quinta-feira, 29 de março de 2012

O índio do Brasil

Roquete Pinto com índios em Rondônia
Na epoca em que os portugueses desembarcaram no Brasil, acreditava-se, na Europa, que tomar banho não era saudável, pois a água estragaria a pele. Imagine, então, o odor que exalava daqueles homens portugueses que desembarcaram em nossas terras, metidos em pesadas roupas que iam até o queixo, sob o sol da Bahia. Sentima-se, porém, culturalmente superiores aos índios, a quem ensinaram a sentir vergonha de sua nudez.
O encanto com o corpo das índias e a surpresa com a falta de vergonha em ficar nu aparecem na carta de Pero Vaz de Caminha ao rei de Portugal: “E uma daquelas moças era toda tingida, de baixo a cima, daquela tintura; e certo era tão bem-feita e tão redonda, e sua vergonha (que ela não tinha) tão graciosa, que a muitas mulheres da nossa terra, vendo-lhe tais feições, fizera vergonha, por não terem a sua como ela”.
O choque cultural dos portugueses não teve, entretranto, nada de gracioso. Espalharam-se doenças que dizimaram tribos. Índios, que viviam em harmonia com a natureza, sem conhecer a fome e as desigualdades, tornaram-se escravos. Começa aqui, exatamente aqui, a história da desigualdade no país, na qual os grupos mais fortes sentiam-se autorizados a usar violência. Dominou-se, inclusive, em nome de Deus: os religiosos acreditavam estar salvando aquelas almas pecadoras convertendo-as ao catolicismo. A glória dos Bandeirantes, apresentados como heróis, estava também assentada na escravidão dos nativos. Tentativas de organizar os indígenas, feitas por jesuítas, foram duramente reprimidas.
O choque cultural, a rigor, segue até hoje. Mesmo com a demarcação de suas terras, as invasões feitas por fazendeiros e garimpeiros continuam acontecendo, muitas delas apoiadas clandestinamente pela polícia ou políticos. Mesmo depois do fim do processo colonial no Brasil, percebemos que alguns conceitos não mudaram em nossa sociedade. O Brasil, de inúmeras etnias ainda leva consigo algo terrível, a idéia de que o índio não têm direito algum.

Aleks Palitot
Historiador

segunda-feira, 26 de março de 2012

Expedição na selva do Rio Guaporé: o grande mistério da cidade perdida do Laberinto


O Rio Guaporé (também chamado de Rio Iténez,1749 de longitude) nasce no Estado brasileiro de Mato Grosso e flui em direção noroeste, desembocando no Rio Mamoré.
Seu curso define os confines entre Bolívia e Brasil, especificamente entre os departamentos bolivianos de Santa Cruz e Beni com os Estados brasileiros de Mato Grosso e Rondonia.
Desde os tempos dos Incas, o Rio Guaporé representa uma linha de fronteira, muito além das terras místicas e pouco conhecidas, como o lendário Paititi.
A continuação, segue um trecho da obra do escritor espanhol Sarmiento de Gamboa Historia dos Incas (1570):
E pelo caminho que agora se conhece como Camata, (Túpac Inca Yupanqui) mandou para outro grande capitão apo Curimache quem foi até onde nasce o Sol e caminhou até o rio que agora novamente se noticia, chamado Paititi, onde estão os Moxos do Inca Topa.
O lendário reino do Paititi se localiza perto de um rio denominado justamente Paititi, e coincidia com as terras dos indígenas Moxos. Segundo Sarmiento de Gamboa, os Incas mantinham boas relações com o reino dos Moxos e com os habitantes do Paititi, porém ergueram duas fortalezas para delimitar a influencia do império incaico, uma das quais foi descoberta em Riberalta, perto da confluência do rio Beni com o rio Madre de Dios, enquanto se ignora sobre possível localização da outra.
Segundo as Crónicas de Lizarazu (1635), os Incas não se limitaram a construir as duas fortalezas, más que isso, se estabeleceram no reino do Paititi, assumindo o seu controle. Registro aqui dois fragmentos da antiga narrativa:
O inca de Cusco enviou seu neto Marco Inca, o segundo a ter esse nome, a conquista dos Chunkos, índios Caribe que vivem na selva do oriente de Cusco, Chuquiago e Cochabanba. E Manco entrou na selva com oito mil índios armados, levando consigo seu filho.
E considerando a dificuldade do terreno, (Manco) povoou a parte contrária da montanha do Paititi, onde, dizem os índios Guaraní (os quais chegaram a conhecer a este poderoso senhor), que naquele monte se existia uma grande quantidade de prata, e que dali se extraíam o metal, depuravam, fundiam e transformavam em prata perfeita.
É realmente possível que Manco (não confundir com Manco Inca) tenha governado o Paititi? Existem, ademais, outros documentos arcaicos que narram sobre a fuga de Guaynaapoc (filho de Manco) até o Paititi, com o objetivo de esconder os símbolos sagrados do Tahuantisuyo em um lugar oculto, seguro e muito distante de Cusco. Aqui deixo o relato de Felipe de Alcaya publicado nas Crónicas de Lizarazu (1635):
Quando finalmente o “rei pequeno”(Guaynaapoc) chegou à cidade de Cusco, encontrou toda a terra conquistada por Gonzalo Pizarro, a seu tio (Huáscar) assassinado pelo rei de Quito (Atahualpa) e ao outro Inca afastado em Vilcabamba (Manco Inca).
E naquela ocasião tão peculiar reuniu todos os índios que estavam do seu lado e os convidou para segui-lo pra a nova terra descoberta por seu pai (Manco), chamada Mococalpa (hoje denominada Moxos) .... Em torno de vinte mil índios seguiram Guaynaapoc ... levaram muitas cabeças de gado e artesanatos de prata e, durante o caminho, outros indígenas das planícies se uniram a multidão, que finalmente chegou ao rio Manatti (1).
E, finalmente, chegaram ao Paititi, onde foi alegremente recebido por seu pai e outros soldados, e sua felicidade se duplicou por encontrar-se em um reino e distante de Cusco, que já estava nas mãos dos invasores.
(1) Río Guaporé - Este lendário lugar, o Paititi, também conhecido como terra mística onde se preservaram as tradições antigas, vem sendo procurados por aproximadamente 500 anos em inúmeras expedições, más ninguém nunca havia encontrado. Se tentou localizá-lo em Peru, Bolívia e também no Brasil, porém ninguém logrou encontrar provas fidedigna sobre a sua verdadeira existência.
Durante minha última viagem a Bolívia e ao Brasil pude levar a cabo algumas expedições para tentar colocar luz sobre o mistério do passado.
Em Bolívia, junto com o piloto investigador Jorge Velarde, tive a oportunidade de realizar uma exploração aérea do parque nacional Noel Kempff mercado, com o desiderato de reconhecer desde o alto indícios importantes destas antigas culturas.
A expedição foi um êxito, pois conseguimos documentar não apenas dezenas de lagos modificados pelo homem e orientados no eixo nordeste sudoeste, como também muitos terraplanes e colinas artificiais.
No Brasil, por outro lado, com outros investigadores do Estado de Rondônia, pude realizar algumas viagens tanto pela bacia do Rio macho, como pela bacia do rio Guaporé.
Nossa expedição na selva do rio Guaporé tinha por meta encontrar eventuais restos das culturas incas o pré-incas que pudessem atribuir à lendária viagem de Marco e a chegada de seu filho Guaynaapoc à terra do Paititi.
Nosso objetivo era uma zoa da selva situada nos arredores do forte Principe da Beira, um importate baluarde erguido pelos portugueses em 1776 para demarcar e cotrolar o território situado a oeste do rio Guaporé, que pertencia a Portugual desde 1750 (tratado de Madrid).
Na vertente ocidental do rio Guaporé, os espanhóis já tinham construído a missão Santa Rosa (1743), a qual, não obstante, foi efémera porque toda a região já se encontrava sob o controle dos portugueses.
Entramos na selva, em um lugar distante uns quatro quilómetros do grandioso forte Príncipe da Beira. Depois de avançar meia hora, nos deparamos com umas ruinas, com muros antigos de uns dois metros de altura. Depois, caminhando em direção sul, descobrimos outro muro, dessa vez, de aproximadamente, 4 metros de altura e 15 de comprimente (longitude).
A construção era rústica, com pedras não muito grandes, ensambladas entre elas de modo imperfeito. Depois de uns 20 metros encontramos outra muralha, más na parte oposta à primeira (para o leste), formando uma espécie de barranco. A vegetação no seu interior era tão densa que resultava efetivamente difícil distinguir muitos detalhes sem aproximar-se das muralhas. Depois, outra vez ao lado direito, notei que a muralha formava um canal para o oeste, mais estreito, contudo, cheio, por completo, de uma vegetação muito densa (de cerrado).
Posteriormente, seguimos avançando com dificuldades até chegar a uma estranha construção de pedra em forma quadrada de uns 5 metros de lado, onde era possível entrar passando por um portal que dava para o norte.
Os lados da construção estão compostos por muros destruídos de uns 50 cm de altura, enquanto o portal era bastante conservado, construído com um arquitrabe (ábaco) de um metro de largura, aproximadamente, o qual sustenta as pedras rústicas colocada sob ele. A fachada possui uns 2.30 metros de altura.
Nosso guia Elvis nos contou que todo o lugar arqueológico é denominado Cidade Laberinto.
Durante toda a jornada continuamos explorando a zona, sempre atentos ao fato de que o rio Guaporé está muito distante da Cidade Laberinto, mais de um quilómetro. Ademais, exploramos a parte alta dos montes delimitados por altas muralhas rústicas, encontrando quartos irregulares de aproximadamente dois metros de largura, delimitadas por pedras que não encaixam perfeitamente.
Na manhã seguinte exploramos, ademais, uma zona situada a leste do portal, distante uns 700 metros, e também naquele lugar descobrimos vários recintos ou bases de velhos cimentos, mas não nas altas muralhas do Labirinto.
Dali voltamos ao Laberinto, concentrando-nos não apenas no interessante portal, onde se percebe os sedimentos localizados no solo, que possuem uns 50 centímetros de espessura, mas também, sobretudo, nas muralhas e nas bases de antigos cimentos que existem nos espaços encima deles.
Uma vez concluída a exploração, passamos alguns dias no povoado costeiro da Costa Marques, durante os quais surgiu o debate entre a gente sobre a verdadeira origem do Labirinto.
O fato de que o forte português Príncipe da Beira esteja a apenas 4 quilômetros de distancia podia fazer pensar que o Labirinto fora utilizado como obra de onde os portugueses de 1776 retiravam e trabalhavam as pedras par depois transportá-las até o forte em embarcações pela corrente do rio Guaporé.
Segundo algumas investigações de Rolim de Moura, ademais, o portal foi construído para conservar as munições dos portugueses em um lugar seguro e longe do forte. Estes investigadores, entretanto, não explicam por que foram erguidos muros de até 5 metros de altura com técnicas rústicas e, sobretudo, por que existe cimentos de casas nos espaços encima dessas construções.
De outra parte, não esclarece por que os portugueses, que raciocinavam com a lógica ocidental, construíram um portal que dava para o norte em pleno coração da selva justo em um ponto onde viveram povos indígenas no passado.
Na minha opinião, a Cidade Laberinto é muito interessante histórica e arqueologicamente falando, e apesar que não se pode dá um juízo definitivo, pois até agora não se efetuou as escavações apropriadas, é possível fomentar algumas hipóteses.
Me parece que as altas muralhas (pelo menos 4, más podia haver outras) não podiam ter sido construídas pelos europeus do século XVIII porque são rústicos e imperfeitos. Sua função para ser a de delimitar zonas elevadas, montículos, encima dos quais que restos de cimentos de casas que, por sua forma e estrutura, não podiam ter sido construídas nem por espanhóis nem por portugueses.
Existe também poucas probabilidades de que as muralhas tenham sido edificadas por indígenas da selva baixa amazónicas, os quais, historicamente, não tinham a habilidade de edificar estruturas em pedra.
Portanto, a Cidade Labirinto podia ter sido construído por povos indígenas andinos andinos por enquanto desconhecidos ou talvez descendentes da família real incaica que se esconderam na parte ocidental do rio Guaporé, como se extrai da crónica de Felipe de Alcaya.
No tocante ao portal, as opiniões também são antagônicas.
Ainda que Laberinto tenha sido utilizada como depósito de onde os portugueses extraíam as pedras, que necessidade havia de edificar apenas um portal voltado para o norte? Certamente, não com propósito residenciais. Com efeito, se fosse assim, teriam erguido outros. Para esconder munições? É uma possibilidade, porém até agora não está comprovada.
Meu veredicto final é que toda a área estava povoada por indígenas da selva baixa amazónica. Existe uma forte possibilidade de que Laberinto tenha sido modificada por descendentes dos Incas e utilizada como centro de cerimonias durante uns 200 anos (de 1540 a 1740 d.C), tendo em conta que, com a chegada dos europeus à região, é possível que a tenham abandonado e depois fora utilizada por portugueses para extrair pedras preciosas destinadas a construção do forte Príncipe da Beira.
Na área foram encontrados numerosos machados de origem inca e abundante cerâmica de diferentes estilos. Alguns fragmentos foram refinados e desenhados magistralmente, enquanto que outros são rústicos e talvez serviram somente como recipientes.
Caso se comprove a origem inca das muralhas de Laberinto, se pode pensar que funcionou como um centro cerimonial onde os descendentes de Huáscar conservaram vivas as antigas tradições. Talvez tenha sido utilizada para se reorganizar com o desiderato de fundar uma cidade propriamente dita, o famoso Paititi, mais ao interior, relativamente afastado do rio Guaporé. Talvez dentro do Parque Nacional Pacaas Novos, onde surge a Tracoá (pico Jarú), a montanha mais alta de Rondônia?

Autor:
YURI LEVERATTO
Copyright 2011
Artigo traduzido por Thay Ricarte


E' possível reproduzir este artigo indicando claramente o nome do autor e link para a fonte www.yurileveratto.com

Rio Madeira é o seu nome

Gravação do Trilhando a História no Rio Madeira
O Rio Madeira era denominado pela nações nativas com o topônimo de Caiari. Este vocábulo em hebraico é composto das partículas “Ca” que significa coragem, resolução, “Ian” que significa rio. Sendo o significado de seu nome, “rio da resolução”. Caiari ou Cuari, vocábulo na língua quéchua derivado do verbo cuyari, que significa amor. Sendo o significado do seu nome, “rio Ame-me”. Caiari no idioma aruaca, compõe-se das partículas “Cai” que significa cedro e “Ari” que significa rio. Os nativos habitantes do vale do Rio Madeira, do seu médio curso, o denominavam Iruri, que significa rio que treme. O bandeirantes que subiam o rio em pequenos batelões, navegavam bem próximo as margens do Madeira e eram alvos constantes de flechas de índios da região, levando a muitos sertanistas a chamar o nosso Madeira de Rio das Flechas.
Francisco Orellana em 1524, o denominou Rio Grande. Os jesuítas e aventureiros lusos, o denominavam Rio das Madeiras ou simplesmente Madeira.
Pedro Teixeira em 1637, o registrou em seu diário de viagem com o nome rio Madeira.
Aleks Palitot nos bancos de areia no meio do Rio Madeira
A Bacia do Rio Madeira é a mais importante do Estado, formada pelo rio Madeira e seus noventa afluentes, estende-se além, muito além de seus limites, em terras dos Estados do Amazonas, Acre, Mato Grosso e República da Bolívia, ocupando uma área de 1.244.500 Km². O Rio Madeira é formado pela junção dos Rios Beni (1.125 km) e Mamoré (1.100 km), ambos oriundos da cordilheira dos Andes, Cochabamba (Bolívia). É o mais importante afluente da margem direita do Rio Amazonas, tem um curso de 3.240 Km, percorre o Estado de Rondônia no sentido sudoeste – norte e trecho do Estado do Amazonas, desaguando a oeste da ilha de Tupinambarana, no Rio Amazonas.
O Rio Madeira conforme as características de seu curso,é um rio novo, ainda em formação, classificado como misto, isto é, rio de planalto e planície. Denominado também de rio de águas claras ou barrentas.
Sua largura varia de 440 a 9.900 metros(na foz) e profundidade chega a mais de 13 metros, permitindo a navegação de navios de grande calado. Nesse período suas águas inundam as florestas adjacentes alagando dezenas de quilômetros de ambas margens.
O regime do Rio Madeira está condicionado as chuvas de verão (dezembro/março) precipitadas nas cabeceiras de seus formadores, os rios Beni e Mamoré, bem como seus tributários. O período de enchente do Rio Madeira, ocorre nos meses de novembro a abril, quando débito atinge a descarga de 40.000 m³ de águas por segundo.

domingo, 25 de março de 2012

A Igreja de São Francisco em Lima

O Convento e a Igreja de São Francisco em Lima - Peru
Mais uma vez o Trilhando a História vai levar a todos a incrível história da capital do Peru, a cidade de Lima. Dessa vez vamos conhecer a história da Igreja Histórica de São Francisco e um museu subterrâneo particular do historiador Oscar Ferreyra Hare. A Igreja de São Francisco é parte do complexo formado pelo Convento de São Francisco e a Capela dos Milagres. A Igreja foi fundada em 1546 e sofreu várias modificações, sendo a última em 1729.
Ela se destaca por possuir no seu subterrâneo criptas e catacumbas, onde foram sepultados pessoas da nobreza e da aristocracia de Lima, assim como os bem feitores da Ordem Franciscana. Sua antiga biblioteca, sala de coro, sacristia e pátio principal adornado com azulejos sevilhanos e telas em óleo que recriam a vida de São Francisco de Assis, são alguns dos tesouros que abrigam esse centro religioso.

Aleks Palitot e o historiador Oscar Ferreyra
O museu particular do historiador Oscar Ferreyra Hare é sem sombra de dúvidas espetacular. Nesse museu que sem encontra embaixo da casa do historiador, existem peças raríssimas como, por exemplo, estatuetas do Egito Antigo de mil anos antes de Cristo. Além de vasos, taças antigas, estatuetas romanas e egípcias e espadas, é possível viajar através do museu a tempos remotos, e tentar refletir sobre o passado e seus personagens. Existem mais de duzentas espadas antigas, armas, carabinas, mosquetes e revolveres que contam a história sobre o passado do Peru, a Guerra do Pacífico e outros momentos como a conquista do Império Inca pelos espanhóis.
Nessa semana todos poderão conhecer um pouco mais da história de Lima através das imagens do Trilhando a História, que têm a importante missão de levar para casa de todos um pouco de história e cultura da América Latina.

Aleks Palitot
Professor e Historiador

O Trilhando a História vai ao ar todas as terças no canal 17 na Rede TV Rondônia no programa Fala Rondônia ao meio dia em rede estadual e em horários alternativos nos canais 20 e 25.
Os programas ficam a disposição no site www.amazoniavideo.com            

sexta-feira, 23 de março de 2012

Estratégias Econômicas para Ocupação da Amazônia no século XVII

Estátua do Bandeirante Raposo Tavares no Museu Paulista
Antes do surto provocado pela economia da borracha, a Amazônia já havia passado por duas fases econômicas. A primeira, desde o início da colonização, em 1616, até o início da segunda metade do século XVIII, em 1750, caracterizou-se pelo extrativismo baseado na coleta de drogas do sertão (salsa, cacau, pimenta, castanha, cravo, canela, guaraná e urucum), intensificada pela Coroa Portuguesa frente às desvantagens de obtenção das especiarias do Oriente. Durante esse período, o sistema e capitães de aldeia e o regimento das missões administraram, respectivamante, o controle da mão-de-obra indígena.
A segunda fase teve início em 1750 até meados de 1830, e foi marcada, sobretudo, pelo incentivo à agricultura. Nesse período, chamado por alguns de “fase do ciclo agrícola”, o colono ao mesmo tempo em que realizava a coleta das drogas do sertão era incentivado a plantar espécies nativas ou não. Ainda assim, mesmo com a prosperidade agrícola desse período, a produção extrativa excedia o volume de produção cultivada. Nessa fase predominou o controle direto da Coroa portuguesa sobre a região por meio do Diretório dos Índios, durante a época pombalina e, posteriormente, do Corpo de Trabalhadores. Merece destaque, ainda, a instalação das fazendas nacionais no Vale do Rio Branco no final do século XVIII, por Manuel Gama Lobo D’Almada, como uma estratégia para ocupação efetiva da região.



Aleks Palitot

Professor e Historiador

domingo, 18 de março de 2012

Trilhando a História em Lima


Pirâmide de Huallamarca em Lima no Peru
A história da cidade de Lima inicia-se com sua fundação espanhola em 1535. O território formado pelos vales dos rios Rímac, Chillón e Lurín estava ocupado por assentamentos pré-incas. A cultura Maranga e a cultura Lima foram as que se estabeleceram e forjaram uma identidade nestes territórios. Durante essas épocas se construíram os santuários de Lati (atual Puruchuco) e Pachacámac. Estas culturas foram conquistadas pela Império Wari durante o apogeu de sua expansão imperial. Foi durante esta época que construiu-se o centro cerimonial de Cajamarquilla. Junto à declinação da importância Wari, as culturas locais voltaram a adquirir autonomia, destacando a cultura Chancay. Posteriormente, no século XV, estes territórios foram incorporados no Império Inca.
Desta época podemos encontrar grande variedade de huacas ao largo de toda a cidade, algumas das quais se encontram em investigação. As mais importantes ou conhecidas são as de Huallamarca, Pucllana, Mateo Salado e Pachacamac.

A Pirâmide de Huallamarca

No centro do moderno bairro de San Isidro está localizado o pequeno e importante complexo arqueológico. Tudo indica que o lugar foi um centro cerimonial da época pré-inca, usado somente por uma elite sacerdotal.
Conhecida também como Pan de Azúcar, a pirâmide de tijolos feitos a mão (Adobe) conta com uma impressionante rampa de acesso muito bem preservada que permite ao visitante chagar até seu topo.
As tumbas da Huaca Huallamarca compreendem um período que se estende do século 3 ao 15, revelando como os costumes funerários foram se transformando ao longo do tempo. Antes da chegada dos espanhóis estes templos já se encontravam abandonados, sendo utilizados como cemitérios para as culturas que sobrepujaram a cultura limenha. Boa parte do que hoje são as pirâmides símbolos de lima estavam cobertas por toneladas de areis que são carregadas pelos ventos do pacifico que sopram em direção as províncias.
Supostamente outras pirâmides podem ter existido ao longo território do que hoje é a cidade de Lima, mas como o avanço do processo de urbanização, muitas Huacas se perderam ou foram destruídas. A Huaca Huallamarca é um exemplo de sobrevivência diante do mundo moderno que a cerca.

Aleks Palitot
Professor e Historiador

domingo, 11 de março de 2012

LIMA, A cidade Colonial

Aleks Palitot na gravações em Lima na Praça Maior - Peru
O Trilhando a História dessa semana vai levar a todos,  a um passeio inesquecível na grande capital do Peru, a cidade de Lima. Nessa nova etapa do Trilhando a História , foram gravados nove programas em Lima e Cusco no Peru; e em La Paz, Deserto de Salar e Copacabana na Bolívia.
Mas nessa terça-feira na Rede TV Rondônia,todos serão levados a viajar pela grande Lima conhecendo assim seu valor histórico e cultural. Batizada como a cidade dos reis, Lima foi fundada pelo conquistador espanhol Francisco Pizarro no dia 18 de janeiro de 1535, sobre o antigo centro administrativo dominado pelos Incas e liderado pelo curaca(prefeito) Taulichusco.
Sua herança indígena pertencia no passado aos vocabolos Límac o Rímac, que significa “aquele que fala”, de origem aiamara e quéchua respectivamente. Erguida na costa central do Peru, a zona foi escolhida por Pizarro que levou em conta o clima temperado e sua posição estratégica com relação ao porto de Callao. Durante o período colonial na América, foi o centro do poder real espanhol na América do Sul.

Praça Maior

É o principal espaço público urbano de Lima e também o mais antigo, já que foi construído sobre um antigo sítio histórico pré-hispânicos. Em 18 de janeiro de 1535, em um acampamento militar, Francisco Pizarro proclamou a fundação da cidade dos Reis. Do século XVI ao XVIII, a praça simbolizou o centro do poder político, municipal e religioso nesta parte do Hemisfério Sul, e durante a República manteve esse papel centralizador

Catedral de Lima

Logo após a fundação da cidade de Lima, o passo seguinte foi a construção da futura Catedral. Foi escolhido o local de um antigo tempo pré-inca do Puma para ergue-la, demonstrando o triunfo da Igreja sobre as antigas religiões do lugar. A catedral original inaugurada em 1540 era muito modesta, porém durante o bispado de Jerônimo de Loayza foi modificado o projeto original dando maior imponência e magnitude a edificação.
O Trilhando a História vai ao ar todas as terças no canal 17 na Rede TV Rondônia no programa Fala Rondônia ao meio dia em rede estadual e em horários alternativos nos canais 20 e 25.

quinta-feira, 8 de março de 2012

SOBRE O DESCASO PARA COM O PATRIMÔNIO HISTÓRICO, CULTURAL E ARQUEOLÓGICO EM RONDÔNIA E EM PORTO VELHO.

Tenho resistido muito a começar a escrever mais solidamente sobre o tema do descaso e falta de cuidados com o nosso patrim...ônio histórico, cultural e arqueológico em Rondônia em geral e em Porto Velho, cidade onde resido, em específico. Assumo o erro. Mas antes tarde do que nunca, após o penitenciamento é hora de arregaçar a manga e partir para o trabalho.
Nesses tempos de tantas transformações em nosso estado de RO e em sua capital, Porto Velho, fico estarrecido diante da enormidade do descaso para com o patrimônio histórico, cultural e arqueológico que possuímos e que está sendo sistematicamente destruído sob o olhar indiferente ou mesmo conivente dos poderes estabelecidos para preservá-los e protegê-los. Pior, a sociedade pouco tem se manifestado. Assistimos há poucos dias a destruição do antigo Marco divisório dos estados do Mato Grosso e Amazonas, situado logo abaixo da cachoeira de Santo Antônio, levado pelo banzeiro provocado pela abertura de uma das turbinas da Hidrelétrica. Alardearam que o mesmo foi resgatado. Sim, aos pedaços, destruído. Será que irão RESTAURÁ-LO ou apenas o maquiarão e farão remendos para o recolocar no lugar? Ou quem sabe, nem isso, uma vez que as vozes sociais pouco têm clamado nesse sentido. Vimos nesses dias que a ponte da EFMM que corta o rio Jacy está submersa e que os autoridades das UHEs do rio Madeira informaram que a mesma ponte ficará, doravante submersa, em média por 3 meses por ano, tendo uma autoridade patrimonial informado que tal situação não implicará em danos à ponte que é de ferro.
Agora temos a notícia de que as águas do reservatório de Santo Antônio estão chegando à igreja do mesmo Santo, fato inusitado em qualquer outro momento das histórias das enchentes do rio. O que estará acontecendo? Porque nada foi feito de forma preventiva?
Ouvi relatos sobre a transformação de antigos paredões de pedra do Jirau, cobertos de petroglifos, pinturas rupestres e outras manifestações artísticas e culturais de sociedades indígenas ancestrais sendo transformados em brita para o avanço das barragens daquela UHE. Custei a achar que tal fato poderia ser sequer pensado. Hoje penso de outra forma.
Ainda vale a pena retornar ao tema do “CASARÃO DOS INGLESES” ou Casarão de Santo Antônio, que se encontra ameaçado e que o MPF me interpelou para saber de sua importância histórica, uma vez que, segundo o próprio MPF, o IPHAN declarou que o mesmo edifício não teria relevância histórica alguma. Aí a questão? O que é ter importância histórica? O sítio da antiga cidade de Santo Antônio é protegido e tombado pela Constituição do Estado de Rondônia e o casarão se encontra nele. Por lei, mesmo que o edifício não seja tombado, a paisagem local não pode ser alterada. Mais, será que a última construção civil daquela que foi a primeira cidade do Território federal do Guaporé não tem relevância histórica? Será que as memórias de tantos fatos sociais, culturais, políticos e históricos ali passados não asseguram sua relevância? Com a palavra o IPHAN.........
A pergunta é: com base em que este órgão e seu superintendente afirmaram isso? A ferrugem deixará de corroer as estruturas? O leito do rio onde a ponte está assentada não irá desbarrancar? O assoreamento não comprometerá suas estruturas?Porque então a ponte da rodovia foi reforçada para suportar as enchentes? Por outro lado as fotos sobre os desmoronamentos dos barrancos nas áreas dos mirantes deixam claro que o flagelo provocado pelos banzeiros vai destruir patrimônios naturais da comunidade de Porto Velho. Enfim, tive ontem a triste notícia de que um funcionário do Arquivo Histórico do Centro de Documentação da SECEL/RO, estava recortando jornais de uma coleção que deveria estar protegida, guardada e preservada. Alegando estar preservando notícias sobre o bairro do Roque, esse mesmo funcionário, a mando de seu superior destruía parte da memória impressa de nosso passado como sociedade. Descaso? Incompetência dos dirigentes do órgão? Negligência ou má fé e crime contra o patrimônio? Acho que temos aí um pouco de tudo.
E por aí vai. Hoje temos funcionando um Curso de Arqueologia na UNIR, formamos uma turma de especialistas em Arqueologia na FSL e a prefeitura consegue obter todas as licenças para obras no igarapé Santa Bárbara, berço da cidade de Porto Velho, sem realizar um único e mero diagnóstico arqueológico da área de enorme relevância para a memória da capital. E o que pensar de todas as outras obras, loteamentos, estradas, portos, pontes, etc. A lei é clara. O laudo arqueológico é tão importante como os laudos ambientais. Onde ficam as autoridades responsáveis pelo assunto? O que elas têm a dizer sobre isso tudo?
Pensando nisso e em muitas outras coisas os Departamentos de História e Arqueologia da UNIR fizeram hoje uma reunião em comum. O tema não poderia ser outro. Pauta única, o patrimônio histórico, cultural e arqueológico de Porto Velho e de Rondônia e os estado de descaso e abandono por que este mesmo patrimônio tem passado. A situação de total descaso e abandono em que se encontram nossas edificações, patrimônios naturais e tantos outros.
Assim, o grupo presente propôs a criação de uma força de trabalho, um grupo de estudos e pesquisas sobre a questão e a abertura de canais de diálogos com a sociedade que tem assistido a tudo, escandalizada, mas que, desagregada, pouco pode fazer. Estamos, então, criando o GRUPO DE ESTUDOS E PESQUISAS INTERDISCIPLINARES SOBRE O PATRIMÔNIO HISTÓRICO, CULTURAL E ARQUEOLÓGICO DE RONDÔNIA.
Este Grupo deverá propor ações sociais, via mídia eletrônica, redes sociais, imprensa em geral na tentativa de estabelecer o debate, a vigilância e a preservação de nossos bens patrimoniais. Queremos poder aplaudir nossas autoridades, empreendedores e outros pelo bem que possam vir a fazer ao nosso patrimônio, à nossa memória social comum e na preservação de nossa identidade como povo. Enquanto isso não for possível, como no atual momento, iremos trabalhar para esclarecer a sociedade, reuni-la em torno de causas comuns e lançar o debate e a luta civil organizada, legal e legítima em defesa de nosso acervo patrimonial.
Estamos trabalhando para o lançamento de um BLOG sobre o tema do Patrimônio Histórico, Cultural e Arqueológico. Da mesma forma os Departamentos de História e Arqueologia irão criar uma página no site da UNIR para tratar oficialmente do tema. Dessa forma a Academia irá tomar posição, oferecer seu parecer embasado no conhecimento cientifico e acadêmico e assim, estimular a sociedade nessa caminhada rumo ao respeito aos bens patrimoniais e á preservação de nossa memória coletiva como um povo, um estado e um município.
Não suportamos mais ver nossa memória e bens patrimoniais tratados com tamanho descaso e descuido. A hora é agora devemos, todos nós, somar esforços para preservar o que restou de nosso patrimônio. Junte-se a nós você também. Todo apoio, contribuição e iniciativa nesse sentido será bem vinda.
Autor: Marcos Domingues Teixeira
Doutor em História
UNIR

domingo, 4 de março de 2012

A Erradicação da Estrada de Ferro Madeira-Mamoré

Locomotiva da E.F.M.M na localidade de Abunã
No dia 10 de julho de 1972, Porto Velho estremeceu e chorou, quando ecoaram pela última vez nos quatro cantos da cidade, os apitos das locomotivas: era o adeus, face à paralisação definitiva da Estrada de Ferro Madeira-Mamoré. Nas altas esferas burocráticas ninguém imaginaria que aquele traçado ferroviário se transformaria em um mito indelével para muitos, e para alguns outros, se substituiria numa nova pátria, afirmou mais tarde o professor Vitor Hugo. Na ocasião da desativação definitiva, um pioneiro da região e antigo funcionário da ferrovia, Vivaldo Teixeira Mendes, proferiu discurso emocionado, numa manifestação de quanto significou para os pioneiros que construíram Rondônia.
“ Estrada de Ferro Madeira-Mamoré! Tu que foste a estrada dos trilhos de ouro, tu que foste a espinha dorsal do Território, tu que foste a estrada da esperança, tu que foste a ferrovia do diabo, tu que transformaste Porto Velho na promissora cidade de Porto Velho, tu que foste pioneira da civilização e do progresso desta região...Hoje termina tua jornada. Quando o monstro de ferro não mais romper a mata com seu estridente apito, quando as criancinhas não virem passar a Maria-Fumaça, não tendo mais na sua inocência a quem acenar, quando tuas locomotivas e teus vagões, que carregavam tantas riquezas, descansarem na sucata, à margem da linha, apresenta-te, querida Estrada de Ferro, ante o altar da Pátria, altaneira e varonil, bate continência ao gigante pela própria natureza e dizer-lhe: Pronto, Brasil, missão cumprida! Minha querida Madeira-Mamoré...deixas a vida para entrar na história. Por poucos serás esquecida, por muitos serás lembrada e por todos serás venerada...”
Em 25 de maio de 1966, a Estrada de Ferro Madeira-Mamoré iniciou sua erradicação pelo decreto n° 58.501. No dia 22 de agosto do mesmo ano o Ministério da Viação e Obras Públicas assinou convênio com o Ministério da Guerra, atual Ministério do Exército, no qual passava o acervo da E.F.M.M. para a administração do 5° Batalhão de Engenharia e Construção, sendo que a transferência do atual Ministério dos Transportes para o 5° BEC deu-se em setembro do mesmo ano. Entretanto, aquela unidade militar teria verificado a inviabilidade da paralisação imediata da ferrovia, por ser ela o único meio de transporte de Porto Velho e Guajará-Mirim, mesmo porque ela se constituiria no principal ponto de apoio na construção da rodovia que viria substituí-la. Somente em setembro de 1968, com a abertura da estrada rodoviária é que teria começado a agravar-se o problema financeiro da ferrovia que, segundo seus dirigentes, quase entra em colapso; mesmo assim o 5° BEC a manteve precariamente até maio de 1972, quando o general Queiroz, comandante do 2° Grupamento de Engenharia autorizou a imediata paralisação do tráfego, sendo marcado o dia 10 de julho do mesmo ano para o apito final, na presença de autoridades constituídas e do povo em geral.

Aleks Palitot
Professor e Historiador