Se no Brasil a conquista do Acre constitui um verdadeiro
romance de aventura, com seus heróis e vitórias, para a Bolívia a perda do
território é parte de uma história marcada por tragédias e derrotas. Nas terras
altas e frias montanhas dos Andes, onde se localizava a maior parte da
população boliviana, o colonizador arrancou toneladas de prata, durante mais de
trezentos anos. Foi a última região do continente a expulsar, em 1825, os
espanhóis, que deixaram para trás um novo país empobrecido e dividido. Crises
econômicas, como a provocada pela queda dos preços da prata em 1871 e 1895, ajudaram
a enfraquecer ainda mais a economia do país. Grandes áreas do território
estavam pouco povoadas e sem controle do Estado boliviano, entre estas as
distantes regiões amazônicas.
O esforço boliviano foi, de todo modo, gigantesco.
Para combater Galvez, o próprio Pando, junto com os chefes militares Ismael
Montes e Lucio Pérez Velasco, dirigiu-se à região. As expedições militares
demoravam cerca de três meses para atravessar rios e selvas até o Acre. Ao
contrário do lado brasileiro, que utilizava os rios para chegar à zona de
conflito, do lado boliviano não havia caminhos de acesso. Os combates se
sucederam ao longo de três anos. As várias expedições bolivianas reuniram mais
de 2 mil soldados neste período, enquanto os seringalistas brasileiros
mobilizaram cerca de 4 mil homens.
O governo boliviano concluiu que apenas postos
fronteiriços e expedições militares esporádicas não assegurariam os seus
territórios, e decidiu transferir a uma multinacional a exploração da borracha
na região, como forma de garantir impostos. É então formada a empresa Bolivian
Syndicate Co., constituída por capitais ingleses e norte-americanos, que
arrendou o Acre por dez anos. A empresa, prevendo conflitos, preparou uma forca
policial com o objetivo de tomar posse dos territórios ocupados. Os
seringalistas e comerciantes brasileiros trataram de agir rápido, para não dar
tempo à empresa de se instalar. No dia 6 de agosto de 1902, organizaram mais
uma insurreição. José Plácido de Castro (1873-1908), um jovem e combativo
militar gaúcho que caíra em desgraça no go- verno Floriano Peixoto (1891-1894) e se fixara em
Manaus, é escolhido para chefiar o movimento. Ele se põe à frente de um
exército mercenário de seringueiros, que inicialmente toma o povoado de Xapuri,
prendendo os funcionários e militares bolivianos.
Os bolivianos gastam os poucos recursos disponíveis
para defender e assegurar seu território. No final de 1902, uma nova expedição
militar, com 321soldados, comandada pelo ministro do Exército, Ismael Montes, é
despachada para o Acre e facilmente derrotada. Em fevereiro de 1903, os
seringueiros tomam Puerto Alonso e prendem o governador boliviano, Juan de Dios
Barrientos. Novamente é proclamado o Estado Independente do Acre. Plácido de
Castro organiza o governo, sob sua direção, com sede em Puerto Alonso.
A multiplicação de incidentes na região chamou a
atenção do governo federal, no Rio de Janeiro, obrigando-o a mudar sua posição.
Certamente incomodava ao governo central a presença de um território rebelde e
fora de qualquer controle, na despovoada e longínqua fronteira amazônica do
país. Para apaziguar a região e intimidar os bolivianos, foi mobilizada uma bem
aparelhada força militar, sob o comando de Olímpio da Silveira, general que
anos antes contribuíra para massacrar a rebelião de Canudos, no Nordeste brasileiro.
O recém proclamado Estado Independente do Acre foi então ocupado por tropas
brasileiras.