Memorial Rondon em Mimoso no Mato Grosso - Foto: José Calixto |
Passa-se a entender mais o mito e
sua obra, quando se conhece o lugar do seu berço, do seu nascimento, ou seja,
seu lar. Rondon nasceu em um vilarejo chamado Mimoso no interior do estado do
Mato Grosso. Um lugar simples, de pessoas humildes e cativantes. Um ambiente de
paisagens cênicas , parte em pantanal, bioma do serrado e um pouco além de
serras.
Marechal Cândido Mariano da Silva Rondon. |
Mimoso é um distrito do município brasileiro de Santo Antônio de Leverger, no estado de Mato Grosso. De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), sua população no ano de 2010 era de 2 763 habitantes, sendo 1 511 homens e 1 252 mulheres, possuindo um total de 1 258 domicílios particulares.Foi criado pela lei estadual nº 1.178, de 17 de dezembro de 1958.
Expedição Roosevelt-Rondon em 1914 - Rio da Dúvida - Rondônia. |
Passamos a imaginar que ali
Rondon teve sua inspiração para desbravar o mundo e fincar nos anais a sua
história. Uma história que se confunde com a do Brasil e da Amazônia, com
facetas corajosas de um verdadeiro mito.
O empenho e a atuação do Marechal
Cândido Mariano da Silva Rondon, foi fundamental para revelar aos centros
“políticos e desenvolvidos” do Brasil uma natureza fantástica, localizada no
longínquo mundo amazônico do início do século XX, palco de outras inúmeras
aventuras e personagens que desafiaram as adversidades que a floresta impõe aos
invasores. Árvores gigantescas e retorcidas, rios, lagos, cachoeiras, animais,
mitos e lendas que descortinaram uma realidade cultural profunda com temperos,
aromas exóticos e sedutores quase completamente desconhecidos pelo povo
brasileiro. Enganam-se os que associam à Comissão Rondon somente a construção
de uma linha telegráfica entre Cuiabá, capital do Mato Grosso e Santo Antônio
das Cachoeiras, localidade até então inconveniente para ocupação humana.
Obelisco no exato local onde nasceu Rondon |
Alguns, ainda seduzidos por
pobres polêmicas, buscam diminuir a trajetória de Cândido Rondon focando sua
atuação como “matador de índios ou protetor dos índios”. Afirmaria, com toda
tranquilidade, que esse é o debate pobre e fútil sobre nosso maior personagem
que serve somente para ridicularizar quem o promove. Rondon liderou uma
expedição épica, inimaginável, composta por profissionais com grande
experiência e várias especialidades que desenvolveram estudos na área da
geologia, botânica, cartografia, hidrografia, topografia e geografia, além de
estudos sobre as nossas fronteiras, produzindo farto material sobre essa região
da Amazônia. A destemida expedição de Cândido Rondon deve, no mínimo, compor o
cenário das grandes expedições filosóficas e científicas que percorreram o
interior do Brasil e os rios amazônicos a partir do século XVIII. Condamine,
Alexandre Rodrigues Ferreira, os austríacos Spix e Martius, o barão de
Langsdorf, os ingleses Bates e Wallace, Dr. João Severiano da Fonseca e mais
recentemente Claude Lévi Strauss compõem parte dessa galeria de grandes
exploradores e pesquisadores.
Rondon foi muito além destes,
pois carregava a missão de integrar um território e suas gentes ao restante do
Brasil. Foi muito além das questões telegráficas e de fronteiras, dos estudos
dos três reinos naturais: a fauna, a flora e o mineral. Rondon foi além das
tentativas de integração dos povos que viviam em um mundo abandonado e
esquecido na escuridão das florestas chuvosas, quentes e úmidas. Ele levou e
representou os valores de uma pátria, carregou em si um Brasil inexistente na
maior parte de seus gestos o que havia de melhor em nosso país naquele momento.
É tarefa complicada para qualquer historiador encontrar um brasileiro com
tamanha envergadura, espírito cívico, disposição e coragem. Cândido Rondon não
se contentou em revelar ao mundo as “Terras de Rondônia” como afirmou Roquete
Pinto ou acompanhar o ex-presidente americano Roosevelt em sua expedição a
região do atual estado de Rondônia. Ele percorreu a maior parte do território
nacional em missões que somente os “homens gigantes” enfrentavam. Por isso, o
mesmo se destacou nacionalmente e internacionalmente por suas preocupações com
os povos indígenas, que sofriam constantes massacres sem a mínima atuação do Estado
em seu socorro. Como criador do Serviço de Proteção ao Índio – SPI em 1910,
instituição que se transformou em FUNAI em 1967, Fundação Nacional do Índio,
Rondon procurou atuar na proteção e defesa dos povos e culturas indígenas.
Cândido Rondon é indiscutivelmente o maior
sertanista brasileiro de toda nossa história, é esse o foco que deveríamos
investigar, pois sua atuação ainda ecoa sobre todos nós que moramos na porção
ocidental do Brasil. A maioria dos estudos feitos sobre nosso mais conhecido personagem
histórico nos informa sobre sua preocupação em preservar a cultura e as tribos
indígenas. Se houve conflitos,
precisamos lembrar que Rondon atuou em uma época onde a cultura existente
pregava uma lógica desenvolvimentista que elegia os povos indígenas como
inimigos ou empecilho ao desenvolvimento urbano e “civilizado” da época, um
período onde era comum crer na máxima: “índio bom é índio morto”. Rondon foi um
verdadeiro brasileiro, em suas veias o sangue índio era evidente, sua
brasilidade era enraizada ao tempero e ritmo de sua gente, é contra a lógica de
genocídio que ele atua e milita. Seu ideal é o de um militar das “grandes
causas humanitárias”. Em função dessa realidade, Rondon é um dos poucos
personagens “oficiais” da nossa história que realmente merece ser promovido ao
panteão de grande herói nacional.
Cena típica de Mimoso - Cavalos no cerrado e pantanal. Foto: José Calixto |
Cândido Mariano da Silva Rondon
teve sua origem humilde. Filho de um tratador de animais, descendendo de
espanhóis e índios terenas, de bandeirante, e bororos, agigantando-se em nossa
história, destacando-se como militar, pacificador, cientista, construtor de
estradas, de linhas telegráficas e inúmeros outros serviços prestados ao País.
Rondon constituiu-se um símbolo da vontade humana, norteado pela religião que
abraçou, baseada no amor à humanidade, tendo como seu lema: “morrer se preciso
for, matar nunca”. Nasceu Cândido Mariano da Silva Rondon a 5 de maio de 1865
na Sesmaria de Morro Redondo, nos Campos de Dourados, Estado do Mato Grosso,
filho de Cândido Mariano da Silva e de sua esposa Dona Claudina Evangelista.
Anos depois de seu nascimento acrescentou ao seu nome o sobrenome de seu tio e
padrinho, Manuel Rondon, com a devida autorização do Ministério da Guerra.
Marechal Rondon - Comissão em 1909 - Mato Grosso.
Graças a seu esforço e à sua capacidade nos
estudos, o jovem natural de Campos de Mimoso, aos sete anos foi conduzido pelo
tio a Cuiabá, iniciando seus estudos no Liceu Cuiabano e, já aos dezesseis
anos, conseguiu um lugar de Professor do Ensino Primário na mesma instituição
de ensino. Porém, seu espírito inquieto desejava maior dinâmica, o moço tinha
vontade de ingressar na carreira militar e eis que em 26 de novembro de 1881
integrou-se no 3° Regimento de Artilharia à Cavalo e logo a seguir passou a frequentar
a Escola Superior de Guerra, na Capital Federal. Figurou desde logo nos quadros
de honra da Escola e pelo seu valor, já como 2° Tenente foi convidado para
ministrar, na própria Escola, as cadeiras de Astronomia e Mecânica Racional. Rondon, a exemplo de uma lista imensa de
outros sertanistas, demonstrou incrível coragem e determinação ao atuar em
regiões tão inóspitas no interior do Brasil, deve ser citado ao lado de Antônio
Rolim de Moura Tavares, primeiro governante da Capitania do Mato Grosso. Domingos
Sambucet, Engenheiro que iniciou as obras do Real Forte Príncipe da Beira e
faleceu de malária. Ricardo Franco de Almeida Serra, Engenheiro que trabalhou
no Real Forte Príncipe da Beira após o falecimento de Sambucet. Francisco de
Melo Palheta, bandeirante que introduziu as primeiras mudas de café no Brasil e
percorreu o trajeto entre Belém do Pará e Vila Bela da Santíssima Trindade no
Mato Grosso em meados do século XVII. Luis de Albuquerque Melo Pereira e
Cáceres, quarto Governador da Capitania do Mato Grosso, foi na sua gestão que
se construiu o Forte Príncipe da Beira. Trabalhadores dos seringais e da
Estrada de Ferro Madeira-Mamoré. Francisco e Apoena Meireles, grandes
sertanistas e indigenistas. Entre os vários títulos e homenagens, Marechal Rondon
foi indicado ao Prêmio Nobel da Paz no ano de 1925. O propositor de tal
homenagem foi nada mais e nada menos que o maior físico da história da
humanidade, Albert Einstein. Mais tarde, na década de 50, foi indicado
apontado. Nos anos de 1892 e 1898 ajudou a construir as linhas telegráficas de
Mato Grosso a Goiás. Entre 1900 e 1906 dirigiu a construção de mais uma linha
telegráfica, ligando Cuiabá e Corumbá, alcançando as fronteiras do Paraguai e
Bolívia. No início do século XX encontrou as ruínas do Real Forte Príncipe da
Beira, uma das maiores relíquias históricas de Rondônia. Em 1907, no posto de
major do Corpo de Engenheiros Militares, foi nomeado chefe da comissão que
deveria construir a linha telegráfica amazônica, e que foi denominada “Comissão
das Linhas Estratégicas e Telegráficas de Mato Grosso ao Amazonas”, também
conhecida como Comissão Rondon”. Seus trabalhos desenvolveram-se de 1907 a
1915. Em 1910 organizou e passou a dirigir o Serviço de Proteção aos Índios
(SPI), criado em 7 de setembro de 1910. Em 12 de outubro de 1911 inaugurou a
estação telegráfica de Vilhena, na fronteira do estado do Mato Grosso e
Rondônia. Em 1914 participou da denominada Expedição Científica
Roosevelt-Rondon, junto com o ex-presidente dos Estados Unidos da América, Theodore
Roosevelt. Realizando novos estudos e descobertas na região. Durante o ano de
1914 a Comissão Rondon construiu em oito meses, 372 km de linhas e inauguraram
outras cinco estações: Pimenta Bueno, Presidente Hermes, Presidente Pena, Jaru
e Ariquemes. Em 15 de dezembro de 1914, foi feita a ligação dos fios da Seção
do Sul com os da Seção do Norte, nas imediações da futura Estação Presidente
Pena, atual município de Ji-Paraná e em sessão solene realizada na Câmara de
Vereadores de Santo Antônio do Madeira, a 1° de janeiro de 1915, comemorava-se
a inauguração da gigantesca missão que lhe fora conferida, na ligação dos fios
de Cuiabá àquela localidade, bem como o ramal de Guajará Mirim. Por tantos e inúmeros feitos, em 5 de maio de
1955, data de seu aniversário de 90 anos, recebeu o título de Marechal do
Exército Brasileiro concedido pelo Congresso Nacional. Homenageando o velho
Marechal, em 17 de fevereiro de 1956, o Território Federal do Guaporé teve seu
nome alterado para Território Federal de Rondônia. O grande líder e “cacique
branco” como era denominado por alguns índios, veio a falecer no Rio de
Janeiro, aos 92 anos, em 19 de janeiro de 1958.
Se a chegada da expedição
colombina às Antilhas, em 1492, contribuiu para ampliação do horizonte
geográfico e cultural dos europeus no final do século XV, uma vez que as terras
recém-descobertas tornaram-se uma gigantesca periferia do mundo, as várias
expedições conquistadoras, que trilharam o Novo Mundo ao longo do século XVI,
revelaram, por seu turno, que nesta imensa “margem do mundo”, havia outras
margens. Foi assim que, a partir das Antilhas, as regiões de terra firme do
continente americano foram sendo conquistadas. No primeiro momento, foi a
região mesoamericana, tendo a derrota da Confederação Asteca como seu principal
triunfo. No segundo, já a partir do que hoje é o Panamá, foi a vez dos Andes
Centrais, e como prêmio, o Império Inca. Nesse processo de conquista colonial
que a região amazônica tornou-se uma das margens do Novo Mundo, nada um vasto desconhecido. Porém, um vasto
desconhecido que, ao contrário do que ocorreu com o Vale Mexicano ou com os
Andes Centrais – “margens” que se tornaram “centros” do mundo colonial -,
continuou nessa condição, vindo até os dias de hoje. Sendo uma das “margens” –
limites – do Novo Mundo, a Amazônia, como região ainda bastante desconhecida
pelos europeus, tornou-se, ao lado de outras “margens americanas”, um alimento
para imaginação coletiva. Em suma: à medida que a conquista europeia
prosseguia, o empirismo do devassamento era acompanhado por expectativas e
projeções oriundas de um universo mental carregado de componentes de longa
duração e outros simbolismos. Desejos da conquista e colonização são escravos
das canoas, e estas dos rios. Pelas estradas naturais da Amazônia seguiram
bandeirantes, índios, missões, moções, entradas, sertanistas e quilombolas. Os
sertões são transformados em paisagens movediças. Estão em todos os lugares.
Ressurgem ou desaparecem. Tantos lugares de passagem das narrativas que
enfatizam a dominação como portos seguros para quem procura proteção. Mapas e
desenhos consolidam a dominação. Cenários ocultam e ao mesmo tempo desvelam os
sertões. Diante de muitas incertezas e obscuridade sobre a região Amazônica em
Rondônia, o presidente da República Afonso Pena, incumbiu um homem, que trazia
consigo o espírito dos povos indígenas, o respeito pela floresta dos
quilombolas, e a coragem e determinação bandeirantes e exploradores, estes
personagens do passado, Mas, que se faziam presente em atitudes positivas no
que tange ao percurso doloroso que Rondon travou em meio ao vasto desconhecido,
trazendo após anos de trabalho, um pouco da floresta ao povo brasileiro, que
ainda era povoado por lendas, mistérios e vazios científicos. Marechal Rondon,
foi em seu tempo o homem certo, para uma missão incerta. O militar aguerrido,
que evita a guerra contra índios. O positivista convicto em busca da Ordem e do
Progresso.
Em 1907, o oficial do corpo de
engenharia militar, Cândido Mariano da Silva Rondon foi encarregado pelo
governo federal de implantar a linha telegráfica entre Mato Grosso e Amazonas
(atualmente parte de Rondônia), tendo como extremos a cidade de Cuiabá e Santo
Antônio do Rio Madeira, povoado que se localizava a 7 km acima da atual capital
de Rondônia.
E por ele, que nosso ESTADO ganha
o seu nome, é por sua história também, que seremos lembrados com a forja dos
destemidos pioneiros. Que possamos perpetuar para todo o sempre para as
gerações dos Rondonienses e Rondonianos parte de nossa identidade.
Aleks Palitot
Professor e Historiador
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