Surge a cidade.
Esse trecho é parte do hino de
Porto Velho, letra de C. Feitosa, hino que talvez poucos nascidos em Porto
Velho teriam conhecimento. Por isso, lembrar da instalação de administrativa de
nossa cidade é tão importante. São nessas datas que levamos os cidadãos de
Rondônia a conhecerem um pouco mais de nossa história, e assim refletir sobre a
história de nossos pioneiros.
Com a construção do Centro
Administrativo da empresa construtora da ferrovia no antigo Porto Velho
Militar, logo nas imediações os trabalhadores iniciaram a construção de suas
casas para o lado que dava para Santo Antônio. Em 1913 criava-se a Vila de
Porto Velho, e já no dia 2 de outubro de 1914 era publicada a lei número 757,
criando o município de Porto Velho. Com o decreto assinado pelo Dr. Jonathas
Pedrosa, governador do Estado do Amazonas, no dia 24 de janeiro de 1915,
instala-se solenemente, e era considerado município autônomo, sendo o seu
superintendente (prefeito) o Major do Exército Fernando Guapindáia de Souza
Brejense, e intendentes, e suplentes, José Jorge e Braga Vieira, Luziano
Barreto, Manoel Félix de Campos, Antônio Sampaio, José Camargo Achiles Reis,
Alderico Castilho, José Pontes e como secretário, Sr. Manoel Pires de Castro.
O NOME DA CIDADE
Refletindo sobre a história de
Porto Velho, iniciamos pelo nome de nossa cidade com trajetória histórica
ímpar, mas, que trás logo na origem do nome da mesma, uma controvérsia. Falo na
história lendária, para não dizer mitológica, do “velho Pimentel”, o tão falado
e lembrado velho do porto. Esta afirmação não têm qualquer sustentação
histórica, inclusive, alguns “historiadores” ainda comentem o absurdo de
afirmar que a figura do “Velho Pimentel” existiu, quando não temos nenhum
documento primário ou secundário, nenhum descendente do mesmo na nossa cidade.
Fato também, é imaginar que um senhor de presumíveis 70 anos, em plena floresta
Amazônica, teria condições físicas e com apenas um machado, derrubar árvores, e
produzir lenha para os navios a vapores do Madeira.
Devemos ressaltar, as cartas de Antônio
Rolim de Moura, que quando governador da Capitânia do Mato Grosso, descreve de
forma documental, que um escravo no Guaporé, teria média de vida de no máximo
10 anos, em virtude das condições de vida na Amazônia. Mas é verdade, que a
lenda do “velho do porto” pegou, e penso que devemos conviver com as duas
versões.
A versão oficial e devidamente
documentada relata, que quando se iniciou a Guerra do Paraguai em 1864, o
Presidente daquele país Solano López teria invadido o Mato Grosso. Numa
tentativa de se precaver a novas invasões, e manter contato fluvial com aquela
região, o nosso Imperador D. Pedro II, mandou construir um ponto militar
próximo onde hoje é o pátio da Estrada de Ferro Madeira Mamoré, e naturalmente,
que lá existia um porto improvisado, considerando que naquele momento histórico
só se chegava na região via fluvial. Quando a guerra se encerrou em 1870, o
porto aos poucos foi abandonado e não teria a devida manutenção.
Em 1872 se iniciou a construção de um
novo porto em Santo Antônio, para dar suporte a empresa Public Works, que
iniciava a construção da Estrada de Ferro Madeira Mamoré. Com o porto novo
concluído, era comum a referência ao antigo porto da Guerra do Paraguai, como
Porto Velho Militar ou Ponto Velho Militar, e assim teria se efetivado o nome
Porto Velho.
O governo de Guapindaia foi
marcado por uma série de desentendimentos com os administradores da Estrada de
Ferro Madeira Mamoré, pois a ferrovia gozava de isenção de impostos estaduais e
municipais, além de ser detentora de grandes porções de terras destinadas ao
uso da ferrovia.
Como anteriormente a palavra do
superintendente da Estrada de Ferro era lei, sendo que até a distribuição de
lotes para a construção era, no entender dos administradores da ferrovia, da
sua alçada, o major Guapindaia sentiu-se ferido em seus brios naturalmente
reagindo e tendo como resposta inicial o cancelamento “ do passe grátis” que
lhe fornecia a Madeira Mamoré, além de ser convidado a se retirar do prédio em
que se instalara a prefeitura (em frente ao Mercado Central), bem como da casa
onde morava e que pertencia à estrada de ferro.
Guapindaia continuou sua
investida contra os ferroviários, proibindo a retirada de dormentes e lenha dos
locais que ele julgava estar de fora dos limites concedidos à ferrovia. Tal
medida gerou revolta, não somente nos chefes ferroviários, mas também dos que
viviam de empreiteiras na extração de madeira, tendo os advogados da companhia
entrado com recursos e, ao mesmo tempo, pressionando o superintendente para uma
prestação de constas.
NOSSO MERCADO MUNICIPAL (Cultural)
Guapindaia Brejense não era homem dado a assuntos diplomáticos, e tão logo saía-se de um aperto, entrava em outro.
A Madeira-Mamoré não permitia
interferências na região que considerava sua, mesmo que fossem autoridades em
busca de contraventores da lei. Guapindaia baixou decretos regulando o código
de postura, inclusive proibindo a cobrança de imposto de desembarque, efetuado
pela ferrovia. Tudo isso, juntando-se aos casos anteriores, foi motivo de
ásperas trocas de insultos por parte do superintendente municipal e
ferroviários. Na época, um italiano teria construído um barracão, todo de
zinco, para diversões; o barracão foi interditado pela prefeitura; houve
interferência de patrícios, em Manaus, e a questão por haver um acordo, segundo
o qual a companhia ficava dona do barracão que, logo após, alugou a um
mercadeiro. O então Major não gostou da idéia e mandou demolir duas casas que
ficavam nas proximidades para, no local, construir o mercado municipal, onde
hoje se ergue o já antigo edifício Rio Madeira; em seguida, mandou fechar o
mercado da companhia. Tal medida, naturalmente, chegou a irritar ainda mais os
ferroviários.
O ALAMBRADO
A intendência aprovou lei autorizando o superintendente a dar nomes as ruas, sendo chamada de Avenida Divisória a que separava as terras da companhia das terras do município, que é a atual Av. Presidente Dutra, e nela os ferroviários construíram um alambrado separando as terras da Madeira-Mamoré. As outras ruas foram denominadas Sete de Setembro, Rio Branco, Floriano Peixoto e Pedro II, embora algumas fossem apenas caminhos tortuosos. Em 1919, Guapindaia tentou eleger-se prefeito de Porto Velho, porém, não era pessoa grata da Madeira-Mamoré e, embora fosse apoiado pelo Dr. Joaquim Tanajura, foi derrotado pelo Padre Dr. Raimundo Oliveira. O Governo de Guapindaia o primeiro de Porto Velho, foi de 24 de janeiro de 1915 a 31 de dezembro de 1916, quando foi empossado o Dr. Joaquim Tanajura, eleito para o triênio de 1917 a 1919.
PONTE SOBRE A FAVELA.
Ainda no governo municipal de
Guapindaia, teria surgido algumas residências, que posteriormente, seria
chamado de Mocambo. Os moradores daquele local, na época, encontravam muitas
dificuldades para chegar à cidade, pois que tinham de ficar descalços para
atravessar o riacho Favela, além de ter de escalar o valado escorregadio.
Guapindaia também construiu
alguns pontilhões, mas as enxurradas, muito frequentes na região,
arrancavam-nos tendo destruído a todos.
Em 1933, o Sr. Francisco Guedes
Lira Fonseca substituiu, na prefeitura, seu titular, Sr. José Ferreira Sobrinho
e deu início a ponte que haveria de ser inaugurada em 1937, quando Lira cumpria
mandato novamente.
A ponte com 42 metros de
comprimento por 4 metros de largura e 5 metros de altura, foi obra de grande
significado para os moradores da margem esquerda do Favela. Por isso mesmo, foi
inaugurada com a presença de grande número de autoridades, inclusive estaduais,
e a população em geral.
Depois de 1948, o prefeito Rui
Brasil Cantanhede, reconhecendo o significado da ponte para o desenvolvimento
da cidade, mandou construir no local da anterior ( que foi destruída em 1944),
em ferro e cimento, duas vias, conforme foram denominadas, sendo que a primeira,
sobre a Favela, recebeu o nome de Major Guapindáia (hoje Rogério Weber) ,
ligando o Centro da cidade ao Mocambo e,
mais à frente, ao sul, a segunda via – “ 29 de outubro” , sobre o igarapé das
Lavadeiras ligado, pela Prudente de Moraes, Centro com o bairro Areal.
Aleks Palitot
Historiador e Professor Mestre
Nenhum comentário:
Postar um comentário