphyella Quelchii. Estima-se  que pelo menos 400 tipos de bromélias e mais de 2.000 tipos de flores e samambaias compõe a diversidade da flora.

O CLIMA DE MISTÉRIO

Trilha até o Monte Roraima - Venezuela - 2015
A partir da aldeia Paraitepuy, distante 26 km da base do Monte Roraima, são dois ou três dias inteiros de caminhadas pela savana, subindo e descendo a todo instante até o alto da montanha. Às margens do Rio Tek já se têm uma bela vista do Monte Kukenan (Pai dos Ventos), irmão do Roraima, mas de exploração muito mais difícil, possível apenas em período de poucas chuvas. Chove regulamente ali durante oito meses no ano. E mesmo entre setembro e abril, época de menos chuvas, o Roraima vive envolto em nuvens, que criam um microclima especial, contribuindo com a atmosfera misteriosa e sombria. Além disso, as águas proporcionam a existência de cachoeiras espetaculares na região, como o famoso Salto Angel, no Ayan Tepui, o maior salto dágua do mundo em queda livre.

O VALE DOS CRISTAIS

Ponto Tríplice entre Venezuela, Brasil e Guiana no Monte Roraima - 2015
O marco piramidal que define a tríplice fronteira, fica numa espécie de arena, cercado por impressionantes formações. De um lado o Vale dos Cristais, extenso e bonito (na Venezuela); do outro, o temido Labirinto (na Guiana). Próximo, outro caminho cheio de fendas e lagoas leva ao paredão do lado brasileiro. Muito além do Labirinto fica o Lago Gladys – assim batizado em homenagem a um lago citado em O Mundo Perdido, obra do escritor inglês Arthur Connan Doyle, que claramente se inspirou em relatos sobre o Monte Roraima para compor a atmosfera misteriosa de seu livro. Muitos índios dizem que o Lago Gladys não existe. Alguns que já estiveram por lá criam dificuldades para encarar mais dois dias de trilha “suicida” a partir do ponto tríplice. O caminho do Lago é apenas um entre os muitos temores dos índios pemons, que fiscalizam o lugar sagrado, considerado assim para eles. A atual geração de nativos incumbida de guiar os visitantes parece enfrentar as vezes a tarefa com resignação e dor. O dinheiro do turismo é a sua principal fonte de renda, mas eles se sentem na obrigação de defender a montanha, e são hostis quando alguém grita, joga lixo no chão do parque ou promove gestos e atitudes que eles consideram um desrespeito ao Monte Sagrado.
Vale dos Cristais no Monte Roraima - 2015
Sob o olhar dos imensos tepuis, a Terra evoluiu, mudou-se, esculpiu praias, montanhas e desertos, deslocou homens e impôs desafios. Anônima e eterna testemunha desta trajetória, o Monte Roraima é um lugar mágico onde o silêncio emite sons, as pedras se movimentam, a vida viaja num sopro de vento.
Membros da Expedição Monte Roraima 2015
Dinossauros existem? Claro que sim. O Monte Roraima está lá para mostrar isso, pois num mundo onde os sonhos e a imaginação estão acima de qualquer suspeita, tudo é possível. Sozinho ou em grupo, trilhar a história e os caminhos que levam ao topo do Monte Roraima é sempre uma aventura inesquecível, mas para que isso aconteça, é preciso alguns cuidados especiais e, sobretudo, um bom planejamento. É preciso respeitar as adversidades do Monte Roraima, existem inúmeros obstáculos que exige cuidado e uma boa orientação. Rondon relatou: “ Uma larga abertura no planalto, vale formado por este ou por águas que vertiam para o norte, impediu sua marcha para frente. Com receio de ser colhido pela chuva em ponto já distante do acampamento, desistiu de procurar passagem nesse labirinto empedrado de montículos de formas originais, onde o explorador dificilmente podia se orientar”.
Poços da Jacuzzi - Monte Roraima - 2015
Na verdade, o mistério e desafio de encarar a subida ao Monte Roraima, também está em cada um de nós. No dia a dia, encaramos desafios da vida. Subir ao Monte é acrescentar nas páginas de nossa história de vida, uma aventura recheada de imagens surreais que marcarão não apenas a nossa existência na terra, mas a nossa alma.
Alvorada no Monte Roraima - Aleks Palitot - 2015


Aleks Palitot
Historiador reconhecido pelo MEC pela portaria n° 387/87
Diploma n° 483/2007, Livro 001, Folha 098


segunda-feira, 12 de janeiro de 2015

Senhores dos Rios em Rondônia.

Ilha da Quarentena - Rio Madeira - Porto Velho - RO
Podeis imaginar o que é cruzar a Floresta Amazônica através dos seus rios?
Por dias não se vê nada além da grande floresta. Perfeita e cheia de vida. Rios, estradas de um caminho só. Vive-se preso ao medo. Medo das tempestades. Medo de doenças. Medo de animais selvagens. Medo do desconhecido.
Então é preciso ocultar esse medo bem no fundo da alma, e estudar os mapas, observar a bússola e os astros, rezar para um bom dia de remada e navegação, e ter esperança. Pura, simples e frágil esperança. Assim, vive-se a verdadeira aventura nascida do vasto desconhecido, além da imensidão da Amazônia. Uma nova vida, uma nova História.
Encontro do Rio Mamoré com o Rio Pakaás em Guajará Mirim - RO
Foram os exploradores do passado. Bandeirantes, entradas, sertanistas e moções que, entre os séculos XVII e início do XX, se cobriam de esperança e alavancados de uma grande coragem, deslizavam suas embarcações pelas águas do sudeste do Brasil, com destino a uma floresta até então intocável. Havia promessas de riqueza, glória e fé. Bastava se aventurar e encarar terras antes nunca exploradas, mas, que despertava no imaginário do homem a possibilidade de ali existir um El Dorado. Um lugar de oportunidades, de expandir a fé cristã, de ficar rico da noite para o dia e cravar no solo amazônida seu nome, marcando a história com atos de heroísmo e superação, tendo como prêmio final, o reconhecimento pelos seus feitos.
Rio Preto do Candeias - Candeias do Jamari - RO
Na verdade, nem tudo era perfeito, a não ser a biodiversidade da Amazônia e seu bioma. Havia doenças, por que não falar dos índios que defendiam suas terras contra os invasores. O “senhor dos rios” era diariamente levado a pagar um preço muito alto pelo seu sonho de glória e riqueza. Fato, que levava a selvageria do explorador, ser tão mais selvagem em seus métodos de conquista, quanto, ao comportamento do índio na floresta, que pelo conquistador era um selvagem da pior espécie.
Rio Guaporé - Costa Marques - RO
Em algumas circunstâncias, escritores da história se reservam algumas vezes, ao fato histórico em si, a datas, ano, como se isso fosse o teor da história, margeando apenas os desdobramentos e cotidianos dos “senhores dos rios”, que muito mais que uma margem, são parte fundamental da leitura que devemos fazer, sobre a ampliação do território brasileiro frente a Coroa Espanhola ainda no período colonial. Além das Entradas e Bandeiras, não nos furtemos de relembrar o sertanista mais conhecido do mundo, o Marechal Rondon, que foi além de sua missão na Amazônia, deixando marcas positivas de um processo de reconhecimento mais profundo do mundo amazônico, muita além das margens.
Rio Jaci - Ponte da E.F.M.M. - Jaci Paraná - RO
Do que falam as margens? O que revelam? Ou ocultam? Fala-se delas ou elas? Dos discursos historiográficos que tratamos pouco importa trocar as margens de lugar. Não se trata de inverter ou eleger centros e periferias da história. A questão estaria menos no local – espaço geográfico – mas, sim, no papel ocupado por algumas narrativas e seus cenários num determinado discurso historiográfico, que nacional, homogêneo e hegemônico.
Rio Madeira - Porto Velho - RO
Rondônia é a cristalizada por culturas que nasceram no berço dos seus rios, e aqui, somos agraciados pelos rios Madeira, Machado, Jamari, Mamoré e Guaporé, e como pilares de sustentação, proporcionaram no passado, o ingresso dos sertanistas, a sobrevivência dos nativos, e no presente a permanência de algumas comunidades caboclas e tradicionais.
 
Rio Pakaas - Guajará Mirim - RO
Tivemos a experiência de navegar por 10 rios de Rondônia utilizando um kaiak, embarcação esta, que no passado foi inventada por esquimós que utilizavam ossos de baleia e couro de animais, para sua fabricação. A nossa aventura é tentar fazer alusão aos homens que no passado, superaram de alguma forma, as adversidades de navegar pelos rios de Rondônia, encarando diariamente as dificuldades naturais de um ambiente selvagem, que no passado, não se cansava em tentar expurgar os invasores e conquistadores da floresta e dos rios.     
Rio Preto do Candeias - Candeias do Jamari - RO
E os rios têm seus senhores e também seus servos. Sociedades indígenas reinventam-se como no Mamoré, Jamari e Pakaas. Podemos, assim, percorrer os desvãos das corredeiras do Madeira e da vida de índios que por ali ainda existem. Ritos e sons dos rios confundem e são confundidos com as experiências de indígenas e setores envolventes. O Guaporé ganha vida histórica. Como a Amazônia, ele também é inventado como região, espaço geoecológico. Dele expulsa-se a história. Mas a recuperamos nos relatos de conquistas e derrotas. O silenciado e o enfatizado se invertem. Menos mediação da natureza e, sim, expectativas e percepções. 
Rio das Garças - Porto Velho - RO
É de carne e osso, sangue e coração. São povos como os quilombolas de Santa Fé e Santo Antônio das Pedras Negras no Guaporé refazendo o contato colonial, suas identidades e, portanto, a si mesmos. O Outro paulatinamente reinventa o Nós. E ambos mudam. Desejos da conquista e colonização são escravos das canoas, e estas dos rios.
Rio Machado - Ji-Paraná - RO
Navegamos pelos rios Machado, Preto, Candeias, Mamoré, Madeira, Guaporé, Jamari, Rio Jaci e Garças, não apenas para viver um turismo de aventura, ou menos ainda para de forma documental, seguir a risca o que os “senhores dos rios” viveram no passado, e assim, fazer uma alusão próxima da realidade, extraindo daquela essência, os dissabores de uma viagem quase interminável.  A nossa intenção era sentir, viver e aprender. Essa tríade foi a nossa grande lição. Precisamos conhecer o passado, tentar entender e refletir. Viver essa experiência foi algo imensurável. Ao longo dos rios que navegamos, podíamos imaginar o quanto foi difícil para esses homens “senhores dos rios”, que chegaram à levar três anos em uma viagem de São Paulo-Amazônia –Belém, seguindo apenas os cursos dos rios.
Rio Madeira - Porto Velho - RO
Em muitos artigos e manuais – o que se passou chamar de Amazônia foi verdadeiramente expulso. Uma expulsão histórica, uma cada vez historiográfica. Inventada como região – unida e homogeneizada – a Amazônia foi transformada num mundo distante. Da história distante, mas próxima da natureza. Reintegrar estes mundos não é tão somente um esforço bem intencionado ou politicamente correto de compreender o regional. Significa entender a construção de ima(r)gens naquilo que nomeamos Amazônia, experiências não foram miméticas ou variáveis passivas de mundos dela distantes, mas extremante ligados, pela história de seus rios.

Aleks Palitot
Historiador reconhecido pelo MEC pela portaria n° 387/87
Diploma n° 483/2007, Livro 001, Folha 098


sexta-feira, 9 de janeiro de 2015

O NOME PORTO VELHO

Vista Panorâmica de Porto Velho, início da década de 50. A rua ao centro é a
Avenida Sete de Setembro. Atual centro comercial de Porto Velho RO
      Porto Velho completa nesse mês de janeiro o centenário de instalação do município, quando o seu primeiro prefeito, o Major Fernando Guapindáia tomou posse em 24 de janeiro de 1915.  Refletindo sobre a história de Porto Velho, iniciamos pelo nome de nossa cidade com trajetória histórica ímpar, mas, que trás logo na origem do nome da mesma, uma controvérsia. Falo na história lendária, para não dizer mitológica, do “velho Pimentel”, o tão falado e lembrado velho do porto. Esta afirmação não têm qualquer sustentação histórica, inclusive, alguns “historiadores” ainda comentem o absurdo de afirmar que a figura do “Velho Pimentel” existiu, quando não temos nenhum documento primário ou secundário, nenhum descendente do mesmo na nossa cidade. Fato também, é imaginar que um senhor de presumíveis 70 anos, em plena floresta Amazônica, teria condições físicas e com apenas um machado, derrubar árvores, e produzir lenha para os navios a vapores do Madeira. 

Setor portuário em 1909 no pátio de oficinas da Estrada de Ferro Madeira Mamoré.
      Devemos resaltar, as cartas de Antônio Rolim de Moura, que quando governador da Capitânia do Mato Grosso, descreve de forma documental, que um escravo no Guaporé, teria média de vida de no máximo 10 anos, em virtude das condições de vida na Amazônia. Mas é verdade, que a lenda do “velho do porto” pegou, e penso que devemos conviver com as duas versões.
Porto da Estrada de Ferro Madeira Mamoré em Porto Velho - 1911
       A versão oficial e devidamente documentada relata, que quando se iniciou a Guerra do Paraguai em 1864, o Presidente daquele país Solano López teria invadido o Mato Grosso. Numa tentativa de se precaver a novas invasões, e manter contato fluvial com aquela região, o nosso Imperador D. Pedro II, mandou construir um porto próximo onde hoje é o pátio da Estrada de Ferro Madeira Mamoré. Quando a guerra se encerrou em 1870, o porto aos poucos foi abandonado e não teria a devida manutenção. 

Pátio da Estrada de Ferro - Porto Velho - 1911
      Em 1872 se iniciou a construção de um novo porto em Santo Antônio, para dar suporte a empresa Public Works, que iniciava a construção da Estrada de Ferro Madeira Mamoré. Com o porto novo concluído, era comum a referência ao antigo porto da Guerra do Paraguai, como Porto Velho Militar ou Ponto Velho Militar, e assim teria se efetivado o nome Porto Velho.
         
 Aleks Palitot
Historiador reconhecido pelo MEC pela portaria n° 387/87
Diploma n° 483/2007, Livro 001, Folha 098


quarta-feira, 7 de janeiro de 2015

CENTENÁRIO DAS LINHAS TELEGRÁFICAS EM RONDÔNIA

       
Comissão das Linhas Telegráficas - Rondon - 1907 -1915
             Se a chegada da expedição colombina às Antilhas, em 1492, contribuiu para ampliação do horizonte geográfico e cultural dos europeus no final do século XV, uma vez que as terras recém-descobertas tornaram-se uma gigantesca periferia do mundo, as várias expedições conquistadoras, que trilharam o Novo Mundo ao longo do século XVI, revelaram, por seu turno, que nesta imensa “margem do mundo”, havia outras margens. Foi assim que, a partir das Antilhas, as regiões de terra firme do continente americano foram sendo conquistadas. No primeiro momento, foi a região mesoamericana, tendo a derrota da Confederação Asteca como seu principal triunfo. No segundo, já a partir do que hoje é o Panamá, foi a vez dos Andes Centrais,e com prêmio, o Império Inca.
             Foi nesse processo de conquista colonial que a região amazônica tornou-se uma das margens do Novo Mundo, um vasto desconhecido. Porém, um vasto desconhecido que, ao contrário do que ocorreu com o Vale Mexicano ou com os Andes Centrais – “margens” que se tornaram “centros” do mundo colonial -, continuou nessa condição, vindo até os dias de hoje.
Marechal Cândido Rondon
               Sendo uma das “margens” – limites – do Novo Mundo, a Amazônia, como região ainda bastante desconhecida pelos europeus, tornou-se, ao lado de outras “margens americanas”, um alimento para imaginação coletiva. Em suma: à medida que a conquista europeia prosseguia, o empirismo do devassamento era acompanhado por expectativas e projeções oriundas de um universo mental carregado de componentes de longa duração e outros simbolismos. Desejos da conquista e colonização são escravos das canoas, e estas dos rios. Pelas estradas naturais da Amazônia seguiram bandeirantes, índios, missões, moções, entradas, sertanistas e quilombolas. Os sertões são transformados em paisagens movediças. Estão em todos os lugares. Ressurgem ou desaparecem. Tanto lugares de passagem das narrativas que enfatizam a dominação como portos seguros para quem procura proteção. Mapas e desenhos consolidam a dominação. Cenários ocultam e ao mesmo tempo desvelam os sertões.
Marechal Rondon idealizador do SPI - Serviço de Proteção ao Índio - 1910

            Diante de muitas incertezas e obscuridade sobre a região Amazônica em Rondônia, o presidente da República Afonso Pena, incumbiu um homem, que trazia consigo o espírito dos povos indígenas, o respeito pela floresta dos quilombolas, e a coragem e determinação bandeirantes e exploradores, estes personagens do passado, Mas, que se faziam presente em atitudes positivas no que tange ao percurso doloroso que Rondon travou em meio ao vasto desconhecido, trazendo após anos de trabalho, um pouco da floresta ao povo brasileiro, que ainda era povoado por lendas, mistérios e vazios científicos. Marechal Rondon, foi em seu tempo o homem certo, para uma missão incerta. O militar aguerrido, que evitada guerra contra índios. O positivista convicto em busca da Ordem e do Progresso.

 1907, O COMEÇO DE TUDO.

Em 1907, o oficial do corpo de engenharia militar, Cândido Mariano da Silva Rondon foi encarregado pelo governo federal de implantar a linha telegráfica entre Mato Grosso e Amazonas ( atualmente parte de Rondônia), tendo como extremos a cidade de Cuiabá e Santo Antônio do Rio Madeira, povoado que se localizava a 7 km acima da atual capital de Rondônia.


                Rondon a implantou depois de cortar toda uma região que Roquete Pinto sugeriu em 1915, chamar-se “terras de Rondônia”, local etnográfico entre Juruena e o Madeira, cortado pela linha telegráfica já conhecida por “Estrada Rondon”. Para bom desempenho do seu trabalho o sertanista dividiu-o em três grandes etapas denominadas “expedições” e que foram: A expedição de 1907, que levantou o trecho entre Cuiabá e o rio Juruena, fazendo um total de 1.781 km de reconhecimento; A expedição de 1908, que efetuou 1,653 km de reconhecimento, tendo varado o inóspito trecho entre Juruena e a Serra do Norte; A expedição de 1909, a mais famosa de todas, com 2.232 km de reconhecimento e incrível varação pelas florestas intrínsecas da Amazônia, saída da Serra do Norte até o caudaloso rio Madeira.

A EXPEDIÇÃO DE 1907

              A empreitada teve início em 2 de setembro de 1907 e, no dia 29 de novembro, já estava de regresso a Diamantino, após ter chegado a Juruena. Era aquele ponto que seria conquistado pela Comissão Rondon em sua primeira penetração pelos sertões, depois da partida de Cuiabá, e passagem pelos vilarejos de Guia, Brotas e Rosário, trajetória da linha telegráfica. Entretanto, os 89 dias contados pela Expedição foram a partir de Diamantino, quando começaram a abrir o piquete de penetração. A coluna foi composta pelo até então Major Rondon como comandante; ajudante o 2° tenente João Salustiano Lyra; o farmacêutico Benedito Canavarros; o fotógrafo Luiz Leduc; e mais 16 praças e empregados auxiliados por 34 muares e 4 bois cargueiros.

Membros da Comissão após abaterem um anta, para complementar a alimentação.
             Munidos de uma trompa que lhes servia acústica, os expedicionários andavam a cavalo quando o local permitia, seguindo o “picador” com a bússola de algibeira do chefe. Um homem era encarregado de medir a distância por intermédio do passômetro de um dos animais escolhido para aquela finalidade. O picador iria à frente marcando as árvores por onde deveriam passar os foiceiros e machadeiros, denominados assim naquela épocas, os bravos homens que seguiam a frente da abertura dos caminhos da Comissão Rondon.
            Ao meio-dia já os trabalhadores deveriam escolher o local para acamparem, pois que haviam saído pela madrugada depois da primeira refeição e mesmo porque os picadeiros, mais lentos, haveriam de chegar muito mais tarde, quando então se reuniam para avaliação dos feitos diários e, após a terceira refeição, às 22 horas, soava o toque do silêncio.
Comissão Rondon em Rondônia - 1915
         Cinco dias depois da saída de Diamantino, os expedicionários entraram em contato com os índios Parecis, na cachoeira do Kágado, a 74 km de Diamantino, quando Rondon mandou fincar um mastro no qual se fez o hasteamento do pavilhão nacional pelo cacique da tribo; ao mesmo tempo incorporou o parecis Zavadá-issu como guia. Aqueles índios já eram pacificados, sendo que muitos trabalhavam com proprietários de seringais.
       Em 10 de outubro, os sertanistas chegavam as margens do rio Sauêuna, divisa com dos domínios Parecis e Nhambiquaras. Transposto o rio, a mata exigiu mais um sacrifício da Comissão que passaria a andar somente a pé, pois que o cerrado exigia maior número de braços na abertura do pique. Ainda em outubro a Comissão Exploradora chegara ao Jacy e, prosseguindo, varou várias trilhas de índios e, finalmente, no dia 20 chegaram à margem do Juruena.

EXPLORAR É PRECISO, EXPEDIÇÃO DE 1908.

      Entre os dias 20 de julho a 3 de novembro do ano de 1908, a coluna expedicionária de Rondon voltou a percorrer o trecho já conquistado e mais a parte compreendida entre Juruena e Serra do Norte, desta feita com número maior de expedicionários – 127 homens bem armados, 90 bois de carga, 50 burros, 6 cavalos e mais 20 bois para corte. Os principais expedicionários eram, além de Rondon, os segundos-tenentes Nicolau Bueno Horta Barbosa, Emanuel Silvestre Amarante, João Salustiano Lira e tenente médico Manoel de Andrade, tenentes Carlos Carmo de Oliveira Melo e Américo Vespúcio Pinto da Rocha, o farmacêutico Benedito Canavarros, o fotógrafo Luiz Leduc, um inspetor e dois guarda-fios, 30 tropeiros e 82 praças do exército que seriam homens comandados pelo 2° tenente Joaquim Ferreira da Silva que tinham como missão, além do apoio que ofereciam aos demais expedicionários, pacificarem os ferozes Nhambiquaras para a facilitação dos trabalhos de implantação da linha telegráfica. Eles eram, defendiam sua morada, não deram descanso aos expedicionários que se viam também com extravio dos animais, seja por adoecerem ou mesmo fugirem. Alguns “soldados de espírito fraco”[1], como os denominou Rondon, chegaram a desertar, apavorados com o desconhecido.
índios contactados pela Comissão Rondon - 1913
A fome os castigou violentamente, pois largaram os víveres na estrada, pela falta de animais para os conduzirem ou por estragarem. Em outubro, Rondon já se encontrava divisando a Serra do Norte e transpôs o rio que denominou Nhambiquara. Nos dias 10 e 11, os sertanista fez travessia dos igarapés que denominou Veado Branco, Assaí, Jacutinga, Guariboca, Gruta da Pedra, Garnica, Traíra, dentre outros. Dali, a 5 km do rio Nhambiquara, Rondon regressou ao ponto de partida.
Como da vez anterior, o chefe anterior, o chefe da coluna expedicionária mandou colocar em giraus todo o material que servira na abertura da picada, além de ter salgado sete bois que lhes restavam e que ficariam como presente aos índios que pretendiam pacificar.
Aquela expedição sofreu, além dos ataques dos índios que naturalmente defendiam sua morada, também o aparecimento do impaludismo que chegou a vitimar um de seus homens. Sendo assim, Rondon então regressou a Tapirapoã, local de onde partira a coluna, no dia 22 de dezembro de 1908, onde posteriormente o Marechal Rondon dissolveu a Comissão Exploradora.

RONDON EM RONDÔNIA: EXPEDIÇÃO DE 1909.


Membros da Comissão Rondon em Jaru
Em seu caminho pelas florestas inexploradas, tribos hostis foram o menor dos percalços onde hoje são consideradas terras do Estado de Rondônia. Doenças como malária sugaram as forças das tropas que o acompanharam e mataram muitos dos seus homens. O próprio Rondon esteve à beira da morte. A caminhada pela floresta era dura. A fome sempre rondava, já que não havia, inicialmente, postos de reabastecimento. Muitas vezes, os soldados precisavam caçar o alimento do dia. O resultado era uma enorme quantidade de deserções entre os praças designados para trabalhar com o marechal. “ A nossa resistência física se dobrava sob o peso da fome e das privações de toda sorte que nos atormentaram durante a travessia”, declarou Rondon sobre sua segunda expedição ao Rio Madeira.[2]
Ainda assim, o militar e seus mandados foram abrindo caminho por entre árvores e rios, levantando postes e construindo postos de telégrafo em meio à selva em Rondônia. No entanto, como conta Todd Diacon[3], os números mostram que a obra não significou uma revolução em termos de comunicação para a região. Uma das estações, por exemplo, a Presidente Hermes (Situada em Presidente Médice-RO), só mandou 38 telegramas em 1924, e só recebeu 15 ao longo daquele ano.
Estação Telegráfica Álvaro Vilhena - 1911
Quando o último prego da linha telegráfica ligando Cuiabá a Rondônia foi pregado, a tecnologia das transmissões por rádio se estabeleceu e criou-se o telégrafo sem fio. O importante não foi a linha em si, e sim a exploração de uma região inexplorada e o contato cordial com os indígenas. Rondon era um excelente geógrafo e naturalista, trouxe as primeiras informações sobre muitos lugares da Amazônia. Trouxe conhecimento do território, de plantas, animais, além da descrição de tribos e seus costumes. Além disso, foi ele quem convenceu a população brasileira de que valia a pena defender os índios.
Dessa forma, claro que a Terceira Expedição de 1909 foi a mais importante das expedições para Rondônia. Pois a mesma varou todo o sertão do atual Estado em travessia que durou 237 dias de maio até dezembro, numa extensão superior a 800 quilômetros e, duas turmas organizadas por Rondon e denominadas turma Norte e turma Sul, sendo que, enquanto a norte procurava localizar a cabeceira do rio Jacy-Paraná, cabia à turma sul a tarefa de reconhecimento e exploração do terreno compreendido entre Serra do Norte e o Rio Madeira, esta sob a chefia do então tenente-coronel de engenharia Cândido Mariano da Silva Rondon e mais os subalternos zoólogo Alípio de Miranda Ribeiro, 1° tenente médico Dr. Joaquim Augusto Tanajura, 1° Tenente militar João Salustiano Lyra, 1° tenente Engenheiro militar Emanuel Silvestre do Amarante, 1° tenente Alicariense Fernandes da Costa, 2° tenente Antônio Pirineus de Souza, guarda-fio Pedro Creveiro Teixeira, guarda-fio João de Deus e Silva, cacique parecis major Libanio Koluizorocê, guia índio Joaquim Zolámaie, 14 praças do exército e 18 trabalhadores civis.

Membros da Comissão Rondon em Cadeias do Jamari em 1912
Como se tratava de uma das mais ricas arriscadas missões da coluna expedicionária, Rondon preocupou-se tomar algumas decisões, tais como exigir de seus auxiliares, rigoroso exame sanitário visando a sondar o estado físico necessário aos andarilhos que seriam a partir de então. Nos Campos Novos, no local por ele denominado Mata da Canga, os índios fizeram emboscadas que resultaram na morte do soldado Rosendo, nos Campos de Comemoração de Floriano ( em Pimenta Bueno), os expedicionários se detiveram 51 dias, procurando localizar as cabeceiras que davam para os rios Guaporé, Madeira e Tapajós – um platô que foi explorado minuciosamente até o dia 21 de agosto daquele ano. No dia 14 de setembro, a coluna passou por uma aldeia de índios que fora visitada por Rondon.
Abertura de picadão para a denominada estrada Rondon, por onde passavam os fios.
No dia 9 de outubro, no km 354 da exploração, os expedicionários descobriam um rio de 50 metros de largura, a que Rondon deu o nome de Pimenta Bueno. No dia 24 de outubro, a turma teria se dividido conforme orientação de Rondon. O mesmo chefiava uma turma de 28 homens e, em dezembro, viu-se bastante prejudicado com a falta de alimentos, mas no dia 25, a expedição chegava ao ponto desejado, Santo Antônio do Rio Madeira, quando o chefe da turma proferiu o seguinte discurso:
“ Heroicos e dedicados companheiros, não ofenderei a modéstia que orna o vosso diamantino caráter, afirmando-vos que à vossa coragem e patriotismo devemos a conclusão deste reconhecimento de sua organização. Entretanto, aqui nos achamos à margem do rio Madeira, com a marcha de 1.415 km, a contar do porto de Tapirapoã, um levantamento topográfico de 1.211 km, inclusive 200km de variantes diversas e 354 km do curso do rio Jamary, compreendido entre o repartimento e a barra e determinação de 15 posições geográficas dos pontos em que nos foi possível fazer observações astronômicas para tanto”[4]



[1] MAGALHÃES, Amilcar A. Botelho – Pelos Sertões do Brasil. Porto Alegre, Globo – 1930.  pág.244.
[2]VIVEIROS, Esther. Rondon conta sua vida. Biblioteca do Exército.  Rio de Janeiro, 2010.
[3] DIACON, Todd A. Rondon. Companhia das Letras. São Paulo, 2006.
[4] [4] MAGALHÃES, Amilcar A. Botelho – Pelos Sertões do Brasil. Porto Alegre, Globo – 1930.



Aleks Palitot 
Historiador reconhecido pelo MEC pela portaria n° 387/87
Diploma n° 483/2007, Livro 001, Folha 098

segunda-feira, 5 de janeiro de 2015

Rondônia: um mosaico de história e cultura.

Um lugar de riquezas históricas e culturais variadas. Assim é Rondônia, um Estado novo, com fortes traços indígenas e diversas influências culturais que, ao longo do tempo, formou uma cultura única, miscigenada, como em nenhum outro local. Essa expressão cultural do Estado está presente na rica gastronomia, no folclore, na beleza do artesanato e na sua história, que possui capítulos de momentos e ciclos econômicos, que proporcionou ao homem encarar inúmeros desafios em meio à grande Floresta Amazônica; homens que deram o suor, o sangue e a vida por uma grande história.
Aleks Palitot em frente ao Real Forte Príncipe da Beira - 2013 
O desafio dos desbravadores de Rondônia tem sua primeira página escrita na história, no momento da chegada de sertanistas e bandeirantes nessa região, homens como Raposo Tavares e Francisco Palheta, que ousaram encarar as regiões mais inóspitas do Brasil Colônia, para garantir no passado à coroa portuguesa, a posse desse rico território. Durante o período de exploração dos vales do Madeira, Mamoré e Guaporé, vivemos o ciclo do ouro e das drogas dos sertões, o homem busca a riqueza a todo custo, enfrenta índios, o calor, a fome e as doenças. É constantemente energizado com o sonho do Eldorado, com a possibilidade de conseguir riquezas alçando assim, parte de seus objetivos.
Marechal Rondon com sua comissão no Forte
Para garantir a posse de nossa região, a Coroa Portuguesa deu ordens para construir fortificações com o propósito de combater os invasores espanhóis e estabelecer aqui o controle das terras amazônicas. Foi incumbido de tal missão, a figura histórica de Antônio Rolim de Moura que construiu as margens do rio Guaporé o Forte Nossa Senhora da Conceição, garantindo através das armas a resistência contra os invasores espanhóis. Logo depois em que o Forte Conceição posteriormente renomeado Bragança foi destruído por uma grande inundação, Luiz de Mello Pereira e Cárceres inicia em 1776, a construção de uma obra prima em meio a Amazônia, o monumento mais antigo de Rondônia, o Real Forte do Príncipe da Beira, que é considerado um dos maiores fortes da história do Brasil. Apesar de nunca ter dado um tiro com suas cinqüenta e seis canhoneiras, esse grande monumento bélico foi importante para demarcar os territórios guaporeanos pertencentes na atualidade ao nosso Estado de Rondônia.
Aleks Palitot no Rio Machado em Presidente Médice - 2014
Rondônia também viveu os tempos áureos do ciclo da borracha, foi daqui dos Vales do Madeira, Mamoré e Guaporé que saiu o ouro branco, o látex, a tão desejada borracha, destinada aos centros industriais da Europa e dos Estados Unidos. Foi nesse contexto que a nossa miscigenação ganhou força, ganhou detalhes formidáveis, eis que surge na nossa história o migrante nordestino, quem vêm para Rondônia em busca de melhores dias e aqui, se veste de coragem e esperança em dias melhores, longe da seca do nordeste brasileiro. É aqui na Amazônia que os elementos culturais nordestinos vão se misturar aos valores e realidade cabocla e beradeira. É portanto, durante o ciclo da borracha que o homem entende que se faz necessário manter a floresta em pé, ter-la assim é sinônimo de desenvolvimento, lucro e futuro. É do corte da seringueira que se extrair a vida, o dinheiro e o sustento.
Aleks Palitot no topo da Serra dos Pakaas em Guajará- Mirim - 2014
Para o ouro branco, a borracha, chegar mais rápido aos grandes centros, Rondônia, ainda retalhos das Províncias do Amazonas e Mato Grosso, viveu um dos maiores desafios enfrentados pelo homem. O Trem Fantasma, a Ferrovia da Morte, a Estrada de Ferro Madeira Mamoré que se tornou, a mais nova obsessão dos pioneiros de Rondônia. Havia a necessidade de escoar a grande produção da borracha, que encontrava dificuldades entre os trechos de saltos e corredeiras entre os Rios Madeira e Mamoré. Não foi fácil, foram necessárias cinco empresas em quarenta anos para consolidar a travessia daquilo que era o mais moderno do mundo, os trilhos e a sua Maria fumaça. Vidas foram ceifadas, lendas foram construídas e o sonho mais uma vez concretizado. Mas é de lendas e sonhos, que se fortalece o espírito humano e jamais será esquecida a proeza dos que viveram, sofreram e morreram pela Estrada de Ferro Madeira Mamoré. A velha locomotiva permanece viva no ideal de homens e mulheres que erguem a civilização ao longo de seus trilhos. Ela é a alma do povo, que têm o caráter o aço dos trilhos fincados com pregos de ouro e prata, no caminho da esperança e da fraternidade universal.
Aleks Palitot ao lado da Locomotiva da E.F.M.M. no distrito de Abunã - 2013
Rondônia com seu nome homenageia um dos personagens mais nobres de nossa história, o grande sertanista Marechal Cândido Mariano da Silva Rondon, nobre explorador que em 1909 por aqui chegou, e dois anos depois fundou a primeira Estação Telegráfica de Rondônia na localidade de Vilhena. A partir da Estação Álvaro Vilhena, este grande sertanista seguiu por todo o Estado até Porto Velho e depois Guajará-Mirim. Pelo mesmo traçado das Linhas Telegráficas de Rondon jovens aventureiros incentivados pelo Governador do Território Federal de Rondônia Paulo Nunes Leal, iniciaram em 28 de outubro de 1960 a Caravana Ford, que iria encarar o desafio de trafegar pela BR-29 inaugurada pelo presidente do Brasil Juscelino Kubitschek. Assim pelo mesmo lugar anos depois, os pioneiros do Quinto Batalhão de Engenharia e Construção iniciariam o asfaltamento da futura BR- 364.
Localidade do Iata no Rio Mamoré - \Guajará-Mirim - 2012
O Estado de Rondônia sempre foi palco de grandes histórias, de grandes aventuras e odisséias, mas nenhuma história ou momento foi mais especial do que a vinda dos migrantes na década de 70. Durante o Regime Militar foi deflagrado um projeto de ocupação da Amazônia, levar homens sem terras a uma terra sem homens. Nesse período a região é invadida e conquistada por milhares de pessoas de todos os recantos do Brasil, que chegam com seus sonhos e encaram muitos pesadelos. Tudo estava ainda por construir, e é com esses braços fortes e coragem no coração, que os brasileiros fazem Rondônia ser protagonista de um dos maiores surtos migratórios da história do Brasil. Homem importante nesse projeto foi o Coronel Jorge Teixeira, deixou de cuidar da própria saúde para garantir a criação do 23° Estado da Federação. Em 1982 o sonho daqueles que chegaram aqui se consolida, o Estado é criado mas, ainda nos resta a grande motivação de sempre acreditar que é possível melhorar. Hoje Rondônia mais uma vez vive um ciclo épico, e necessário que cada Rondoniense e Rondoniano possa lutar lembrando sempre daqueles que estiveram aqui antes de nós, e desempenharam com heroísmo a construção de nossa história.

Aleksander Palitot
Historiador
Reconhecido pelo MEC