quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Artigo da Semana

Faces da História 

O Império do Medo


Seis militares americanos, bastante cansados, estendem os braços e desfraldam o pavilhão da Old Glory (bandeira americana)  numa ilha do Pacífico chamada Iwo Jima no território japonês na Segunda Guerra. Uma menina, com a fisionomia contorcida pelo terror, foge da explosão de napalm (bomba) num arrozal vietnamita. Um grupo de iraquianos arrasta pelo solo do deserto o corpo de um americano, com marcas de maus-tratos e despido do seu uniforme. Uma simples imagem eloquente basta para contar, num instante, toda a história épica da guerra. A Geração Heróica da II Guerra Mundial. O atoleiro do Vietnã. O fiasco do Iraque. Mas, no que concerne à arrogante futilidade da guerra preventiva, e às desventuras inconsistentes e fantásticas do ex presidente Bush no Afeganistão e no Iraque, é simples contar a estória assim, de maneira simplista e negando os detalhes, tudo é a ponta de um iceberg, o detalhe maior do bloco de gelo se encontra em baixo dágua. Ou seja, uma foto só não basta.

Já faz mais de 7 anos que o Iraque foi invadido, e a aventura da guerra preventiva vem durando há mais tempo ainda, mas tudo indica que a estratégia do ex presidente Bush falhou. Não haverá uma transição fácil para a democracia em Bagdá, com as nações vizinhas ao Iraque caindo como peças de dominó numa fileira democrática; não haverá uma permanente pacificação do Afeganistão, mesmo que Osama Bin Laden seja capturado; não haverá uma solução militar nos moldes da Pax Americana para a desordem e a tirania no mundo não-democrático; não haverá uma satisfatória recompensa para a boa vontade americana, nenhuma homenagem aos americanos que se descrevem como libertadores; e não haverá vitória decisiva na guerra contra aquilo que eles chamam de terrorismo, ou na batalha para garantir uma segurança nacional estável. O Império do Medo, embora tenha sido promovido sob a égide da liberdade, não reinará em nome da liberdade.
Os Estados Unidos, como qualquer outra nação, vão ser julgados e deveriam julgar a si mesmos pelo que fazem, e não pelo que dizem, pois, a guerra preventiva previne não o terrorismo, mas a democracia. A exemplo de outros povos, os americanos são uma mistura de nobreza e mesquinharia, de elevadas aspirações e constante incapacidade de subir ao nível delas: a primeira grande república moderna e, durante mais de oitenta anos, uma república de escravos.
A busca da liberdade deve ser feita com humildade, e humildade requer moderação. Por isso os americanos não dão a resposta e a justificativa de tanta crueldade promovida pelo governo do Império do Medo diante dos países invadidos. Mas, tenho para mim , que o medo não pode ser considerado uma arma democrática apropriada contra o terrorismo. “Choque e horror” é um slogan que convém mais ao terrorismo; ao adotá-lo, a democracia corre o risco de negar sua essência liberal e se tornar uma ditadura disfarçada de república.
                                                                                                           
Aleksander Allen Nina Palitot
O autor é Historiador        

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