domingo, 7 de outubro de 2012

A Ferrovia Esquecida


Ali, nas cachoeiras do rio Madeira, os 366 quilômetros da velha e abandonada ferrovia Madeira Mamoré que rasgam a densa floresta amazônica, constitui hoje, antes de tudo, o testemunho impressionante da capacidade realizadora do homem tentando subjugar as hostis imposições do meio ambiente e escapar ao determinismo geográfico da mais emaranhada rede hidrográfica do planeta.
Quando em 1861 surgiu a idéia de se construir a ferrovia, já uma solução para resolver o problema da navegação do trecho encachoeirado do grande rio vinha sendo tentada por gerações anteriores. Injustiça seria omitir a atuação de nossos antepassados, pois a história, é continuidade; há sempre nas grandes ações humanas, um nexo com o passado, por mais sutil ou despercebido que seja.
Quase um século antes de sua construção, muitas vidas foram sacrificadas nas cachoeiras do Madeira; eram cientistas, engenheiros, comerciantes e exploradores que pagaram um precioso tributo. Mas a natureza jamais vencerá a raça de um povo obstinado sempre em construir, nesta parte da América, uma grande Nação.
Durante 190 anos – 1722 a 1912 - o homem sonhou, lutou, sofreu, desesperou-se e morreu, na ânsia de construir ali uma civilização, escrevendo uma das mais notáveis epopéias de nossa engenharia ao longo de toda a história da ferrovia.
Das idéias originais do projeto, em 1861, à determinação de construir do governo Imperial brasileiro e finalmente, ao encerramento das atividades da primeira empresa empreiteira, que foi a Public Works, não se sabe quantos lá trabalharam; não se sabe sequer quantos desapareceram num empreendimento malogrado; sabe-se que os ingleses viveram um terrível drama, nas selvas amazônicas, dali, batendo retirada e, a considerar-se notícias daquela época, seu pessoal, cruelmente dizimado, às centenas, numa fúnebre trilha de corpos abatidos pelas febres, pelos índios e por enfermidades desconhecidas.
Numa segunda tentativa, agora uma construtora americana, em 1878, P.T. Collins, atirava-se decididamente na imensidão amazônica e, em 1879, apenas um ano passado, retiravam-se arrasados e vencidos os norte-americanos. Uma dezena de quilômetros de trilhos foram abandonados e luxuriante vegetação amazônica se encarregaria de cobrí-los.
Finalmente em 30 de abril de 1912 assentava-se o último dormente no ponto final da estrada de ferro, em Guajará-Mirim. Hoje erradicada por recomendação da Comissão Mista Brasil – Estados Unidos e por sido considerada deficitária, completamente abandonada, com seu patrimônio de 400 milhões de cruzeiros em 1967, ao relento, sendo devorada pela corrosão do tempo, está pouco a pouco sendo destruída e tomada pela própria selva que, por decisões políticas dos homens, mais uma vez vence.
A ferrovia, entretanto, não é somente os seus dormentes podres, seus trilhos gastos e fora de alinhamento, os seus vagões imprestáveis e aos pedaços. A ferrovia é também as cidades, as vilas, os povoados e o homem que, fixou onde tudo era só e unicamente floresta equatorial amazônica.
Um silêncio desolador envolve agora os 366 quilômetros da Estrada de Ferro Madeira-Mamoré. Povo sem tradição é povo sem história.

Aleks Palitot

Historiador reconhecido pelo MEC pela portaria n° 387/87
Diploma n° 483/2007, Livro 001, Folha 098.

terça-feira, 2 de outubro de 2012

Os primeiros Prefeitos de Porto Velho

Autoridades em frente a Prefeitura de Porto Velho
O primeiro prefeito de Porto Velho, Guapindaia Brejense, não era homem dado a assuntos diplomáticos, e tão logo saía-se de um aperto, entrava em outro. A Madeira Mamoré não permitia interferências na região que considerava sua, mesmo que fossem autoridades em busca de contraventores da lei. Guapindaia baixou decretos regulando o código de postura, inclusive proibindo a cobrança de imposto de desembarque, efetuado pela ferrovia. Tudo isso, juntando-se aos casos anteriores de conflitos entre as partes, foi motivo de ásperas trocas de insultos por parte do superintendente municipal e ferroviários. Na época, um italiano teria construído um barracão, todo de zinco, para diversões; o barracão foi interditado pela prefeitura; houve interferência de patrícios, em Manaus, e a questão por haver um acordo, segundo o qual a companhia ficava dona do barracão que, logo após, alugou a um mercadeiro. O superintendente não gostou da idéia e mandou demolir duas casas que ficavam nas proximidades para, no local, construir o mercado municipal, onde hoje se encontra o Mercado Cultural de Porto Velho; e em seguida, mandou fechar o mercado da companhia. Tal medida, naturalmente, chegou a irritar ainda mais os ferroviários.
Mercado Municipal de Porto Velho na avenida Divisória (Pres. Dutra)
Logo depois, a intendência aprovou lei autorizando o superintendente (prefeito) a dar nomes as ruas, sendo chamada de Avenida Divisória a que separava as terras da companhia das terras do município, que é a atual Av. Presidente Dutra, e nela os ferroviários construíram um alambrado separando as terras da Madeira Mamoré. As outras ruas foram denominadas Sete de Setembro, Rio Branco, Floriano Peixoto e Pedro II, embora algumas fossem apenas caminhos tortuosos. Em 1919, Guapindaia tentou eleger-se superintendente de Porto Velho, porém, não era pessoa grata a Madeira Mamoré e, embora fosse apoiado pelo Dr. Joaquim Tanajura, foi derrotado pelo padre Dr. Raimundo Oliveira.
Rua Barão do Rio Branco em Porto Velho
A primeira eleição realização em Porto Velho deu-se em 1916, quando foi eleito superintendente o medico Joaquim Augusto Tanajura, investido nas funções em 1917. Tanajura havia sido anteriormente, superintendente nomeado no município de Santo Antônio do Rio Madeira. Tanajura havia pertencido à comissão da linha telegráfica e, mais tarde inspetor honorário dos índios da região.
Foto Aérea de Porto Velho em 1948
O Governo de Guapindaia o primeiro do Município de Porto Velho, foi de 24 de janeiro de 1915 a 31 de dezembro de 1916, quando foi empossado o Dr. Joaquim Augusto Tanajura, eleito para o triênio de 1917 a 1919.

Aleks Palitot
Historiador reconhecido pelo MEC pela portaria n° 387/87
Diploma n° 483/2007, Livro 001, Folha 098.