sábado, 26 de setembro de 2015

A DECADÊNCIA DO CICLO DA BORRACHA


Em 1876, quando o ciclo da borracha ainda iniciava sua fase de progressiva expansão, uma medida decisiva, que no futuro próximo aniquilaria a economia do Estado, tinha sido levada a cabo: o contrabando de sementes de seringueira para a Inglaterra e, daí, para suas colônias na Ásia, onde seriam cultivadas.
Tal empresa foi concebida e realizada pelo botânico inglês, Sir Henry Wickhman, que embarcou clandestinamente cerca de 70 mil sementes para a Inglaterra, onde foram cutivadas experimentalmente em estufa. Dentre essas, vingaram 7.000 mudas, as quais foram transportadas para o Ceilão e, posteriormente, para a Malásia, Samatra, Bornéu e outras colônias britânicas e holandesas, nas quais se desenvolveram, passando a produzir uma seringa de maior qualidade e menor custo, o que provocou a queda dos preços da borracha e fez com que o quase monopólio da borracha pelo Brasil desmoronasse.


Em 1900, as colônias britânicas da Ásia disputaram o mercado com uma modesta oferta: apenas 4 toneladas. Porém suas exportações cresceram abruptamente e, em 1913, a produção brasileira. Já em 1913 o Brasil exportava 39 mil toneladas, enquanto a Ásia o superava com 47 mil toneladas.
A partir de então, a produção da seringa brasileira passou a despencar vertiginosamente, sobretudo face à queda dos preços da borracha no mercado internacional, que inviabilizava cada vez mais a atividade extrativa na região amazônica em função do seu custo. Porém, na Ásia uma borracha de boa qualidade era produzida em grandes quantidades a um custo bem mais baixo, o que levou o capital estrangeiro, ligado ao comércio e à distribuição do produto brasileiro no exterior, a abandonar o vale do Amazonas, visando seguros lucros no Oriente.


Com o declínio da economia gomífera que, por um lado, reduziu a pressão sobre as florestas e, por outro, isolou a região do contexto nacional e do capitalismo internacional, retornando à economia de subsistência, os produtos complementares à borracha passaram a se constituir na base da economia regional, entre os anos de 1920-40.

  
BORRACHA , O SEGUNDO SURTO



Eclode a Segunda Guerra Mundial (1939 - 1945). Os Estados Unidos entram no grande conflito, e o Japão bloqueia o Oriente, controlando as exportações dos países exportadores de borracha. Isso força os Aliados a se voltarem para a Amazônia. Assim, em 1942, é assinado o chamado Acordo de Washington, proposto pelos E.U.A. ao Brasil, visando empreender uma atuação conjunta que viabilizasse o crescimento rápido da produção da goma nativa.
Para tanto, estabeleceu-se que a agência norte-americana Rubbes Development Corporatin viabilizaria a criação do Banco de Crédito da Borracha, o qual deveria realizar com exclusividade o financiamento, a compra e a venda da borracha. Os Estados Unidos deveriam também participar do Serviço Especial de Saúde Pública e dos melhoramentos dos meios de transporte. Em troca, o Brasil fixaria um preço-teto pelo quilo da borracha que corresponderia a 25% do preço cobrado pela Bolívia e asseguraria a mão-de-obra necessária à atividade.
Estima-se que, entre 1942 – 1945, cerca de 100 mil nordestinos tenham chegado à Amazônia, os chamados “soldados da borracha”, para trabalhar nos seringais da região.


A missão desse contingente recrutado por Vargas não era segredo para ninguém: salvar os aliados da derrota para os países do Eixo. A propaganda oficial era um chamado. A vitória dependia da reserva de látex brasileira e da força de voluntários, chamados pela imprensa e pelo governo de “soldados da borracha”. Os nordestinos arregimentados não tinham a menor idéia do que era o trabalho nos seringais. Geralmente adoeciam e morriam facilmente. A partir de 1943 foi executado o movimento da segunda grande leva migratória pelo Serviço Especial de Mobilização de Trabalhadores para a Amazônia (SEMTA). Diferente da primeira, que teve como principal motivação o flagelo da seca nordestina, esta teve como móvel as passagens de graça para os navios do Lloyd Brasileiro.  A maioria dessas pessoas nunca mais voltou para casa. Em 2003, foi instaurada uma CPI na Câmara dos deputados para apurar a situação dos trabalhadores  enviados à Amazônia, entre 1942 e 1945. Muitos sobreviventes, hoje com mais de 70 anos, ainda vivem no Acre e Rondônia, duas regiões que receberam a maior parte dos soldados alistados. 

Contudo, tal como surgiu, o segundo surto da borracha também acabou, ou seja, rapidamente. Finalizada a guerra, o interesse americano e mundial pela borracha da Amazônia não tinha mais sentido. A região retornou ao isolamento e à economia de subsistência. A pobreza se acentuou e o governo federal interveio na região com outra política, tal como veremos a frente.

Aleks Palitot
Professor e Historiador

Nenhum comentário:

Postar um comentário