segunda-feira, 20 de janeiro de 2014

Os Segredos de Nasca

 
Geoglifo de Nazca - Desenho do Condor
Eram os Deuses Astronautas?  Esse é um título de um livro escrito em 1968 pelo suíço Erich von Däniken, em que o autor teoriza a possibilidade das antigas civilizações terrestres serem resultados de alienígenas (ou astronautas). Von Däniken apresentou como provas ligações entre as colossais pirâmides egípcias e os incas, as quilométricas linhas de Nasca e os monumentos da Ilha de Páscoa.
Pude ver de perto a monumental região de Nasca, e constatei a beleza sem igual de um deserto exuberante, de uma cultura milenar e de uma intrigante história da Civilização Nazca.
Aleks Palitot no Deserto de Nazca - 2014
O país Peru sempre é lembrado pela famosa cidade sagrada de Machu Picchu. E não poderia ser diferente, Machu Picchu é incrível. Mas, os Andes, são marcados pela presença de muitas outras civilizações, que ao longo do tempo e da história foram conquistadas pelo Império Inca, e sendo incorporadas aos costumes e hábitos dos “Filhos do Sol”. Os Nazcas foram mais uma dessas civilizações dominada pelos Incas e assim, parte da sua cultura foi sendo abandonada.
Mas, como dizia um general romano: “ O que fazemos em vida, ecoa na eternidade”, e assim, as grandes obras e monumentos da civilização Nazca permanece preservada, graças ao empenho desse povo no passado, e atualmente, devido as políticas de preservação do patrimônio histórico pelo governo peruano.
Pirâmide de Cauhachi no Deserto de Nazca - 2014
A eternidade em questão está relacionada a tantos sítios arqueológicos que existem naquele deserto. São mais de 150 geoglifos,  desenhados em um deserto de pedras e areia, que mesmo com as tempestades de areia que a população local denomina “Paracas”, chuva de areia, os desenhos resistem, como tatuagens do tempo, feitos para durar, para reverenciar os deuses. Além dos desenhos em forma de macaco, colibri, condor, baleia e outros mais, existem cerca de mais de 7 mil linhas, que seguem pelo deserto, em um caminho que parece não ter fim.
Aquedutos de Nazca no Peru - 2014
Mas que resposta se teria para esses enormes desenhos que somente são perceptíveis em suas formas, visto de cima? Existem muitas versões, e é isso que alimenta ainda mais o indecifrável enigma de Nazca. A versão mais considerada é a da pesquisadora alemã Maria Raiche, que teve boa parte de sua vida, dedicada aos estudos das linhas de Nazca, e sua conclusão é que o conjunto de desenhos e figuras, trata-se de um enorme calendário astronômico dedicado aos deuses.
Pôr do Sol no Deserto de Nazca Peru - 2014
Além das linhas, Nazca possui outros sítios históricos e arqueológicos importantes, tive o privilégio que conhecê-los, e ficar ainda mais surpreendido com a força e obstinação da Civilização Nazca.
Em Nasca você pode conhecer o Cemitério de Chauchila, e entender através das múmias daquele lugar, um pouco da cultura, vida e cotidiano de um povo. Formas semelhantes dos egípcios no processo de mumificação, a crença na vida após a morte e os túmulos recheados com jóias em prata e ouro, cerâmicas e jarros com pinturas perfeitas, que infelizmente muitas das quais foram roubadas por ladrões de túmulos ou huaqueiros, como são chamados os caçadores de tesouros no Peru.
Múmia do Cemitério de Chauchilla em Nazca Peru - 2014
Em meio a um grande deserto, onde se chove apenas uma vez no ano por alguns minutos, esse povo sobreviveu e deixou um legado. E como sobreviver sem água no deserto? Os Nazcas, fizeram canais subterrâneos de água com conexão a trechos de rios que estavam a 300 quilômetros de distância, ou até mesmo buscavam recursos hídricos nos Andes nevados as 500 quilômetros, e por esses canais e aquedutos como são denominados pelos peruanos, irrigavam suas plantações e tornava possível a vida em meio a um deserto.
O mais impressionante, foi visitar a pirâmide de Cauachi, o maior centro cerimonial da América com 24 quilômetros quadrados de sítio de histórico. Uma grande pirâmide feita de tijolos no meio do deserto, que está sendo recuperada graças ao trabalho de arqueólogos italianos e o empenho do governo peruano. No passado, acredita-se que em Cacuachi, eram realizadas cerimônias de sacrifícios humanos para garantir boas colheitas e vitórias em caso de guerra. A comprovação dessa versão se deu por causa das descobertas com as escavações. Jarros antigos com resíduos de sangue e cabeças encontradas sem o corpo, em recintos restritos aos xamãs, confirmam essa hipótese.
Colinas das Linhas de Nazca - Peru - 2014
Nazca me encantou, pela sua história, mistérios e paisagem. Paisagem formada pela morfologia do espaço, pelas suas características topográficas e geográficas. Uma paisagem formada também por seus sons, suas texturas e cores. Além disso, paisagens que receberam valorações, simbologias, significações na estruturação das relações humanas, carregando conjuntos de mentalidades, mitologias. As paisagens são bens de valor inestimável aos povos por estarem na base de suas vidas.
Nazca é um exemplo de sustentabilidade, de turismo histórico e de preservação patrimonial. Mais do que apenas lembranças do passado, o patrimônio cultural é o elemento central que garante a manutenção das comunidades ao longo do tempo, transmitindo, de geração em geração, os princípios fundamentais de sua cultura. É o que nos ajuda a aprender quem somos, como nos tornamos e para onde vamos.                     
     


Aleks Palitot
Historiador reconhecido pelo MEC pela portaria n° 387/87
Diploma n° 483/2007, Livro 001, Folha 098