Os primeiros habitantes
As incursões exploratórias pela
Amazônia, a partir do século 16 não ocorreram sem conflitos. “As expedições de
Orellana e Aguirre foram atacadas por flotilhas de centenas de canoas e seus
desembarques sofreram oposição de hordas de guerreiros”, escreve John Hemming
no livro Ouro Vermelho: A Conquista dos Índios Brasileiros (Edusp, 2008).
“Décadas de anarquia se seguiram à chegada dos portugueses no início do século
17 … Durante quase cada ano do século, de 1620 a 1720, houve expedições de
escravização, oficiais e não-oficiais, que subiram o Amazonas e seus
tributários acessíveis. Uma média de talvez mil a dois mil índios era
encaminhada anualmente para os mercados de escravos de Belém e São Luís do
Maranhão, totalizando de cem mil a duzentos mil indivíduos durante o século”. A
estimativa citada pelo autor, referente à região amazônica como um todo,
impressiona. E ela considera apenas aos primeiros cem anos de contato com os
colonizadores, além de não contar os mortos por combates e pela disseminação de
doenças.
A expedição de Pedro Teixeira, em 1637, é a primeira a mencionar nativos (os Tupinambá e os Tapajós) em territórios próximos ao Madeira. “Até meados do século 17, tudo indica que a região sofreu um processo de expansão dos Tapajós e Tupinambá, tendo como consequência o contato, a vassalagem, escravidão e movimentação dos grupos localizados na área em questão. Porém também registra-se uma rápida retração desses dois grupos como resultado do intenso contato com o branco”, explica Miguel A. Menéndez no capítulo A Área Madeira-Tapajós – Situação de Contato e Relações entre Colonizador e Indígenas, integrante do volume História dos Índios no Brasil (Companhia das Letras, Secretaria Municipal de Cultura e FAPESP) e acessível pelo site (http://www.etnolinguistica.org/hist:p281-296). Segundo o autor, “o espaço deixado por esses grupos passa a ser rapidamente ocupado e registra-se o aparecimento de novos grupos, a que se refere a maior parte das informações do século seguinte”.
Os próximos dados disponíveis já provêm de missionários religiosos, encarregados pela Coroa de ocupar o vale como consequência da viagem de Raposo Tavares, que partiu de São Paulo, em 1647, e chegou a Belém, em 1651, depois de percorrer o Madeira em toda a sua extensão, revelando sua importância estratégica. Reunidas pelo Padre João Felipe Bettendorf, as informações se baseiam em relatos de jesuítas presentes na região desde 1683 e relacionam a presença dos Iruri, Paraparixana, Aripuanã, Onicor e Toreri.
São muitos os povos encontrados
pelos missionários e expedicionários portugueses na região do Madeira nas
proximidades do que no futuro será o município de Porto Velho, ao longo do
século 18. No entanto, precisar onde viveu cada um deles continua sendo objeto
de estudo, pois essas comunidades se deslocavam muito e os nomes que aparecem
nos registros podem variar de acordo com o entendimento do escriba. O processo
de catequese não ajudou a esclarecer a questão, pois olhava os indígenas de
forma genérica, sem se preocupar com a identidade de cada povo. Tampouco a
política implantada pelo Marquês de Pombal, a partir de 1757, se importava com
isso: embora tenha abolido a escravidão indígena, visou transformar os nativos
em colonos para consolidar a ocupação da Amazônia, algo que não condizia com a
cultura nem com o modo de vida desses povos – que ficaram proibidos de falar
suas línguas. Uma boa tentativa de localizar esses povos no espaço e no tempo
está no trabalho Um Quadro Histórico das Populações Indígenas no Alto Rio
Madeira Durante do Século XVIII, de Cliverson Gilvan Pessoa da Silva e
Angislaine Freitas Costa, acessível no site
(http://www.periodicos.ufpa.br/index.php/amazonica/article/view/1751).
Com base em diferentes relatos
sobre as populações indígenas ao longo do século 18, que permitiram observar
suas localizações e dinâmicas migratórias ou expansionistas, a dupla elaborou
um mapa com todos os grupos citados pelas fontes setecentistas, com suas
respectivas localizações e ano de registro.
ALEKS PALITOT
Historiador
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