quinta-feira, 18 de julho de 2013

Margens de Rondônia

Em Rio Mamoré no Iata Guajará Mirim

Do que falam as margens? O que revelam? Ou ocultam? Fala-se delas ou elas? Dos discursos historiográficos que tratamos pouco importa trocar as margens de lugar. Não se trata de inverter ou eleger centros e periferias da história. A questão estaria menos no local – espaço geográfico – mas, sim, no papel ocupado por algumas narrativas e seus cenários num determinado discurso historiográfico, que nacional, homogêneo e hegemônico.
Rondônia é a cristalizada por culturas que nasceram no berço dos seus rios, e aqui, somos agraciados pelos rios Madeira, Mamoré e Guaporé, e como uma tríade, uma Santíssima Trindade, proporcionaram no passado, o ingresso dos sertanistas, a sobrevivência dos nativos, e no presente a permanência de algumas comunidades caboclas e tradicionais.
Rio Madeira em Porto Velho em frente a Estrada de Ferro
E os rios têm seus senhores e também seus servos. Sociedades indígenas reinventam-se como no Mamoré e Pakaas. Podemos, assim, percorrer os desvãos das corredeiras do Madeira e da vida de índios que por ali ainda existem. Ritos e sons dos rios confundem e são confundidos com as experiências de indígenas e setores envolventes. O Guaporé ganha vida histórica. Como a Amazônia, ele também é inventado como região, espaço geoecológico. Dele expulsa-se a história. Mas a recuperamos nos relatos de conquistas. O silenciado e o enfatizado se invertem. Menos mediação da natureza e, sim, expectativas e percepções. E de carne e osso, sangue e coração. São povos como os quilombolas de Santa Fé e Santo Antônio das Pedras Negras no Guaporé refazendo o contato colonial, suas identidades e, portanto, a si mesmos. O Outro paulatinamente reinventa o Nós. E ambos mudam. Desejos da conquista e colonização são escravos das canoas, e estas dos rios.
Rio Guaporé em Costa Marques Rondônia
Em muitos artigos e manuais – o que se passou chamar de Amazônia foi verdadeiramente expulso. Uma expulsão histórica, uma cada vez historiográfica. Inventada como região – unida e homogeneizada – a Amazônia foi transformada num mundo distante. Da história distante, mas próxima da natureza. Reintegrar estes mundos não é tão-somente um esforço bem intencionado ou politicamente correto de compreender o regional. Significa entender a construção de ima(r)gens naquilo que nomeamos Amazônia, experiências não foram miméticas ou variáveis passivas de mundos dela distantes, mas ligados

Aleks Palitot
Historiador reconhecido pelo MEC pela portaria n° 387/87
Diploma n° 483/2007, Livro 001, Folha 098